Ébola: Portugal está «bem preparado» para enfrentar casos, garante ministro da Saúde 08 de outubro de 2014 O ministro da Saúde, Paulo Macedo, considerou ontem que Portugal está «bem preparado» para enfrentar casos suspeitos de Ébola e anunciou que Ministério vai divulgar novos procedimentos para os hospitais. Numa entrevista ontem à noite ao telejornal da “SIC”, citada pela “Lusa”, Paulo Macedo disse que os hospitais portugueses vão receber, na quarta-feira, novas informações sobre como lidar com casos suspeitos de Ébola. O governante acrescentou que a Direção-Geral de Saúde (DGS) vai divulgar novas instruções sobre os procedimentos caso cheguem aos hospitais doentes com suspeitas de estarem infetados com Ébola e sobre como estes doentes deve ser separados dos demais. O ministro considerou que o risco de o Ébola chegar a Portugal é baixo, ainda que não seja nulo, razão pela qual defendeu ser necessário que haja mais informação para quem viaja do estrangeiro. Para o titular da pasta da Saúde, «Portugal está bem preparado» para enfrentar casos suspeitos da doença, mas precisa de se atualizar. Paulo Macedo disse ainda que a linha de Saúde 24 é a melhor forma de fazer face às suspeitas dos portugueses sobre casos de Ébola. Portugal tem Equipamentos de Proteção Individual suficientes – INSA O presidente do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) garantiu ontem que Portugal dispõe da «quantidade suficiente» de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) para os profissionais de saúde usarem no combate ao Ébola. Em declarações à agência “Lusa”, Fernando Almeida disse que o instituto a que preside – e que faz parte da comissão de acompanhamento, juntamente com a Direção Geral de Saúde e o Instituto Nacional de Emergência Médica, assim como os hospitais de referência – dispõe de equipamentos específicos, com os quais os profissionais trabalham em meio laboratorial. Isto porque é neste instituto que são realizadas as análises ao vírus do Ébola, assim como a outros agentes com a mesma perigosidade. Até ao momento, e segundo Fernando Almeida, foram realizadas análises a quatro casos suspeitos de Ébola em Portugal, tendo todos eles obtido resultado negativo. Em relação aos EPI para os profissionais de saúde que trabalhem em casos de doença por este vírus – que já matou mais de 3.000 pessoas na África ocidental – o presidente do INSA assegurou que existem os equipamentos suficientes nos hospitais de referência, bem como em outros que venham a necessitar deste material. Em Lisboa, os hospitais de referência são o Curry Cabral e o Dona Estefânia, para as crianças, e, no Porto, o de São João. Fernando Almeida referiu que a comissão de acompanhamento está em permanente atualização da informação, e que a Direção Geral da Saúde, que preside a este grupo, irá emitir as orientações necessárias, consoante o conhecimento científico vá avançando. «A DGS faz, a todo e qualquer momento, atualizações do que está escrito, de acordo com o que é emitido pela Organização Mundial da Saúde e de outras redes», adiantou. Segundo uma orientação que a DGS, emitida em abril deste ano, «é fundamental garantir a proteção dos profissionais de saúde com equipamentos de proteção individual específicos, de barreira, descartáveis e impermeáveis». A proteção respiratória com máscara deve também ser sempre cumprida e todos os equipamentos clínicos utilizados, como termómetros, deverão ter uma proteção descartável e ser de uso exclusivo do doente. Nessa orientação, a DGS especifica os procedimentos para colocar ou remover os EPI, aconselhando sempre que possível a que a remoção seja feita sob a supervisão de outro profissional. Ontem, a DGS emitiu um comunicado, indicando que está a analisar os EPI que devem ser usados pelos profissionais, bem como o contexto da sua utilização. Esta análise da DGS acontece depois de, na segunda-feira, ter sido confirmado que uma auxiliar de enfermagem espanhola foi contagiada com o vírus do Ébola, naquele que é o primeiro caso de contágio na Europa e fora de África. Desconhece-se de que forma se deu o contágio, mas a imprensa espanhola tem indicado que o protocolo seguido, assim como a proteção usada pela profissional, possam não ter sido os mais adequados. Cinco erros em cadeia podem ter permitido contágio de auxiliar de enfermagem O jornal “ABC” refere na sua edição de hoje que o contágio da auxiliar de enfermagem pode ter ocorrido quando a mulher tocou na cara depois de passar com a mão no seu uniforme. Poderá igualmente não ter sido seguida a diretriz que define que a necessidade de haver sempre uma pessoa a observar quando qualquer funcionário de saúde sai do quarto do paciente. Fontes citadas pelo jornal referem ainda a insuficiente formação como