Encerramento de urgências: Fnam exige “uma ministra da Saúde com competência” e SIM quer que se resolva o problema da “existência dos vários SNS” 264

A presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam) exigiu hoje um ministro da Saúde “com competência para a função”, alertando para os riscos de a atual “política catastrófica” poder, em última análise, resultar em mortes de grávidas e bebés.

“Em última análise, podem morrer grávidas, podem morrer bebés e isto só se deve à política catastrófica deste Ministério de Saúde da Saúde, de Ana Paula Martins, isto não se deve a mais ninguém, e nós entendemos que estas medidas destroem o SNS”, disse Joana Bordalo e Sá à agência Lusa.

Na véspera de um fim de semana em que está previsto o encerramento de 10 urgências de Obstretícia/Ginecologia e Pediatria, a sindicalista lembrou que a Fnam avisou e antecipou que “era inevitável o que está a acontecer agora”.

“Isto só tem um responsável, chama-se Ministério da Saúde. (A ministra) Ana Paula Martins não teve vontade política para reverter esta situação e isto acontece devido à falta de médicos”, acusou.

Questionada sobre se a falta de médicos para assegurar as escalas dos serviços de urgência se deve também ao facto de os profissionais estarem a apresentar minutas de escusa às horas extra além das obrigatórias, Joana Bordalo e Sá disse que tem “algumas entregues, mas nem é necessária a sua entrega para as urgências não funcionarem”.

Salientou que o problema também se passa nas urgências de Pediatria, além da Obstetrícia, “que não têm sido muito faladas” e que “também são um drama”.

“Esta ministra da Saúde o que está a fazer, no fundo, é encerrar as urgências de obstetrícia. Não é só na região de Lisboa e Vale do Tejo, mas também em Leiria e nas Caldas da Rainha, onde ocorreu uma situação dramática que a Fnam lamenta”, disse, numa referência ao caso de uma mulher que após sofrer um aborto espontâneo viu alegadamente negada a assistência no hospital, cuja urgência obstétrica estava encerrada.

A líder sindical destacou também a situação do Hospital de Santo André, em Leiria, que vai ter a urgência ginecológica/obstétrica fechada até ao dia 19 e que, por isso, as grávidas com partos programados vão ter de escolher entre ser encaminhadas para Coimbra ou Porto.

“Isto é que parece ser o novo normal e esta ministra da Saúde está a obrigar as grávidas a fazer 200 quilómetros para irem ter os seus bebés”, acusou, alertando para o risco que esta situação acarreta.

Joana Bordalo e Sá sublinhou que a Fnam continua a defender e a exigir um SNS forte, mas “exige também um Ministério da Saúde, uma ministra da Saúde com competência para a sua função, ou seja, um ministro ou uma ministra que consiga de facto servir o SNS, porque isso não está a acontecer”.

“O Ministério da Saúde tem um problema nas mãos para o qual a Fnam alertou, antecipou, avisou e tinha as soluções para o resolver, mas a tutela não quis negociar com os médicos para ter mais profissionais neste momento no SNS”, disse.

“Se as coisas tivessem sido feitas logo a tempo e horas quando tomaram posse, se tivéssemos um processo negocial em curso, capaz de devolver e fixar médicos ao SNS, se calhar a situação não seria tão dramática e não havia tantos profissionais a deixarem o SNS”, afirmou Joana Bordalo e Sá, insistindo que é necessário ter neste momento “pessoas com competência para o cargo e para a função”.

 

SIM: Desigualdade de acesso ao SNS

“O Governo tem de resolver um problema que é a existência dos vários SNS. Não podemos ter no Norte tudo impecável, tudo a funcionar bem, e depois termos esta situação que eu considero praticamente trágica a sul de Coimbra, em que há grávidas a fazerem centenas de quilómetros por dia”, disse, à agência Lusa, o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Nuno Rodrigues, numa alusão às urgências de Obstetrícia e Ginecologia encerradas.

Para o líder sindical, estes problemas de desigualdade de acesso ao Serviço Nacional de Saúde, que têm várias razões, têm de ser resolvidos.

Como razões para esta situação, apontou a “competitividade do setor privado” como uma das principais, uma vez que os principais grupos operam em Lisboa e Vale do Tejo.

“Esta dinâmica aliada à falta de médicos que estão nos serviços leva a que cada vez sejam melhores as condições de trabalho nos privados, com melhores condições remuneratórias, e no Serviço Nacional de saúde à medida que vão saindo colegas, obviamente, os serviços vão ficando desfalcados e vai havendo também menores condições de trabalho”, argumentou.

Relativamente à falta de médicos no SNS, Nuno Rodrigues afirmou que também se deve à reforma de muitos profissionais.

“É uma tendência de longo prazo que se está a concretizar, ou seja, há uma grande percentagem de médicos que têm mais de 60 anos e muitos até já têm mais de 65 anos, e é natural que, ano após ano, vão havendo mais reformas”, explicou.

Nuno Rodrigues disse ser “natural que a situação se agrave nos próximos anos” e que a solução para o problema passa por captar os recém-especialistas e os especialistas jovens que estão fora do Serviço Nacional de Saúde.

Para isso, defendeu ser preciso apresentar um plano de médio prazo, de pelo menos cinco anos, com condições fixas que garantam “alguma estabilidade” a nível de condições de trabalho e salariais aos jovens médicos.

Adiantou que o SIM está a discutir agora com o Governo aumentos salariais e de progressão na carreira, mas defendeu serem necessárias também medidas de curto, médio ou longo prazo para os médicos ficar no SNS e muitos até regressar, “mas com condições estáveis para os próximos anos”.