Ébola: Vírus já matou cerca de 2.300 pessoas, perto de metade nos últimos 21 dias – OMS 10 de setembro de 2014 O vírus do Ébola matou perto de 2.300 pessoas na África Ocidental desde o início da epidemia, anunciou ontem a Organização Mundial de Saúde, sublinhando que perto de metade dos casos mortais foram assinalados nos últimos 21 dias. A febre hemorrágica Ébola fez 2.296 mortos em 4.293 casos (confirmados, prováveis e suspeitos), segundo o último balanço da Organização Mundial de Saúde (OMS), referente a dados verificados até 6 de setembro. O balanço anterior, publicado na sexta-feira, dava conta de 2.105 mortos em 3.967 casos assinalados na África Ocidental. De acordo com os dados divulgados ontem, a OMS registou 1.224 vítimas mortais na Libéria, 555 na Guiné-Conacri e 509 na Serra Leoa. A agência das Nações Unidas referiu ainda oito mortos na Nigéria em 21 casos (confirmados, prováveis e suspeitos). A OMS relatou igualmente três casos no Senegal, entre os quais está um doente confirmado. Nos três países mais afetados pela epidemia, 47% dos casos mortais e 49% dos novos casos foram assinalados nos últimos 21 dias, apontou a “Lusa”. «A progressão dos casos continua a aumentar nos países onde a contaminação acontece em larga escala e de forma intensa: Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa», indicou a organização. Na segunda-feira, a OMS alertou que a Libéria deverá ver-se a braços com «muitos milhares de novos casos» nas «próximas três semanas». Com esta previsão, a OMS pretendeu alertar os parceiros internacionais que estão a tentar ajudar a Libéria para a necessidade de se prepararem para «aumentar os esforços atuais em três ou quatro vezes». Epidemia ameaça a existência da Libéria A epidemia do vírus Ébola ameaça a existência da Libéria, afirmou ontem o ministro da Defesa liberiano, ao discursar perante o conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). «A existência da Libéria está ameaçada», disse o governante Brownie Samukai deste país da África Ocidental, o mais afetado pela doença. A doença «propaga-se como um fogo florestal, devorando tudo na sua passagem». O país «não tem suficientes infraestruturas, capacidades logísticas, experiência profissional e recursos financeiros para enfrentar a epidemia de maneira eficaz», salientou. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pretende convocar a reunião internacional sobre o Ébola no final de setembro, em Nova Iorque, por ocasião da Assembleia-Geral da organização, para suscitar contribuições para lutar contra a epidemia por parte dos governos, das organização não-governamentais e do setor privado, indicou o seu porta-voz Stéphane Dujarric. Na segunda-feira, Ban Ki-moon falou ao telefone com o Presidente dos EUA, Barack Obama, que poderia participar na reunião, sublinhando «a necessidade de aumentar a urgência dos esforços internacionais». A embaixadora norte-americana na ONU, Samantha Power, que preside ao Conselho de Segurança em setembro, estimou que «ninguém pode hoje dizer que a resposta internacional ao Ébola é suficiente». Samantha Power apelou a uma cooperação entre a ONU, os bancos Mundial e Africano de Desenvolvimento e os governos para «examinar como intensificar esforços» para controlar a epidemia. Defendeu ainda a «discussão do papel que o Conselho de Segurança pode ter» neste domínio, que é para os EUA «uma prioridade em termos de segurança nacional». Cabo Verde antecipou-se às recomendações da União Africana O Governo cabo-verdiano reivindicou ontem ter-se antecipado às recomendações preventivas definidas segunda-feira pela União Africana (UA), ao abrir, há uma semana, «corredores de cariz extraordinário» à entrada de cidadãos estrangeiros dos países afetados pelo vírus do Ébola. A ministra da Saúde cabo-verdiana, Cristina Fontes Lima, falava aos jornalistas após uma reunião do Conselho do Ministério para analisar a questão da epidemia que afeta cinco países da África Ocidental – Libéria, Guiné Conacri, Serra Leoa, Nigéria e Senegal. No dia 4 deste mês, o Governo cabo-verdiano aprovou um aditamento à decisão de proibir a entrada no país a cidadãos estrangeiros, não residentes, que tenham transitado ou sejam oriundos daqueles cinco países nos últimos 21 dias. «Podem, por razões humanitárias, de emergência médica, económicas ou outras de relevante interesse público, ser autorizadas entradas no território nacional mediante despacho do primeiro-ministro (José Maria Neves)», afirmou então a ministra da Administração Interna cabo-verdiana, Marisa Morais. Na ocasião, Marisa Morais salientou que a entrada de cidadãos nesse contexto será feita caso a caso e que a ponderação será feita por especialistas sanitários, lembrando, tal como hoje fez Cristina Fontes Lima, que Cabo Verde não registou qualquer caso da febre hemorrágica. A decisão do Governo, afirmou a ministra da Saúde cabo-verdiana, foi ao encontro das exigências da UA e justificou-se por se ter considerado que Cabo Verde não tem fronteiras terrestres, apenas aéreas e marítimas. Mais 35 profissionais de saúde receberam formação na Guiné-Bissau Um total de 35 profissionais de saúde da Guiné-Bissau receberam formação e estão aptos para formar outros sobre o vírus Ébola, como prevenir e controlar o contágio, anunciou ontem em comunicado a missão das Nações Unidas no país, que promoveu a iniciativa. «A formação certificou os formadores que irão ensinar os outros a terem noção da doença, de como a prevenir e controlar», referiu a médica Gladys George, chefe dos Serviços Clínicos da ONU na Guiné-Bissau – país onde ainda não foi registado nenhum caso de Ébola. A formação decorreu no último fim-de-semana e envolveu 35 técnicos de saúde de missões da ONU e escritórios de seis países da África Ocidental, bem como o