Ébola: Organização Mundial de Saúde declara Nigéria livre do vírus 684

Ébola: Organização Mundial de Saúde declara Nigéria livre do vírus

20 de outubro de 2014

A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou hoje oficialmente a Nigéria livre de Ébola, após 42 dias – ou dois períodos de incubação – sem qualquer novo caso confirmado do vírus mortal, noticiou a “Lusa”.

«O vírus desapareceu por agora. O surto na Nigéria foi derrotado. Esta é uma história de sucesso que mostra ao mundo que o Ébola pode ser contido», disse o representante da OMS no país, Rui Gama Vaz, em Abuja.

A chegada do vírus Ébola à Nigéria, a mais populosa nação africana, a principal economia e o maior produtor de petróleo, provocou receios da sua rápida disseminação pelo país de 170 milhões de pessoas.

Mas este cenário não se registou e especialistas de saúde envolvidos no combate ao surto da febre hemorrágica elogiaram as autoridades pela sua resposta rápida e rastreio alargado.

No total, morreram oito pessoas de 20 casos confirmados na maior cidade da Nigéria, Lagos, e no centro petrolífero de Port Harcourt, tendo sido monitorizadas cerca de 900 pessoas para se detetar eventuais sintomas da doença.

A declaração oficial da OMS de país livre da doença relativamente à Nigéria surge depois de o estatuto ter sido dado ao Senegal na sexta-feira.

Ambos os países estão sob escrutínio de especialistas em saúde pública que tentam conter a propagação da doença em todo o mundo.

Além de um seguimento dos que poderiam ter tido contacto com os doentes, a Nigéria introduziu inspeções de rastreio médico rigoroso em todos os aeroportos e portos para chegadas e partidas.

Vários países analisam o melhor momento para obter soro de enfermeira espanhola

Vários países já estão a estudar qual é o melhor momento para obter o soro da auxiliar de enfermagem espanhola Teresa Romero, infetada com o vírus do Ébola e que deu negativa na primeira prova realizada no fim de semana.

A paciente deverá realizar nas próximas 48 horas um segundo teste que, se for negativo, confirmaria que o seu corpo criou anticorpos e conseguiu erradicar o vírus do Ébola, pelo que soro do seu plasma poderia ser útil para tratar outros infetados.

Luis Enjuanes, professor de Investigação do Conselho Superior de Investigações – e membro do comité especial do Governo espanhol para a crise do Ébola – explicou hoje esse processo numa entrevista à televisão espanhola “Antena 3”.

«Está a ser determinado em vários países quando é o momento ótimo para obter o soro, já que estes soros vão melhorando com o tempo, uma vez que aumenta a atividade contra o vírus e a sua capacidade neutralizante», afirmou.

O soro de sobreviventes do vírus do Ébola tem sido usado no tratamento de Teresa Romero, algo que segundo Fernando Simón, diretor do Centro de Alertas e Emergências do Ministério de Saúde, é o que tem registado mais êxito.

«Há várias drogas experimentais. Fala-se muito do Zmapp, mas as drogas experimentais não mostraram, até agora, qualquer eficácia constatável porque é difícil poder avaliá-la na forma em que se administra e, segundo, porque a única coisa que parece estar a ter algum efeito é o soro de um convalescente», explicou.

Enjuanes referiu ainda que o estado de saúde da auxiliar de enfermagem continua a melhorar e que o edema pulmonar de que sofre está a reduzir-se «muito rapidamente».

A enfermeira ficou infetada depois de tratar um dos missionários espanhóis transferidos de África com a doença e que acabaram por morrer em Madrid.

Quando o segundo teste for realizado, poder-se-á verificar que Teresa Romero está livre do vírus, caso se mantenha o resultado negativo.

Caso isso ocorra, este surto em Espanha terá terminado, num momento em que passam 21 dias sem que nenhum dos envolvidos no tratamento de Teresa Romero tenha manifestado qualquer sintoma.

Continuam também assintomáticos os outros 15 hospitalizados sob observação, estando à espera da segunda prova (depois de uma primeira negativa) duas outras pessoas.
 
