Enfermeiros de saúde mental dizem que faltam profissionais nos Açores 09 de Julho de 2015 O presidente da Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (ASPESM) disse ontem que faltam nos Açores «enfermeiros especializados» e respostas «na comunidade» em alternativa ao internamento na área da saúde mental.
«O número de enfermeiros especialistas em saúde mental que existem na prática clínica são muito diminutos, são dois ou três e são completamente insuficientes», disse Carlos Sequeira, no dia em que arrancou o 6.º Congresso Internacional da ASPESM, no hospital de Ponta Delgada, nos Açores.
Carlos Sequeira alertou para a importância de, no caso da ilha de São Miguel, se colocarem os enfermeiros do hospital de Ponta Delgada que estão a «tirar especialidade em saúde mental» a trabalhar na área de formação e não noutras especialidades.
O presidente da ASPESM ressalvou que os problemas da região se estendem a nível nacional e defendeu «uma viragem em saúde mental» com mais respostas na comunidade e contrariando o que está previsto no Plano Nacional de Saúde Mental, «que visa que os doentes devem ser institucionalizados», citou a “Lusa”,
Para Carlos Sequeira, a aposta na saúde mental deverá passar também por uma «intervenção precoce», com uma aposta na literacia não só de médicos e enfermeiros, mas de toda a sociedade em geral.
«Se houver alguém que tenha uma dor cardíaca vão dizer-lhe logo para ir ao médico porque pode ser grave, se a pessoa andar mais triste, a não querer sair com os amigos, a ficar mais em casa, a primeira resposta é sempre negativa, para a pessoa sair e não se isolar. Há um desconhecimento e a primeira resposta que é dada pelo grupo de pares não é uma resposta adequada», disse.
No 6.º Congresso Internacional da ASPESM, dedicado ao tema “A pessoa, a família, a comunidade e a saúde mental”, que decorre até sexta-feira, está a ser abordada a problemática do suicídio, numa altura em que surgem vários casos nos Açores e que o especialista estima estarem ligados à crise, que exacerbou problemas como «o desemprego, falta de esperança e de oportunidades».
«Já temos [no país] mais mortes por suicídio do que por acidentes de viação», sublinhou, considerando que «aquilo que se faz em termos de prevenção do suicídio» é «muito escasso».
No encontro nos Açores será abordado especificamente o suicídio na comunidade estudantil universitária onde «há dados preocupantes».
«Verifica-se que de facto muitos têm alguns pensamentos suicidas, estamos a falar à volta de 10 a 20 por cento, portanto, é um número muito significativo em pessoas entre os 18 aos 24 anos», disse Carlos Sequeira.
O secretário regional da saúde dos Açores já esclareceu que nos Açores existe uma resposta «descentralizada» para responder à problemática de suicídios na região.
«Todas as unidades de saúde de ilha, praticamente todas, com exceção da ilha do Corvo, têm um psicólogo já nos seus quadros. Os médicos de família estão alertados para estas situações e encaminham para estes profissionais, ou seja, nós não precisamos mais uma vez de uma unidade central de prevenção de suicídio, precisamos sim que as unidades de proximidade tenham os meios e as ferramentas necessárias para dar resposta nestas situações», sublinhou Luís Cabral, em declarações aos jornalistas na Horta. |