Sessões esgotadas, um jantar de gala sem cadeiras vazias e resultados até surpreendentes para quem estava otimista, mas cauteloso. O 14.º Congresso das Farmácias acontece entre 9 e 11 de fevereiro, no Centro de Congressos de Lisboa, e a presidente da Associação Nacional das Farmácias, Ema Paulino, falou em exclusivo ao Netfarma, não só sobre o evento, mas também acerca do que vem e deve seguir-se.
Para a responsável, o primeiro “grande objetivo é promover o reencontro”, visto que devido ao “contexto pandémico que se tem vivido” não houve oportunidade de “as pessoas se reverem de forma presencial e, portanto, depois de dois anos neste contexto de interações mais remotas e partilha de informação, mais por outras vias que não a presencial, é importante promover este encontro”. “Daí associar o congresso também à Expofarma, porque é uma oportunidade de percebermos quais são as novidades do setor a nível de relações, produtos e soluções de saúde”, acrescenta.
“Do ponto de vista do congresso, nós selecionámos um tema que tem a ver com a qualificação da rede das farmácias, o que faz com que, por via da sua capilaridade, tenhamos aqui múltiplas oportunidades e responsabilidades de intervenção, e de trazer a saúde mais próxima das pessoas, podendo ser aquele braço longo do Serviço Nacional de Saúde que António Arnaut preconizava“, frisa, acrescentando que é necessário “tirar ensinamentos” do período pandémico, mas também afirmar as farmácias como “parte da solução” num cenário em que “existe uma enorme pressão sobre os serviços de saúde”.
Livro Branco, um documento fluido
No terceiro e último dia do congresso, 11 de fevereiro, pelas 11h30, existirá uma Keynote Adress sobre o novo e por apresentar Livro Branco das Farmácias Portuguesas. Sobre este documento, Ema Paulino refere que a existiu assim um “recolher de ensinamentos para perspetivar como é que a farmácia pode fazer parte da solução”. É assim que surge o Livro Branco para o setor, mas que “não vai ser um instrumento top-down, ou seja, não será um instrumento em que as lideranças das instituições definem aquele que deverá ser o futuro do setor e no fundo o colocam num documento, mas um documento que resultasse da co-construção com aqueles que operacionalizam todos os dias o que é ser farmácia e a visão da farmácia”.
Assim, é um documento feito para que “todos se sentissem responsáveis pela sua concretização”, servindo também o congresso para ser “uma oportunidade de fazer um ponto de situação sobre a co-construção desse Livro Branco e lançar aquelas que têm vindo a ser as principais conclusões e os principais caminhos que têm sido apontados nesse processo”. “Isto para podermos discutir de forma mais aberta esses pontos e podermos perspetivar ter um lançamento do Livro Branco mais tarde durante 2023. É um Livro branco que será forçosamente dinâmico e nunca estará acabado. O objetivo é que seja um documento fluído e dinâmico ao longo do tempo“, explicou ao Netfarma.
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“Aquilo que detetámos quando começámos a construir o Livro Branco foi que havia alguns temas que surgiam com mais frequência. Por um lado, a questão dos próprios recursos humanos, ao nível de estratégias que são necessárias implementar para atração e retenção de recursos humanos e esse será um dos grandes temas a debater durante o congresso. Outro tema está associado à utilização da tecnologia para humanizar os cuidados, o que também foi acelerado pela pandemia, mas agora temos de ver como é estar no digital e promover uma experiência omnicanal, algo de que normalmente se fala muito mas que temos de perceber o que é que significa em função daquela que é a nossa missão”, garantiu.
Um documento para agora e com visão de futuro
Ainda sobre o referido documento, a presidente da ANF destacou mais uma vez “a questão da farmácia como parte integrante dos diferentes tipos de cuidados de saúde e como é que esta pode interagir de forma mais eficiente com as outras estruturas, abrindo canais de comunicação com os outros profissionais e fazer parte das soluções contratualizadas com o SNS”. “Para isso temos uma série de painéis no congresso em que chamamos os líderes e responsáveis por esses diferentes institutos e pelos diferentes stakeholders, para que também nos possam apresentar qual é a sua visão e de que caminho é que podemos fazer em conjunto para proporcionar esta solução mais integrada para o cidadão”, disse.
