Efeitos secundários da imunoterapia desconhecidos, peritos querem registo oncológico 623

Efeitos secundários da imunoterapia desconhecidos, peritos querem registo oncológico

27 de Setembro de 2016

Os efeitos dos tratamentos oncológicos de imunoterapia precisam de ser estudados, desconhecendo-se ainda as consequências a médio e longo prazo, concluiu um painel de peritos, que recomenda a criação de um registo oncológico nacional único.

A imunoterapia tem sido encarada como um novo paradigma de tratamento do cancro, usando agentes biológicos que estimulam o sistema imunitário e o ajudam a corrigir os mecanismos de defesa alterados.

O estudo “Consenso Estratégico sobre o Valor da Imuno-Oncologia em Portugal”, que hoje é divulgado, sublinha que a imunoterapia contribui para o aumento de anos de vida com qualidade e apresenta maior capacidade de gestão dos efeitos secundários no doente.

Contudo, é ressalvado «o desconhecimento total a médio e longo prazo, dos efeitos sobre a gravidez e fertilidade e sobre as doenças autoimunes associadas aos fármacos» da imunoterapia.

Aliás, na análise ao modelo de financiamento e aos custos totais da imuno-oncologia, o grupo de peritos advoga que «os custos diretos e indiretos poderão ser bem mais elevados na gestão de todos estes efeitos secundários».

Os peritos sugerem assim a criação de um registo oncológico nacional único precisamente para permitir monitorizar com rigor e a longo prazo a utilização da imunoterapia, percebendo os seus efeitos secundários ao longo do tempo, que são atualmente desconhecidos.

Contudo, salientam que o grande ganho da imunoterapia se centra na forma como conseguiu alterar o curso da doença, prolongando a vida dos doentes com melhor qualidade de vida.

«Tem-se conseguido demonstrar uma regressão sustentada e duradoura nalgumas situações, transformando alguns casos de doença agressiva em doença crónica, pouco sintomática», indica o estudo a que a agência “Lusa” teve acesso.

Mas apenas alguns tipos de tumores em determinados estádios de doença oncológica beneficiam destes fármacos de imunoterapia. A imuno-oncologia, que foi considerada pela revista “Science” como o avanço científico mais significativo de 2013, tem sido usada sobretudo em tumores hematológicos, melanomas ou tumores do rim.

Quanto à forma de pesar ou mediar os efeitos dos tratamentos, o painel de peritos entende que a sobrevivência global não pode ser o único fator a considerar nem o mais importante. A qualidade de vida e a sobrevivência livre de progressão da doença devem ser tidos em conta.

Para a utilização da imunoterapia com sucesso, os especialistas recomendam criar linhas gerais de orientação europeias e internacionais que se apliquem à realidade nacional.

O acesso dos doentes tem ainda de ser melhorado e muitas modificações precisam de ser introduzidas no sistema de saúde, a começar pela formação dos futuros profissionais de saúde.

Aliás, o estudo considera que a discussão sobre a sustentabilidade do sistema de saúde devia estar focada no ensino e formação dos recursos de saúde, na criação de um sistema centrado no doente e na eliminação do desperdício.

O tema “medicamentos caros” não devia ser prioritário, correndo-se o risco de «perverter o sistema devido a interesses externos».

Por agora, os peritos recomendam que o uso dos fármacos de imuno-oncologia seja reservado a centros ou unidades com recursos humanos e técnicos adequados, sobretudo tendo em conta a necessidade de avaliar o doente a longo prazo.

Precisamente para esta avaliação a longo prazo, o estudo propõe a criação de um registo oncológico nacional único.