Desde que se iniciou a invasão da Rússia à Ucrânia, a preocupação com a segurança das centrais nucleares aumentou, assim como o receio das populações, levou a um aumento na procura de medicamentos com iodo, principalmente nas farmácias. O Netfarma.pt falou com a ANF, OF e INFARMED. Em Portugal, não são comercializados medicamentos com iodeto de potássio para utilização após um acidente nuclear e os farmacêuticos comunitários devem desencorajar as pessoas a adquiri-los, uma vez que para além dos problemas graves que podem causar, estão a dificultar o acesso a quem deles necessita.
Segundo o jornal “i”, tudo começou com uma indicação para a toma de iodeto de potássio numa situação de exposição a radiação nuclear. Médicos ouvidos pelo “Nascer do Sol” explicam que a toma destes medicamentos só deve ser feita numa situação de risco iminente de exposição e não a título preventivo. Mais: deve sempre ocorrer por indicação explícita das autoridades de saúde, até pelo risco para doentes com hipertiroidismo, estranhando-se a ausência de informação clara por parte das autoridades perante esta situação. Trata-se de um medicamento que sobrecarregando a tiroide de iodo, minimiza o risco de absorção de iodo radioativo”.
A procura deste tipo de fármacos surgiu em vários países, incluindo Portugal. Essa corrida fez com que vários farmacêuticos dessem conta, nas redes sociais, de uma procura anormal destes fármacos, “mostrando a falta de informação quer dos utentes quer nas próprias farmácias perante a corrida a comprimidos de iodo que se está a sentir por toda a Europa, com os stocks a esgotar”.
Em Portugal os comprimidos de iodo são comercializados mediante receita médica. Os suplementos ou medicamentos à venda em Portugal com iodeto de potássio têm doses muito inferiores às recomendadas em caso de exposição a radioatividade.
De acordo com declarações dadas ao “Nascer do Sol” por um especialista na área, a dose recomendada aos adultos é de “130 mg por dia de exposição a radiação (ou dois comprimidos de 65 mg) e às crianças de 60 mg, sendo inferior para as crianças mais pequenas e as dosagens a venda são de microgramas, o que implicaria manipulação e capitação para isso”.
As farmácias não têm stocks elevados deste tipo de medicamentos e os fornecedores já deram indicação de indisponibilidade.
Questionada pelo Netfarma.pt, a presidente da Associação Nacional das Farmácias (ANF), corroborou a elevada procura de pedidos que se tem feito sentir ao balcão das farmácias. “Registou-se, nas farmácias, a partir do dia 4 de março, um aumento da procura de medicamentos e suplementos de iodeto de potássio e de aconselhamento sobre os benefícios da sua toma em caso de acidente nuclear”. Ema Paulino referiu que “as farmácias têm prestado todo o apoio à população no esclarecimento destas dúvidas, como, aliás, faz parte da sua missão, e a ANF tem vindo a partilhar, através das suas redes sociais, informação dirigida ao público para suportar as equipas farmacêuticas nessa elucidação”.
Sobre a comercialização de medicamentos com iodo, a presidente da ANF esclareceu ao nosso portal que à data, em Portugal não são comercializados medicamentos com iodeto de potássio na dosagem recomendada (65mg) para uso após um acidente nuclear. “Os medicamentos atualmente autorizados e comercializados de iodeto de potássio são sujeitos a receita médica, com dosagens muito inferiores e indicação aprovada na correção de deficiências nutritivas de iodo e na prevenção de defeitos do tubo neural e de distúrbios neurológicos do feto”, acrescentando que “os suplementos alimentares com iodeto de potássio são úteis no caso de carências nutricionais e estão recomendados particularmente em grupos de risco, como mulheres grávidas ou a amamentar. O excesso de iodeto de potássio, ou o seu uso sem indicação, pode causar sérios riscos à saúde, através de reações graves que podem mesmo provocar a morte”.
Estas explicações são reforçadas pela Ordem dos Farmacêuticos (OF). Em comunicado, a OF adiantou que “face às dúvidas dos utentes e crescimento das solicitações para aquisição de medicamentos com iodeto de potássio, recomenda que os farmacêuticos comunitários, para além de esclarecerem as populações sobre a utilidade destes produtos, desencorajem a sua aquisição como protetor dos efeitos da radiação, evitando dificuldades de acesso para quem deles necessita na indicação aprovada”.
Por seu turno, a Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed) indicou ao Netfarma.pt nada ter a acrescentar ao que já foi comunicado. Ao jornal “i”, o Infarmed já tinha esclarecido que o “iodeto de potássio de 65 mg, indicado para mitigar a exposição a radiação em caso de acidente nuclear, não é vendido em Portugal e que os medicamentos com iodeto de potássio à venda nas farmácias destinam-se à correção do de deficiências nutritivas e à prevenção de defeitos do tubo neural e de distúrbios neurológicos do feto durante a gravidez, são sujeitos a receita médica e devem ser tomados de acordo com indicações médicas”.