Ema Paulino: “Não é tempo de abrandar e muito menos de andar para trás” 1592

A menos de 20 dias para as eleições dos novos órgãos sociais da Associação Nacional das Farmácias, Ema Paulino, que lidera a Lista E e se recandidata ao cargo de presidente da direção, falou ao Netfarma sobre os motivos que a levam a voltar à corrida, como lidar com a turbulência sentida nos últimos anos e o que esperar de um próximo mandato, caso as farmácias lhe confiem novamente o seu destino.

Porque se recandidata ao cargo de presidente da direção da ANF?

Eu decidi recandidatar-me porque apesar de nos últimos dois anos e meio termos concretizado várias medidas, algumas até já há muitos anos reivindicadas, ainda temos trabalho pela frente que queremos concluir. Isto porque nos comprometemos com as farmácias, comprometemo-nos com a própria população e com os agentes políticos, com quem temos interagido para concretizar estas medidas e para promover o seu desenvolvimento. E é nesta perspetiva, de podermos continuar este novo rumo que iniciámos e consideramos ser o rumo certo, que achamos que não se deve interromper o caminho já efetuado.

Quais considera terem sido as três principais conquistas do seu mandato?

Uma delas é a da consolidação das farmácias enquanto espaço de saúde e bem-estar, numa perspetiva de integração com as restantes instituições de saúde, e particularmente como parte integrante das soluções do Serviço Nacional de Saúde.

Destaco também a sustentabilidade económico-financeira da ANF, uma vez que quando tomámos posse fomos confrontados com uma dívida consolidada e acumulada a que seria difícil fazer face com os resultados económicos e com a tesouraria que era libertada pelo próprio grupo ANF. Fizemos importantes alterações ao nível da promoção de uma reorganização interna, de redução de custos e também de uma revisão estratégica do próprio universo empresarial, no sentido de dotar esse universo empresarial de maior eficiência. Uma das principais conquistas foi, de facto, termos conseguido não apenas estancar essa degradação, mas reduzirmos efetivamente a dívida do grupo ANF e, paralelamente, melhorarmos os resultados económicos da ANF e do grupo empresarial em todas as suas linhas.

Diria ainda a colaboração institucional e a valorização política do próprio setor. Tivemos este ano duas campanhas lideradas e conduzidas pelo próprio Serviço Nacional de Saúde, com claro reconhecimento do papel das farmácias. Isto foi possível porque estabelecemos relações construtivas, fazemos parte da solução e fomos e temos sido convidados para estar à mesa quando estes assuntos são discutidos. Daí termos aberto não só estas portas, como também outras que vão levar a que tenhamos novidades, do ponto de vista de novos serviços e novas oportunidades de intervenção, muito em breve.

Nos últimos anos, vivemos o contexto pandémico, com a testagem nas farmácias. Agora está a decorrer a vacinação sazonal e as farmácias passaram a ter mais mediatismo. Há uma melhoria da imagem da farmácia junto da sociedade civil? Que impacto poderá isto ter nas farmácias comunitárias?

Em Portugal, temos uma demografia que já reconhece e há muito tempo que tem muita confiança e muita proximidade com o trabalho das farmácias: a demografia mais velha. As pessoas, já tendo doenças crónicas, por exemplo, apoiam-se muito nas equipas farmacêuticas para o controlo das suas doenças. Mas, claramente, temos gerações mais jovens que não têm esse contacto tão próximo com as equipas das farmácias e que poderiam ter um maior grau de desconhecimento acerca das intervenções e da qualidade técnica dos recursos das farmácias. Através da participação nos testes rápidos de antigénio e também da própria vacinação, porque agora estamos a vacinar contra a covid-19 pessoas com mais de 18 anos, as pessoas que eventualmente não iam às farmácias, estão a ir. São pessoas que vão às farmácias pontualmente e, atualmente, até já podem aceder aos medicamentos não sujeitos a receita médica noutros locais de dispensa ou até mesmo online. Com a vacinação, terão de deslocar-se a uma farmácia, o que é uma enorme oportunidade para darmos a conhecer tudo o que temos para oferecer a uma população mais jovem que talvez não tenha tanto esta perceção.

