Ébola: OMS vai publicar roteiro mundial visando estancar a doença em nove meses
29 de Agosto de 2014
A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou ontem que vai publicar um roteiro mundial do vírus Ébola, que assola a África Ocidental, visando dar resposta internacional, dentro de nove meses, à doença que já matou 1.552 pessoas.
O itinerário «servirá como um quadro para a atualização dos planos operacionais detalhados», refere um comunicado divulgado na página da Internet daquela agência das Nações Unidas.
De acordo com a OMS, o roteiro resulta dos comentários recebidos de um grande número de parceiros, incluindo autoridades de saúde dos quatro países afetados – Guiné-Conacri, Libéria, Serra Leoa e Nigéria -, a União Africana, bancos de desenvolvimento, outras agências da ONU, Médicos Sem Fronteiras (MSF) e países que forneceram apoio financeiro direto para estancar a doença.
A prioridade da OMS será dada às necessidades de tratamento e centros de gestão, bem como ao trabalho de mobilização social e enterros seguros das vítimas da doença, destacou a nota, citada pela “Lusa”.
O mapeamento irá apresentar dados epidemiológicos das zonas afetadas, especialmente as que requerem que haja uma coordenação internacional dos parceiros para o fornecimento de equipamentos de proteção individual, desinfetantes e sacos para cadáveres, assinalou o comunicado.
Com esta iniciativa, a OMS espera «interromper a transmissão do Ébola em curso em todo o mundo dentro de seis a nove meses» e que, paralelamente, vai avaliar o impacto socioeconómico da pandemia.
De acordo com o último balanço, concluído na terça-feira e hoje publicado pela OMS, pelo menos 1.552 pessoas morreram vítimas do vírus Ébola, num universo de 3.069 casos diagnosticados em quatro países da África ocidental.
Estados Unidos iniciam testes de vacina experimental na próxima semana
Os Estados Unidos vão iniciar, em setembro, ensaios clínicos de uma vacina experimental contra o vírus do Ébola, que assola quatro países da África Ocidental, anunciou ontem o Instituto Americano da Saúde (NIH, sigla em ingês).
Os testes, que arrancam em setembro com 40 voluntários saudáveis no Reino Unido, Gâmbia e Mali, e que deverão estar concluídos no final deste ano, inserem-se no quadro de um projeto levado a cabo por um consórcio internacional financiado pela Associação britânica Wellcome Trust.
A epidemia é «uma emergência de saúde pública», pelo que «uma vacina segura e eficaz seria uma importante ferramenta complementar para a prevenção da infeção», disse o diretor do Instituto Americano de Alergias e Doenças Infeciosas, pertencente ao NIH, Anthony Fauci.
A comunidade científica ainda não descobriu medicamento ou vacina para o Ébola.
O estudo clínico a ser realizado próxima semana no NIH, em Bethesda, Maryland, perto da capital Washington vai incluir três primeiros voluntários, mas, no total, 20 adultos com idade entre 20 e 50 anos serão recrutados nos Estados Unidos.
Já no Reino Unido, uma equipa de pesquisadores de Oxford vai trabalhar com 60 voluntários saudáveis, disse Anthony Fauci.
Em comunicado divulgado ontem, a organização britânica considerou que «a concessão de 2,8 milhões de libras (3, 5 milhões de euros) permitirá que uma equipe liderada pelo professor Adrian Hill, do Instituto Jenner na Universidade de Oxford, comece a testar a vacina em paralelo com testes similares» nos Estados Unidos.
O financiamento concedido pelo Wellcome Trust, organismo pertencente ao Conselho de Pesquisa Médica e do Departamento Britânico para o Desenvolvimento Internacional (DFID), também vai permitir o fabrico de 10 mil doses adicionais de vacina, refere a mesma nota.
«Se os testes forem bem-sucedidos, os stocks de vacinas poderia ser assim imediatamente disponibilizados à OMS», assegurou a Wellcome Trust.
Recentemente, o Centro de Controle e Prevenção (CDC), dos Estados Unidos, iniciou discussões com o Ministério da Saúde da Nigéria para realizar um estudo clínico de fase 1 em voluntários saudáveis naquele país.
Na semana passada, uma equipa de investigadores canadianos garantiu ter salvado macacos infetados com o vírus de Marburgo, após três dias de medicação contra a febre hemorrágica que é relacionada com o vírus do Ébola, segundo a revista Science Transnational Medicine.
Ministro da Saúde angolano apela a “tolerância zero” dos profissionais
O ministro da Saúde angolano, José Van-Dúnem, apelou ontem aos profissionais do setor para adotarem uma política de “tolerância zero” de erros, envolvendo as medidas preventivas à propagação do vírus do Ébola.
«Temos que pensar: tolerância zero com o erro», enfatizou o ministro durante uma conferência, em Luanda, que envolveu várias dezenas de profissionais de saúde da província capital.
Em causa estão apelos feitos por técnicos da Saúde, durante o mesmo encontro, para a adoção de medidas de prevenção por parte destes profissionais, face à possibilidade de alastramento da epidemia do Ébola a Angola e tendo em conta a elevada taxa de mortalidade neste grupo.
Entre as medidas invocadas por José Van-Dúnem está a «necessidade de existirem equipamentos de proteção individual» em todas as unidades médicas, «para todos os profissionais e a todo o tempo», bem como a realização de turnos de trabalho mais curtos.
«Substituir, de quatro em quatro horas [os profissionais de saúde], porque depois [desse tempo] perdem-se os automatismos e cometem-se erros evitáveis», insistiu o ministro, reforçado o apelo para a adoção de medidas de autoproteção e isolamento, em casos suspeitos, nos hospitais.
Angola passou a integrar o grupo de países com risco «moderado a alto» de infeção por Ébola, depois de casos confirmados na República Democrática do Congo (RDC), disse na segunda-feira à “Lusa” a Diretora Nacional de Saúde Pública.
«Até há uma semana, Angola era considerada como um país de baixo-médio risco. Neste momento entra para o grupo de países com risco moderado a alto, porque tem um país vizinho com a epidemia confirmada», explicou Adelaide de Carvalho, referindo-se à classificação internacional sobre a propagação da doença.
As autoridades sanitárias angolanas afirmam que o país não conta com qualquer caso suspeito e estão a «redobrar» e a «acelerar» a mobilização de equipas para o controlo, alerta e vigilância sanitária, nomeadamente nos postos de fronteira a norte.
De acordo com o Executivo, a forte movimentação de pessoas com a RDC – Angola, através de sete províncias, partilha uma vasta fronteira terrestre com aquele país – já obrigou à adoção de «medidas preventivas». Nomeadamente ao nível da vigilância das fronteiras, com agentes de segurança e militares munidos de elementos de biossegurança.