Em sete anos, 12.500 enfermeiros foram trabalhar para o estrangeiro 773

03 de Dezembro de 2015

Desde 2009 até setembro deste ano, foram 13.752 os licenciados que pediram à Ordem dos Enfermeiros o certificado de equivalência de que necessitam para poderem exercer noutro país. Nos últimos três anos, são quase três mil pedidos por ano. Alguns podem desistir e ficar em Portugal, mas a  maior parte acaba mesmo por emigrar.

A Ordem dos Enfermeiros estima que cerca de 12.500 terão emigrado desde 2009, um «êxodo» que é lamentado pelo bastonário porque saem profissionais que fazem cá muita falta (Portugal tem um rácio de enfermeiros de 6,2 por mil habitantes bem abaixo da média da OCDE: 8,6), noticiou o “Público”.

Pouco conhecido apesar de ser muito mediatizado, o fenómeno é  aprofundado no livro “Vidas Partidas – Enfermeiros Portugueses no Estrangeiro”, da autoria de Cláudia Pereira, investigadora do Observatório da Emigração, do CIES (Centro de Investigação e Estudos de Sociologia) do Instituto Universitário de Lisboa. O livro, que inclui os relatos de muitos enfermeiros e vários estudos sobre o tema, é apresentado hoje em Lisboa.

O país que mais recruta enfermeiros portugueses é o Reino Unido, e há uma explicação para este fenómeno. Desde 2010, quando o governo conservador de David Cameron colocou obstáculos à contratação de profissionais de países de fora da União Europeia, foi necessário reforçar os esforços de recrutamento no Sul e no Leste da Europa.

Sem poder recorrer aos enfermeiros da Índia e das Filipinas, que até então predominavam, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) britânico e as agências de emprego começaram a recrutar enfermeiros nos países do Sul e Leste da Europa. Ora este fenómeno coincidiu com a recessão económica em Portugal e as severas restrições económicas no SNS, que levaram à desmotivação profissional de muitos enfermeiros, não só os mais jovens, mas também os veteranos, explica a investigadora, que é docente no ISCTE, em Lisboa.

Aos  fatores que “puxam” a ida para o estrangeiro – a partir de 2008 o número de enfermeiros à procura do primeiro emprego disparou, enquanto o recrutamento estrangeiro acelerou –, juntam-se os que “empurram” a saída, como a impossibilidade de progredir profissionalmente, os cortes no salário e a escassa comunicação com as chefias. A vontade de emigrar para conhecer outro país é, aliás, pouco referida. A saída funciona mais como «um escape para o desemprego e as condições precárias em Portugal», sintetiza.