Um doente que sofra um enfarte agudo do miocárdio tem um risco de mortalidade que chega a ser 30% maior se for tratado num hospital de Lisboa ou da região Sul do que se for assistido numa unidade do Norte do país. A conclusão é de um estudo desenvolvido pela investigadora Mariana Lobo, do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), avança o jornal “Diário de Notícias”.
A cientista analisou mais de 38 mil registos de internamento de 37 centros hospitalares públicos portugueses, entre 2012 e 2015, para concluir que os cuidados de saúde prestados aos doentes com enfartes não são iguais em todo o país.
«A mortalidade deveria ser homogénea, mas não é», escreve Mariana Lobo no estudo que integra a sua tese de doutoramento. E essas diferenças notam-se não só ao nível da mortalidade intra-hospitalar (de doentes que já estão internados), em que há uma variação de 8% em função da região, mas também nos regressos ao hospital após a alta: segundo os dados apurados, um doente assistido nas regiões de Lisboa, Alentejo ou Algarve corria nesse período um risco de admissão 20% superior em relação às pessoas do Norte.
A probabilidade de uma vítima de enfarte morrer é duas vezes maior se for tratada num hospital de alto risco
O efeito experiência também é importante nesta área, já que os cuidados de saúde prestados tendem a ser melhores nos hospitais que tratam mais casos de enfarte, embora isso não signifique que sejam as maiores unidades que tratam melhor. Os dados apontam que os resultados tendem a ser melhores se os hospitais forem menores. E mostram ainda que a probabilidade de uma vítima de enfarte morrer é duas vezes maior se for tratada num hospital de alto risco em termos estatísticos.
Apesar de adiantar que a região Sul apresenta hospitais «fora do expectável de uma variabilidade natural», Mariana Lobo não deixa de reconhecer que alguns deles podem até ser «excelentes, porque a sua análise não aponta as causas que justificam estes resultados – nem tão pouco pode identificar os hospitais com melhores e piores estatísticas». «Desencadeiam mais perguntas do que respostas e é preciso agora estudar as razões que justificam esta disparidade e desenhar estratégias para reduzir as desigualdades», cita o “Diário de Notícias”
A duração média da hospitalização dos doentes no período estudado foi de cinco dias e cerca de 10% morreram durante o internamento. Na maioria dos casos eram homens e a idade média era de 69 anos.