pessoal médico do Ministério da Saúde da Guiné-Bissau e da Missão Militar da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) em Bissau (ECOMIB). De acordo com Berhanemeskel Nega, chefe de pessoal da ONU na capital guineense, «a superação dos desafios colocados pelo vírus de Ébola ainda vai demorar muito tempo, mas a batalha será finalmente ganha com os esforços concertados de todas as partes interessadas aos níveis nacional, regional e internacional», refere o comunicado citado pela “Lusa”. A formação mostrou ainda «a necessidade de organizar regularmente formações regionais para pessoal clínico das Nações Unidas, que deve estar ao corrente das melhores práticas, e não atuar apenas quando há crise». Esta formação foi ministrada por três especialistas do Hospital John Hopkins, em Baltimore, Estados Unidos da América (EUA). Falando no final da formação, destacou Trexler Polly, diretor de operações do Hospital John Hopkins, disse: «Os participantes foram muito recetivos e constituíram uma equipa fantástica». «Fizemos demonstrações e explorámos competências. Todos foram obrigados a provar de novo a sua capacitação, para vermos se realmente tinham percebido os conceitos», destacou Trexler Polly, diretor de operações daquela unidade de saúde. «Praticámos numerosas vezes como vestir e tirar os equipamentos de proteção, como desinfetar adequadamente o meio ambiente e, finalmente, no último dia da formação, fizemos um teste para garantir que todos os participantes tinham entendido os conceitos», concluiu. Guiné-Bissau vai oferecer material de prevenção à vizinha Guiné-Conacri O líder do governo guineense justificou o donativo com os laços de «amizade e irmandade» que unem os dois países e com o facto de haver regiões do vizinho país que são mais fáceis de alcançar a partir de Bissau que a partir da capital, Conacri. A oferta vai ser entregue na quarta-feira, por via dos canais diplomáticos, e inclui equipamentos de proteção e desinfetantes. O anúncio foi feito por Domingos Simões Pereira durante uma reunião com representantes da comunidade internacional em Bissau em que agradeceu os apoios dados ao país para prevenir o Ébola. O líder do Governo salientou ainda que a decisão de fechar as fronteiras com a Guiné-Conacri, em agosto, baseou-se estritamente em «orientações técnicas» e que, apesar das críticas da população, espera que a medida não afete as relações entre os dois lados da fronteira. Segundo referiu, o assunto foi tratado com o embaixador da Guiné-Conacri em Bissau e em conjunto chegaram inclusivamente a tratar da abertura de «corredores humanitários» para levar abastecimentos a comunidade que ficariam isoladas depois do encerramento dos postos de passagem. No final do encontro com a comunidade internacional, a ministra da Saúde, Valentina Mendes, descartou a possibilidade de virem a ser encerradas também as fronteiras a norte com o Senegal, depois de ter sido detetado um caso no país. «O Senegal é diferente: na Guiné-Conacri há vários óbitos e no Senegal apenas um caso», justificou. Ainda segundo a ministra, a Guiné-Bissau continua a precisar com urgência de um kit laboratorial para manter em marcha o plano de prevenção contra o Ébola. Apesar dos agradecimentos feitos pelo primeiro-ministro à comunidade internacional, pelo apoio concedido à Guiné-Bissau, a titular da pasta da Saúde recordou que, a nível sub-regional, os ministros da Saúde da África Ocidental continuam a pedir um apoio mais expedito face à ameaça do Ébola. O apelo foi feito num encontro realizado em Acra, capital do Gana, em agosto. Ministra: Gana sem casos, mas preparado para reagir a infeções O Gana ainda não registou qualquer caso de ébola, ao contrário de outros países da África Ocidental, mas, se tal acontecer, o país está preparado para reagir, garantiu ontem à “Lusa” a ministra ganesa dos Negócios Estrangeiros. «Não temos registada qualquer incidência de Ébola. Temos sorte que ainda não se tenha manifestado no nosso país», disse à “Lusa” a ministra dos Negócios Estrangeiros e da Integração Regional do Gana, Hanna Tetteh, no final de uma reunião com o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, em Lisboa. A governante ganesa, que realiza a sua primeira visita oficial a Portugal, garantiu que o país está a adotar «todas as medidas de proteção» e quer estar preparado para qualquer eventualidade. «É importante para nós estarmos preparados, tendo em conta que há outros Estados-membros na região da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental [CEDEAO] onde existe esta doença», referiu. A ministra lamentou que se esteja a transmitir a «impressão de que toda a África Ocidental tem esta doença, o que não é verdade», lembrando que os três países mais afetados são Serra Leoa, Guiné-Conacri e Libéria, enquanto Senegal e Nigéria já reportaram alguns casos. «Há 15 países na CEDEAO, mas há cinco que têm problemas. Os restantes, graças a Deus, não têm ainda e esperamos que não venham a ter, tendo em conta as medidas que estamos a desenvolver através da organização de saúde da África Ocidental», sustentou Hanna Tetteh. O país tem reforçado a monitorização nos pontos de entradas no país, nomeadamente aeroportos e postos fronteiriços. O tráfego aéreo entre os países da CEDEAO foi muito limitado e o Gana interrompeu também as ligações terrestres por autocarro a outros países, incluindo a Libéria. Também a coordenação entre os serviços de saúde nacionais tem melhorado, disse. «Esperamos que os países afetados consigam ter a situação sob controlo, apesar de não ser fácil, e para os que não foram ainda, estamos a tentar garantir que, com as medidas que adotámos, não tenhamos incidências de ébola. Mas, se tal acontecer, estamos preparados para isso também», assegurou a governante ganesa. |