outro dos erros cometidos no âmbito deste caso, já que os funcionários médicos apenas receberam uma palestra informativa de 20 minutos, sem nunca terem realizado qualquer simulacro. Outros erros terão sido cometidos posteriormente com a auxiliar de enfermagem Maria Teresa Romero, de 44 anos, que terá, por três vezes, ido a centros médicos – com febre – sem que lhe tenha sido realizada qualquer exame de saúde para deteção da doença. A funcionária fez vida normal nos seis dias depois da morte do missionário espanhol com Ébola, com quem esteve em contacto pelo menos duas vezes, chegando mesmo a realizar um exame de admissão público. O jornal refere ainda que a ambulância que transportou a auxiliar de enfermagem de casa para o hospital de Alcorcon na segunda-feira continua a trabalhar sem que se tenham ainda sido adotadas medidas preventivas ou de isolamento. Esta cadeia de erros, alguns dos quais nos procedimentos e protocolos, é um dos motivos de maior queixa dos funcionários do setor da Saúde madrilena, que hoje convocaram uma concentração de protesto no Hospital Carlos III. Fontes médicas referem que a mulher contagiada continua a receber tratamento experimental naquela unidade hospitalar, nomeadamente soro híper-imune procedente da religiosa Paciência Melgar, que sobreviveu à doença em agosto. Esse soro já lhe foi aplicado pelo menos duas vezes e fontes hospitalares explicaram que se registaram melhorias ligeiras no estado de saúde da mulher. Uma outra pessoa foi admitida na noite de terça-feira no hospital Carlos III de Madrid, após a descoberta na segunda-feira, em Espanha, deste primeiro caso de contágio com o Ébola fora de África. Trata-se de uma enfermeira que esteve em contacto com a auxiliar de enfermagem infetada pelo vírus e que foi admitida por precaução, com sintomas de febre muito ligeira. No hospital Carlos III estão ainda isolados o marido da auxiliar de enfermagem, considerado «de alto risco» devido à sua proximidade à paciente, um homem que viajou para o estrangeiro e uma outra auxiliar de enfermagem que já teve um teste negativo. Cerca de 50 pessoas que poderão ter estado em contacto com os doentes com sintomas mais graves já estão sob vigilância e foi iniciado um inquérito para identificar todos os habitantes da região que possam ter sido expostos, pelo facto de a auxiliar de enfermagem ter apresentado sintomas a partir de 30 de setembro e apenas ter sido hospitalizada na segunda-feira. As autoridades sanitárias de Madrid querem abater o cão do casal e mantêm vigilância restrita no apartamento onde vivem, devendo hoje proceder a uma desinfeção das zonas comuns. UE dá ajuda de 4 milhões de euros a países infetados pelo vírus A União Europeia (UE) concedeu uma ajuda de quatro milhões de euros a favor dos países da África Ocidental afetados pelo surto de Ébola, informou ontem a Comissão Europeia (CE). O dinheiro destina-se a operações para a ajuda de transporte aéreo, tanto de material sanitário, como para a retirada de pessoal internacional da Libéria, Guiné e Serra Leoa, os três países mais afetados pelo vírus, informou ontem o executivo comunitário, em comunicado. Um quarto da verba destina-se ao Fundo da ONU para a Infância (Unicef) e permitirá que três aviões de carga Boeing 747 transportem material sanitário para aqueles três países. O material inclui máscaras e luvas para a proteção do pessoal sanitário, assim como medicamentos essenciais e material higiénico Os restantes três milhões de euros destinam-se à retirada do pessoal estrangeiro que se encontre a trabalhar na África Ocidental e a quem tenha sido diagnosticado com o vírus Ébola. Este novo plano de evacuação permitirá, segundo a CE, que o pessoal sanitário possa voltar à Europa em menos de 48 horas e ser hospitalizado em centros preparados para combater o vírus. «Estamos numa corrida contra-relógio para lutar contra o Ébola», disse a comissária europeia da Cooperação Internacional, Ajuda Humanitária e Resposta às Crises, Kristalina Georgieva. A Comunidade Europeia comprometeu-se, até agora, com cerca de 180 milhões de euros para ajudar os países mais afectado. O financiamento é crucial, mas não é suficiente, acrescentou. Por isso, vincou, a CE, juntamente com os Estados-membros mobilizou-se para ajudar ao transporte de pessoal. A iniciativa integra os perto de 30 milhões em ajuda humanitária que o presidente da Comunidade Europeia, José Manuel Durão Barroso, anunciou no mês passado. O surto de Ébola já matou 3.439 pessoas em 7.492 casos conhecidos da doença em países da África Ocidental, sobretudo na Guiné-Conacri, LIbéria, Serra Leoa e no Gana. Os Estados Unidos vão anunciar medidas mais apertadas de controlo sobre viajantes internacionais para impedir o Ébola de se espalhar no