Empresa diz desconhecer plano do ministério para dar medicamento da hepatite C 405

Empresa diz desconhecer plano do ministério para dar medicamento da hepatite C

26 de setembro de 2014

O laboratório que vende a medicação inovadora para a hepatite C diz desconhecer o plano do Ministério da Saúde para garantir o tratamento de 1.200 doentes prioritários por ano nos próximos cinco anos, por 20 milhões de euros nos primeiros 12 meses.

A farmacêutica Gilead, que comercializa a medicação que tem mostrado taxas de cura na casa dos 90%, disse ontem ao “i” que só teve conhecimento das intenções da tutela através da comunicação social.

Com base na informação avançada pela “RTP”, o tratamento ficaria assim por 16.600 euros por doente, em vez de 48 mil. Contactada pelo”i”, a empresa demarcou-se de qualquer alteração à última proposta em cima da mesa nas negociações com o ministério: 42 mil euros por doente, com a oferta de 12 semanas grátis para doentes transplantados.

«A Gilead entende que esta discussão deverá ocorrer em sede própria, ou seja, junto do Ministério da Saúde, e está a aguardar o agendamento de uma reunião para encerrar este processo», disse fonte oficial.

A RTP avançou que o plano da tutela foi aprovado na quarta-feira. O “i” contactou o INFARMED no sentido de obter mais informações sobre este plano, tendo sido remetidas explicações para mais tarde, dado ainda estarem a ser afinados detalhes. Segundo fonte oficial, estão a ser ultimados pormenores técnicos, nomeadamente as regras de acesso à medicação.

No dia 12 tinham sido emitidas normas que determinavam que só doentes muito urgentes e sem alternativa deviam ter acesso, o que levou a tutela a comprometer-se com o tratamento de 150 doentes em risco de vida até ao fim do ano. Já na semana passada, Portugal propôs na UE que os países se mobilizassem para obter um desconto de 90% e tratar todos os doentes e não apenas os urgentes, processo que continuará a ser analisado.

As novidades a nível europeu, contudo, não tardaram. O ministério da Saúde espanhol anunciou na quarta-feira ter chegado a acordo com a empresa, pagando 25 mil euros por tratamento, o que sugere que este país está fora do barco de um eventual acordo europeu.

Se em Espanha os tratamentos vão começar a ser comparticipados em novembro, por agora não existe uma data para a execução do plano nacional.

O medicamento está à venda desde janeiro e os hospitais podem pedir autorizações ao INFARMED para dar o tratamento a doentes mais urgentes.

O INFARMED revelou ontem ao “i” que já foram emitidas 29 autorizações. Mas após esta luz verde, os hospitais têm de solicitar e negociar o pagamento da medicação com a farmacêutica. De acordo com informação cedida pela Gilead, neste momento só 11 doentes em Portugal tiveram acesso a esta medicação e, destes, 4 pagaram a medicação do seu bolso no setor privado. Segundo a mesma fonte, na Europa já foram tratados 15 mil doentes em 16 países.