Por outro lado, pensamos que foi feito um excelente trabalho do ponto de vista da visibilidade junto da comunidade, através da nossa presença na comunicação social. Atualmente, temos uma presença assídua e somos frequentemente contactados para nos pronunciarmos sobre várias matérias que dizem mais ou menos respeito ao dia-a-dia das farmácias. Nessa perspetiva, claro que a comunicação social também faz com que cheguemos a mais pessoas, de todas as faixas etárias. O trabalho que realizámos, ao longo destes últimos dois anos e meio, nesse investimento de estarmos mais próximos da comunicação social e, por outro lado, desenvolver serviços que chamem as demografias mais jovens para as farmácias, permitiu-nos ter uma visibilidade junto da sociedade mais abrangente, mais importante e mais preponderante do que aquela que tínhamos há dois anos e meio

O seu mandato ficou, no entanto, marcado por alguma instabilidade a nível interno. Se for eleita, o que pretende fazer para resolver estas questões?

É necessário separar duas matérias. Uma delas é a união das farmácias em torno das propostas de valor que nós entregamos à sociedade. E sobre esta matéria houve uma enorme união, uma enorme solidariedade e uma enorme capacidade de mobilização das farmácias. Em relação, por exemplo, à campanha de vacinação sazonal, nós temos mais de 2500 farmácias a participar. A capacidade de mobilização e o reconhecimento, por parte das farmácias, de que tínhamos de estar unidos neste propósito foi muito evidente. Do ponto de vista externo, e na realidade, nós apresentamo-nos como um setor unido que está disponível para participar nas soluções.

Outra componente é a democracia interna dentro da associação. Havia pouca oportunidade para visões diferentes e pouca oportunidade para as ter, por exemplo, nos próprios conselhos nacionais, para as pessoas expressarem essas opiniões, emitirem sugestões e terem visões diferentes sobre a forma como concretizamos os nossos objetivos associativos. Eu considero que é incongruente nós, por um lado, querermos promover um espírito de democracia, de liberdade de expressão e de participação, com crítica construtiva, e, por outro lado, depois considerar que dar lugar a essa democracia e a essas opiniões divergentes é a demonstração de um setor desunido. Eu não o considero dessa forma. Considero que é verdade que nós temos de fazer este diálogo de uma forma construtiva para que, no final, quando for necessário deliberar sobre alguma matéria, as pessoas se sintam esclarecidas para votar, de acordo com a sua consciência e de acordo com o mandato que têm, mas não considero negativo que haja opiniões divergentes. Talvez, dentro da Associação Nacional das Farmácias, tenhamos de tornar esta democracia mais madura, no sentido de nos habituarmos a ter opiniões divergentes internamente, de sermos capazes de as discutir de forma serena e tranquila e depois, quando chegarmos às deliberações e houver uma decisão, independentemente da expressividade das votações, estarmos unidos e aparecermos para o exterior, para a sociedade, para os parceiros e para o Ministério da Saúde, como um setor unido. Eu penso que é esta maturidade que ainda estamos a construir porque é algo que de facto é novo, termos tanta expressão democrática dentro da associação, mas considero que isso não é um aspeto negativo, é um aspeto do qual, caso consigamos tirar partido, todos sairemos a ganhar.

Posteriormente, temos de promover esta união para fora, particularmente nas nossas relações com a tutela e com os outros profissionais de saúde, com quem partilhamos a prestação de cuidados. E isso tem acontecido. Nós tivemos uma série de reuniões internas, mais acaloradas do ponto de vista das diferenças de opinião, mas a realidade é que, para a sociedade, a vacinação é um projeto vencedor que nos deu uma grande notoriedade e que, mais uma vez, veio a realçar a prontidão e a capacidade que as farmácias e a distribuição farmacêutica têm para rapidamente montar uma solução que seja muito acessível à população e que esteja de acordo com os objetivos do Serviço Nacional de Saúde, mesmo com estas circunstâncias internas.

Quais são os três objetivos principais da sua candidatura para o futuro da ANF? E, falando diretamente para os proprietários de farmácias comunitárias, porque é que devem votar na lista que lidera?

