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Em 50 médicos, 20 prescreveram antibióticos sem ser necessário
09-Maio-2014

Estudo da Deco conclui que «a prescrição desadequada de antibióticos continua em níveis preocupantes». Ainda há demasiados médicos que receitam este tipo de fármaco para simples dores de garganta.

Para avaliar se os médicos prescrevem antibióticos desnecessários e se as farmácias os vendem sem receita médica, colaboradores da Deco – Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor – visitaram 120 estabelecimentos ao acaso na Grande Lisboa e Porto, queixando-se de uma mera dor de garganta. Em 50 médicos, 21 receitaram um antibiótico, já nas farmácias apenas uma vendeu este fármaco sem a obrigatória receita médica.

Todos os colaboradores da Deco foram previamente avaliados para garantir a ausência deste tipo de problemas. Se questionados pelo profissional, os colaboradores diziam que não apresentavam febre nem outros sintomas, excepto um ligeiro incómodo ao engolir.

Nas 50 consultas, os médicos observaram a garganta e procuraram inteirar-se dos sintomas. Em 20 casos receitaram de imediato um antibiótico. Nos restantes 30, os «doentes» perguntaram, sem insistir, se não seria melhor tomar um daqueles fármacos. Um recebeu a prescrição com indicação de que só deveria usá-lo se piorasse, tivesse febre e pontos brancos na garganta, reporta a revista da Deco, Proteste, que fornece a lista das unidades de saúde, na sua esmagadora maioria do setor privado, onde as consultas tiveram lugar, apontou o jornal “Público”.

Nas farmácias, «a situação é menos inquietante», avalia a Deco: «pedimos um antibiótico sem receita médica em 70 estabelecimentos e só a Farmácia Faria, de Matosinhos, o dispensou». Nos restantes, recomendaram sobretudo analgésicos e anti-inflamatórios. Cerca de metade dos profissionais alertaram ainda para a necessidade de consultar o médico, se o estado de saúde se agravasse.

Num estudo idêntico que a Deco publicou em 2007, a venda de antibióticos nas farmácias, na Grande Lisboa e no Grande Porto, rondava os 12%, uma proporção bastante superior à agora detetada, que não ultrapassa 1%. A prescrição médica também diminuiu: há sete anos, 57% dos médicos receitaram antibióticos para a dor de garganta; no presente estudo, 42% tiveram a mesma atitude.

O uso incorreto e desregrado de antibióticos, como o que sugere este inquérito, tem contribuído para aumentar a resistência das bactérias, uma situação que atualmente é considerada um grave problema de saúde pública, tendo, também em Portugal, sido criado uma estratégia de saúde só para esse efeito. No chamado Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e Resistências aos Antimicrobianos explica-se que os antibióticos vieram revolucionar, a partir da década de 1940, o tratamento dos doentes com infeções, contribuindo para a redução da mortalidade. Mas que o seu uso, frequentemente inadequado, promoveu a emergência e seleção de bactérias resistentes e multirresistentes.

Assim, o antibiótico passou a estar ameaçado de perda de eficácia, que se poderá traduzir em enorme retrocesso na história da Medicina.

As infeções resistentes aos antibióticos matam 25 mil pessoas na União Europeia todos os anos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Apesar das várias campanhas a alertar para os perigos do abuso do consumo de antibióticos e para a importância de estes medicamentos serem utilizados apenas com prescrição médica, muitos mitos continuam a persistir entre os portugueses: 69% dos inquiridos, num inquérito sobre este tema realizado pelo Eurobarómetro (organismo de estatísticas da União Europeia) no ano passado, continuam a acreditar que os antibióticos servem para matar vírus, quando apenas se destinam ao combate de bactérias que, estão por exemplo, na origem das pneumonias, e 61% acham que são indicados para o tratamento de simples constipações e gripes, quando nestas situações são completamente ineficazes.