ECMO pode ser solução para aumentar número e qualidade de órgãos para transplante 230

A utilização da Oxigenação por Membrana Extracorporal (ECMO) em doentes graves poderá contribuir para o aumento do número e qualidade de órgãos para transplante em Portugal, segundo um estudo coordenado por Roberto Roncon de Albuquerque, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), partilhado no site da Universidade do Porto (UP).

A ECMO pode ajudar a aumentar o número de órgãos e de transplantes por várias vias. Em países como Espanha, Reino Unido e EUA, cerca de metade da transplantação renal já é feita com recurso a esta técnica nos dadores falecidos em cuidados intensivos por paragem circulatória controlada.

Aliás, o estudo demonstra que esta técnica de circulação extracorporal desempenha um papel muito relevante na doação de órgãos de dador em paragem circulatória controlada (Categoria III de Maastricht), nomeadamente de rim, de pulmão, de fígado e de coração, a nível mundial.

“Estes resultados vêm chamar a atenção para uma tecnologia que existe em muitos hospitais para salvar vidas, mas que ainda não é muito utilizada, entre nós, na vertente da doação de órgãos e da transplantação”, explica Roberto Roncon de Albuquerquer, na notícia divulgada no site da UP, acrescentando que “em doentes que não conseguimos salvar, a ECMO pode ser utilizada para preservar os órgãos do dador que, de outra forma, não teriam condições para a transplantação”.

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Para o professor da FMUP, “no nosso país, a expansão da possibilidade de doação à paragem circulatória controlada poderia representar um importante passo para responder a esta necessidade. Para tal será necessária uma alteração legislativa, que deve ser precedida de um amplo consenso na sociedade civil, sociedades científicas e ordens profissionais da área da Saúde”.

 

Utilização da ECMO em Portugal

Está limitada aos dadores em paragem circulatória não-controlada (Categoria II de Maastricht), em que a paragem cardiorrespiratória surge súbita e inesperadamente no pré-hospitalar ou no serviço de urgência, sem recuperação após manobras de ressuscitação prolongadas. É, tipicamente, o caso de alguns doentes com enfarte agudo do miocárdio socorridos pelo INEM que, apesar de todo o ‘esforço terapêutico’, acabam por evoluir em paragem cardiorrespiratória refratária e falecer.

“Nestes casos, quando o óbito é declarado, podemos usar a ECMO para preservar os órgãos abdominais para transplante. No entanto, não pode decorrer mais de uma hora e meia de colapso até à entrada no hospital, nem mais de duas horas de colapso até ao início de ECMO”, salvaguarda o investigador. Na ULS de São João, onde é médico intensivista, a doação em paragem circulatória não-controlada já representa cerca de um terço da transplantação renal.

Além de Roberto Roncon de Albuquerque, o trabalho de revisão sistemática da literatura científica contou ainda com a participação de Beatriz Ferreira Alves, no âmbito do Mestrado Integrado em Medicina na FMUP, bem como de Joana Reis Pardal, Nelson Cuboia e Luís Azevedo (FMUP e RISE-Health).