país, segundo a “Lusa”. Desde que foi detetado o primeiro caso de Ébola nos Estados Unidos, há uma semana – um homem liberiano que chegou ao Texas no dia 20 de setembro sem mostrar sintomas – que o Congresso tem vindo a exigir um controlo mais apertado de quem entra e sai do país. «Tal como o Presidente disse terça-feira, estamos a olhar arduamente para aquilo que podemos fazer para aumentar a segurança dos americanos, e nos próximos dias vamos anunciar que novas medidas serão adotadas», disse Tom Frieden, diretor do Centro para o Controle e Prevenção da Doença. O Presidente Barack Obama disse na segunda-feira que novos protocolos estavam a ser estudados para aumentar o controlo sobre os viajantes que partem da África Ocidental e chegam aos Estados Unidos. Obama falou da possibilidade de coordenar trabalho entre as autoridades alfandegárias e o departamento de Segurança Nacional para identificar pessoas que viagem em voos de ligação, de modo a determinar o seu ponto de partida. Por agora, o Presidente exclui a possibilidade de banir os voos dos países afetados pelo vírus, apesar de ter sido sugerido por alguns deputados. Surto já fez mais de 3.400 mortos, Espanha tem o primeiro caso de contágio fora de África O Ébola já provocou a morte de 3.439 pessoas entre os 7.470 casos conhecidos (confirmados, prováveis e suspeitos), segundo a Organização Mundial de Saúde, e o primeiro caso de contágio fora de África foi detetado esta semana em Espanha, avançou a “Lusa”. Segundo o balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgado na sexta-feira, 739 pessoas já morreram na Guiné-Conacri, onde existem 1.199 casos (confirmados, prováveis e suspeitos). A Libéria é o caso mais preocupante, com 2.069 mortes e 3.834 casos da doença, já a Serra Leoa registou, até ao momento, 623 mortes e 2.437 casos. De acordo com a OMS, na Nigéria foram registados 20 casos de Ébola e oito mortes, no Senegal há um caso da doença. Nos Estados Unidos, um homem que regressou da Libéria encontra-se atualmente hospitalizado, em estado grave, no Hospital Presbiteriano de Dallas, no Texas. A infeção foi confirmada por testes realizados pelo Centro de Prevenção e Controlo de Doenças (CDC). Os casos de Ébola que foram recentemente divulgados na República Democrática do Congo não têm aparentemente relação com os da África Ocidental. Alguns médicos, missionários e religiosos contaminados pelo vírus em África retornaram aos seus países de origem (sobretudo europeus e norte-americanos) para tratamento, mas nem todos conseguiram sobreviver. Em Espanha, uma auxiliar de enfermagem foi infetada pelo vírus Ébola – no primeiro caso de contágio fora de África – e há mais dois casos suspeitos. Estão ainda a ser acompanhadas 52 outras pessoas por possível contágio em Espanha. A maior parte das pessoas, 30, são do setor sanitário. A Comissão Europeia também pediu explicações a Madrid sobre o que falhou no primeiro caso de contaminação fora de África pelo vírus Ébola, que afetou a auxiliar de enfermagem espanhola. A Europa chegou tarde ao combate ao Ébola e a comunidade internacional foi negligente, acusaram 44 especialistas mundiais em Saúde Pública. O presidente Barack Obama classificou segunda-feira como insuficiente a resposta da comunidade internacional face ao avanço da epidemia na África ocidental. Obama declarou que vai «pressionar chefes de Estado e de Governo para que façam tudo o que puderem para se juntarem aos Estados Unidos». No total, o Pentágono poderá enviar cerca de 4.000 soldados para a África ocidental, para participarem no combate à epidemia, mais 1.000 do que o previsto no plano anunciado inicialmente pelo presidente norte-americano. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon já apelou por várias vezes à comunidade internacional para ajudar na crise do Ébola que atinge a África Ocidental. Cerca de 10 mil doses de vacinas experimentais contra o vírus, desenvolvidas pelas empresas GSK (britânica) e a NewLink Genetics (norte-americana), deverão estar disponíveis no início de 2015, divulgou a OMS. Este é o pior surto registado da doença, que foi detetada no início do ano, com o maior número de infetados e mortes. O Ébola é um vírus que foi identificado pela primeira vez em 1976. Não existe vacina, nem tratamentos específicos e a taxa de mortalidade situa-se entre os 25 e os 90 por cento. A infeção resulta do contacto direto com líquidos orgânicos de doentes – como sangue, urina, fezes ou sémen. O período de incubação da doença pode durar até três semanas. A febre costuma ser o principal sinal, acompanhada de fraqueza e dores musculares, de cabeça e de garganta. Outros sintomas que sobrevêm são náuseas, diarreia, feridas na pele, problemas hepáticos e hemorragias, interna e externa. |