Passa muito pela manutenção da estratégia que nos fez chegar até aqui e que consideramos ter sido altamente vantajosa para o setor. Por um lado, diria que a consolidação das farmácias enquanto espaço de saúde e bem-estar, como já referi, mas dentro do quadro da sustentabilidade económico-financeira das próprias farmácias. Nós tivemos de nos apresentar à sociedade, e aos próprios interlocutores políticos, como um parceiro capaz de construir diálogos positivos e capaz de se apresentar como um parceiro construtivo nas soluções. Agora temos uma nova credibilidade também para reivindicar oportunidades de melhoria, nomeadamente em termos da remuneração dos serviços que são efetuados nas farmácias, como também sobre alterações legislativas que possam ter um impacto ao nível da sustentabilidade económico-financeira. Tivemos três anos muito positivos neste sentido. Queremos manter esta trajetória e vamos, certamente, continuar o nosso diálogo com o Serviço Nacional de Saúde, nessa perspetiva de valorização dos serviços e contratualização dos mesmos.

Outra questão é a continuação do trabalho em termos da sustentabilidade económico-financeira da ANF. Esse trabalho não está finalizado. Nós fizemos uma inversão ao nível da degradação dos indicadores, mas temos de continuar muito atentos. Temos de garantir que continuamos a conter os custos operacionais a níveis comportáveis e, por outro lado, temos de ter a certeza que temos a trabalhar nas nossas empresas executivos que implementam os planos estratégicos e os planos de negócio tal como eles foram desenhados. Temos de manter uma vigilância ativa, para que as empresas, agora que estão a gerar riqueza, possam continuar a fazê-lo. E temos de continuar o nosso trabalho de análise de opções de refinanciamento da divida que temos, particularmente ao nível da Farminveste IPG. Temos um trabalho feito e agora temos de as discutir com as farmácias, para que percebam as implicações estratégicas, políticas e operacionais que cada uma das opções de refinanciamento tem, para depois podermos tomar uma decisão. Porque esta decisão passa forçosamente pelas farmácias. A direção da ANF pode facilitar o processo, no sentido de identificar quais é que são as várias opções disponíveis, trabalho que está praticamente finalizado, mas agora, durante o próximo mandato, o objetivo, e até num curto prazo de tempo, seria colocar essas opções à discussão junto das farmácias.

Queria também apontar o reforço da visão associativa e da coesão territorial. Há uma série de iniciativas, que já iniciámos, de proximidade com as farmácias, como um recente programa de coesão territorial. Mas, além desta iniciativa, que é um programa solidário de distribuição de valor pelas farmácias mais frágeis, do ponto de vista associativo, temos uma série de propostas que temos vindo a trabalhar com o Ministério da Economia, com o Ministério da Coesão Territorial e com o Ministério da Saúde, no sentido de poder atribuir benefícios económicos, ou mesmo dar incentivos fiscais, a farmácias localizadas em zonas mais remotas.

E o porquê de as farmácias deverem votar Lista E? Essencialmente, para não voltarmos à situação em que estávamos há dois anos e meio que exigiu um novo rumo. Não é tempo de abrandar e muito menos de andar para trás. Esta direção já deu provas de que, de facto, implementa e foi capaz de concretizar reivindicações de há vários anos. Confio que as farmácias também queiram atribuir novo voto de confiança, para que esta direção possa concluir os trabalhos que não conseguiu concluir, tendo em conta os muitos anos anteriores em que o rumo que estava a ser seguido não nos trouxe bons frutos, nem do ponto de vista económico-financeiro, nem do ponto de vista político. Temos muitas propostas construtivas no nosso programa eleitoral, para as quais gostávamos de ter um voto de confiança das farmácias.

Dia 19 de fevereiro não perca o Grande Debate entre os dois candidatos à liderança da Associação Nacional das Farmácia. A partir das 21h00, Duarte Santos e Ema Paulino apresentam os seus projetos, argumentos e visão para o futuro da ANF, num debate moderado por Paulo Silva, diretor da revista FARMÁCIA DISTRIBUIÇÃO. O debate será transmitido em canal fechado, via Zoom. Reserve aqui o seu lugar e não perca a oportunidade de colocar questões aos candidatos. Esta é uma iniciativa da revista FARMÁCIA DISTRIBUIÇÃO e do portal NETFARMA. Reserve o seu lugar clicando aqui.

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