Libéria volta a pedir ajuda urgente à comunidade internacional

A Libéria voltou a pedir hoje à comunidade internacional ajuda urgente para lutar contra a epidemia de Ébola, assinalando a facilidade com que a doença se pode propagar, avançou a “Lusa”.

«Esta doença matou gente mais rapidamente que a guerra civil na Libéria», afirmou Ethel Davis, embaixadora liberiana na Alemanha, na cimeira mundial de saúde a decorrer desde domingo e até quarta-feira em Berlim, com representantes de 90 países.

Davis adiantou que a Libéria, um dos países mais afetados pelo Ébola, tal como a Guiné-Conacri e a Serra Leoa, não é capaz de travar a epidemia sem ajuda internacional.

«Não se deve pensar que os países afetados estão longe e que por isso estamos a salvo da doença», sublinhou a embaixadora, adiantando que a distância ao Ébola é a de uma viagem de autocarro ou de avião.

A Presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, lembrou no domingo que a epidemia provocada pelo vírus Ébola «não conhece fronteiras» e que a luta contra a doença na África ocidental precisa da participação de todos os países.

Considerando que, num primeiro momento, a reação internacional foi «incoerente e com falta de coordenação», Ellen Johnson Sirleaf insistiu que os milhões de habitantes da África Ocidental não podem ser deixados sozinhos contra um «inimigo que não conhecem e contra o qual têm poucos meios para se defenderem».
 
Surto custa 32 mil milhões de dólares à África Ocidental

O surto de Ébola na Libéria, Serra Leoa e Guiné-Conacri pode custar mais de 32 mil milhões de dólares e tirar 3,3% ao PIB da África Ocidental se a epidemia não for rapidamente controlada, segundo a Moody’s.

De acordo com uma nota aos investidores, a que a “Lusa” teve hoje acesso, a agência de notação financeira norte-americana considerou que «a África Ocidental como um todo pode perder até 32,6 mil milhões de dólares [25,5 milhões de euros] no final de 2015 se a epidemia não for rapidamente controlada, num cenário que prevê a contaminação aos países vizinhos».

Para a Moody’s, que citou o relatório do Banco Mundial sobre este tema, «isto significa que o PIB combinado de todos os países da África Ocidental – incluindo, entre outros, as muito maiores economias da Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Senegal – seria 3,3% menor do que se não houvesse efeitos relacionados com o Ébola nas suas fronteiras, no que diz respeito ao comércio, turismo e confiança dos consumidores e empresas».

Segundo a Organização Mundial de Saúde, o Ébola já infetou 9.216 pessoas, tendo resultado em 4.555 mortes, principalmente na Guiné-Conacri, Serra Leoa e Libéria, prevendo que o contágio possa chegar às 10 mil pessoas por semana na África Ocidental, em dezembro.

«Os custos humanos e económicos no combate à trágica doença já fazem antever uma legado longo e negativo no futuro do crescimento económico da África Ocidental, uma vez que as medidas de poupança obrigam à suspensão dos projetos de educação e desenvolvimento», sublinhou a Moody’s.

A agência exemplificou com as declarações do ministro das Finanças da Serra Leoa em Washington, na semana passada, segundo as quais o país «não tinha outra escolha» senão suspender alguns projetos e reduzir o orçamento da maioria dos ministérios em 23% para acomodar o crescimento previsto do défice em 2015.

Os três países mais afetados pelo Ébola sofrem mais do que o resto da região, escreveu a Moody’s, especificando que no cenário de contenção rápida, o Banco Mundial estimou que o surto custe 163 milhões de dólares (3,3% do PIB) à Serra Leoa este ano, mas o efeito negativo pode chegar aos 8,9% do PIB no próximo ano se o cenário usado for o da contenção lenta da doença.

Na Libéria, o Banco Mundial referiu que no pior cenário as estimativas de perda chegam aos 234 milhões de dólares (12%) do PIB, e 142 milhões na Guiné-Conacri (2,3% do PIB) como resultado do aumento das despesas de Saúde e descida na produtividade, resultante do fecho de aeroportos e estradas e no abandono dos campos pelos agricultores.

Os países da África Ocidental são Benim, Burkina Faso, Cabo Verde, Costa do Marfim, Gâmbia, Gana, Guiné-Conacri, Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Mauritânia, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e Togo.