Empresa de Coimbra estuda medicamento para cancro da mama triplo negativo 491

15 de Abril de 2015

Uma nanopartícula desenvolvida por uma empresa de Coimbra poderá resultar num medicamento indicado para o cancro da mama triplo negativo, um tipo de tumor mais agressivo e para o qual não existe, atualmente, um tratamento específico.

Em declarações à agência “Lusa”, a investigadora Vera Dantas Moura, responsável da empresa Treat U, do grupo Bluepharma, afirmou que a Pegasemp – uma nanopartícula inteligente, 80 vezes menor que uma célula, que reconhece os tumores atuando diretamente nos alvos cancerígenos – «está a trazer esperança» aos doentes com cancro da mama triplo negativo.

«É um tipo de cancro que não tem nenhum tratamento específico indicado, pelo que é muito mais difícil e muito mais doloroso tratá-lo», explicou, adiantando que a nanopartícula – que quando administrada na corrente sanguínea do doente reconhece tumores e liberta o tratamento de quimioterapia como se de uma granada se tratasse – «permite um tratamento mais eficaz e menos doloroso».

A investigação concluiu no início do ano os testes laboratoriais em animais saudáveis, concretamente sobre o perfil toxicológico, um estudo que pretende demonstrar a segurança da utilização do medicamento e que está pronta para iniciar em 2015 ensaios clínicos em humanos.
De acordo com Vera Dantas Moura, os resultados dos testes laboratoriais demonstraram que a Pegasemp promete ser segura: «Para haver níveis toxicamente visíveis, a dose teria de ser aumentada duas a quatro vezes», indicou.

Os ensaios clínicos decorrem em três fases, as duas primeiras possíveis de realizar em Portugal, através de uma empresa do grupo farmacêutico Bluepharma e à qual estão associados mais de uma dezena de centros de saúde e hospitais.

A primeira fase dos ensaios clínicos, explicou a investigadora, «pretende explorar a dose que o paciente consegue tolerar» e deverá decorrer durante cerca de seis meses. Na segunda fase dos ensaios, que decorrerão ao longo de um ano, a dose identificada na primeira fase é administrada aos doentes para aferir da eficácia do medicamento.

A terceira fase implica o envolvimento de unidades de saúde diferenciadas «em países diferentes» por parte de grandes empresas farmacêuticas, antes do medicamento poder ser aprovado pelas entidades competentes e entrar em comercialização.

Vera Dantas Moura disse ainda que a Pegasemp possui já três patentes registadas nos EUA e está «pronta para ser produzida» à escala industrial.

«É um medicamento inteiramente português, pronto para ser utilizado», referiu, dizendo esperar que, após os ensaios clínicos, o medicamento possa chegar ao mercado dentro de três anos.