Com o documento prestes a ser apresentado pela primeira vez e dentro da fluidez referida por Ema Paulino, importava perceber se o Livro Branco das Farmácias estaria virado para vários espaços temporais (curto, médio e longo prazo) e se havia medidas ou conclusões aplicáveis no imediato. “Sim, sem dúvida, o objetivo é mesmo esse”, respondeu de imediato a responsável. E continua: “Vamos fazer a diferenciação entre aquilo que deve ser a responsabilidade de cada uma das farmácias a nível individual e o que está ao seu alcance, tendo claro algumas perspetivas do trabalho que a própria Associação Nacional das Farmácias com a força das diferentes unidades e das diferentes farmácias pode ter para influenciar alterações na legislação, nos modelos de remuneração de contratualização mas, independentemente dessas aspirações, há coisas concretas que podemos desde já fazer para ir caminhando em direção a esta visão que queremos para as farmácias e portanto sim, o Livro Branco vai procurar incorporar também esses objetivos mais práticos, mais atingíveis e também dividi-los nesses períodos de tempo”.
E depois do Congresso?
Terminado o 14.º Congresso das Farmácias, como é que, de uma forma mais generalista, as conclusões chegam à sociedade? Para Ema Paulino, “não há melhor montra para aquilo que a farmácia é a prontidão que tem para abarcar novos desafios, do que aquilo que os farmacêuticos e as equipas das farmácias fazem todos os dias nas farmácias“. “Não tenho dúvidas nenhumas acerca disso e eu recordo uma informação que me foi transmitida de fonte fidedigna, tanto jornalística, como de parte do Governo, de que a medida que foi incluída no Orçamento de Estado que teve mais visualizações e foi mais divulgada, mais comentada e que teve mais visibilidade e notoriedade até do ponto de vista mediático foi a da renovação das prescrições em farmácia comunitária”, garantiu, acrescentando que além de representar a uma necessidade da população é também sinal “da grande confiança que as pessoas depositam nas farmácias, automaticamente aceitando uma alteração naquilo que é a prestação de cuidados de saúde e ansiando por essa participação”.
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“E nem foi preciso a ANF vir explicar ou vir defender a medida, foi resultante deste reconhecimento orgânico que existe, por parte das pessoas, das farmácias enquanto estruturas credíveis de saúde onde podem contar com aconselhamento e onde podem contar com rigor técnico-científico ao ponto de poderem fazer a gestão dos seus medicamentos. Eu diria que o depois do congresso vai passar muito pela capacidade que a ANF tem mostrado de manter estes canais de diálogo com os diferentes stakeholders, nomeadamente com o Ministério da Saúde, mas grande parte da implementação da visão vai estar totalmente dependente das equipas das farmácias e do dia-a-dia que imprimirem na implementação dessas soluções. Penso que também é isso que vamos querer passar no congresso e que vamos ser certamente capazes: esta perspetiva da co-construção e da co-responsabilidade entre as estruturas de liderança dos órgãos sociais da ANF e as pessoas das farmácias naquilo que fazem no dia-a-dia“, finalizou.
“Estávamos cautelosamente otimistas”
Com o pré-congresso já esgotado há vários dias e a Gala Solidária das Farmácias a estar também sem lugares vazios e com 600 pessoas confirmadas, Ema Paulino explica que a ANF estava “otimista perante esta possibilidade de as pessoas se reencontrarem, mas claro que expectantes também para saber se as pessoas estavam preparadas”. “Estávamos cautelosamente otimistas, mas termos esgotado o pré-congresso e a gala ainda a mais de uma semana do início do congresso excedeu aqui um pouco as nossas expetativas. Foi o resultado do excelente trabalho da equipa que também temos no terreno, pelos membros dos órgãos sociais, dos próprios serviços e colaboradores a vários níveis da ANF e doutras empresas do grupo ANF que também trabalharam afincadamente para atingirmos estes resultados e estamos em crer que temos um programa que é suficientemente atrativo precisamente para que as pessoas queiram participar”, referiu.
“Confiamos também que as farmácias e nomeadamente os seus proprietários, mas também as suas equipas, reconhecem que estes congressos são sempre uma oportunidade de demonstrar a nossa união, a nossa força e que em momentos como aquele que estamos a viver, em que existem necessidades de introduzir alterações ao sistema de saúde, quanto mais unidos, mais fortes e mais seguros nas soluções nós aparecermos perante os nossos interlocutores, mais fácil será de implementar o que pretendemos. Portanto confiamos que as pessoas percebem que este congresso não é apenas importante do ponto de vista interno, mas que também é importante do ponto de vista mediático e do ponto de vista daquilo que vamos mostrar lá para fora. As pessoas vão comparecer precisamente para demonstrar a sua intenção de dizer presente para estes desafios que temos pela frente e para dizer que no fundo que estes nossos interlocutores podem contar com as farmácias para estas soluções”, finalizou a presidente da Associação Nacional das Farmácias.
O 14.º Congresso das Farmácias acontece a 9, 10 e 11 de fevereiro de 2023 no Centro de Congressos de Lisboa e tem o Netfarma e a FARMÁCIA DISTRIBUIÇÃO com media partners.