Enfermeiros exigiram em Coimbra mais 140 profissionais para o distrito de Leiria 566

18 de Agosto de 2014

Cerca de 20 enfermeiros concentraram-se na quinta-feira à tarde, em frente à Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro, em Coimbra, para exigir a contratação de mais 140 profissionais para o agrupamento Pinhal Litoral, no distrito de Leiria.

«De acordo com o rácio recomendado, deve haver um enfermeiro para cada 350 famílias. Ou seja, seriam necessários 288 enfermeiros e de momento apenas há 148» no Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Pinhal Litoral, observou José Carlos Martins, presidente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), presente na concentração.

Segundo o presidente do SEP, «os enfermeiros estão a trabalhar por dois, estão cansados, trabalham mais horas e num ritmo mais intenso», ficando «coisas por fazer», como é o caso do trabalho de prevenção.

Num ACES que abrange cerca de cem mil famílias, esta situação está a afetar, entre outros, «os diabéticos, por não poderem ter consultas regulares», «as crianças com menos de um ano de idade, em que não é possível fazer visitas regulares» e «o trabalho com hipertensos também sai afetado», alertou José Carlos Martins.

O presidente do SEP falava à comunicação social durante a concentração de enfermeiros daquele ACES, que abrange os concelhos da Batalha, Leiria, Pombal, Porto de Mós e Marinha Grande, que estiveram nesse dia em greve, entre o meio-dia e a meia-noite.

Após a concentração, os enfermeiros reuniram com o presidente da ARS do Centro, José Tereso.

Paulo Anacleto, coordenador regional do SEP, disse à agência “Lusa” que, na reunião, a administração regional informou que propôs ao Ministério da Saúde a contratação de mais dez enfermeiros para o ACES Pinhal Litoral, que se irão juntar aos dois novos enfermeiros que entraram no início de agosto.

«É manifesta e claramente insuficiente e vamos continuar a lutar para que não sejam apenas mais dez enfermeiros», frisou Paulo Anacleto.

Durante a concentração, onde se viam alguns balões pretos, enfermeiros empunhavam cartazes onde se podia ler “enfermeiros dizem não à exploração” ou “dotações seguras salvam vidas”.

Paulo Gomes, enfermeiro no Centro de Saúde da Marinha Grande há seis anos, disse à agência “Lusa” que, devido à falta de profissionais, tem de «trabalhar a dobrar», notando «a sobrecarga no dia-a-dia».

Ana Laura Baridó, também enfermeira naquela centro de saúde, sublinhou que «há uma discrepância entre o número de enfermeiros e as necessidades» das unidades.

Os enfermeiros estão «hoje mais longe da população, porque não têm o tempo necessário», observou, frisando que «a maior parte dos enfermeiros faz mais do que as 40 horas» semanais.

«Estamos cansados e ninguém nos ouve», concluiu.

Ordem alerta para falta de mais de 100 enfermeiros no Hospital de Santarém

A Secção Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros alertou na quinta-feira para «a falta de 100 enfermeiros» no hospital de Santarém, situação que, segundo aquela estrutura, leva à sobrecarga e desgaste de trabalho das equipas de enfermagem.

«O hospital de Santarém tem um défice de mais de uma centena de enfermeiros nos seus quadros, o que tem levado à sobrecarga de trabalho», disse à agência “Lusa” o presidente do Conselho Diretivo Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros.

Segundo o enfermeiro Alexandre Tomás, que reuniu com a enfermeira diretora do Hospital de Santarém, Ilda Veiga, para em conjunto analisarem a dotação de enfermeiros naquela unidade, «estão em falta mais de uma centena de enfermeiros, sendo que nos últimos três anos saíram, e não foram substituídos, mais de 30».

Alexandre Tomás disse que o atual quadro de enfermagem daquela unidade hospitalar é composto por 469 enfermeiros e fez notar que a falta de mais de uma centena de profissionais «está a afetar essencialmente os serviços de urgência, medicina e cirurgia».
«Apesar desta realidade, apenas foi autorizada a contração de 17 enfermeiros, o que é manifestamente insuficiente para as necessidades dos doentes que recorrem a este hospital», defendeu.

O presidente do Conselho Diretivo Regional da Ordem dos Enfermeiros disse ainda à “Lusa” que vai solicitar o agendamento de uma reunião com o Conselho Diretivo da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo.

Enfermeiros em greve de 18 a 22 de agosto no hospital de Santarém

O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) anunciou na quinta-feira uma greve de quatro dias a realizar pelos enfermeiros do Hospital de Santarém, a partir das 08:00 do dia 19 de agosto, até às 24:00 de dia 22 de agosto.

Em declarações à agência “Lusa”, Guadalupe Simões, do SEP, disse que o que está em causa é a «falta de 170 enfermeiros» naquele hospital, «quando deveria ter um quadro com 570 profissionais», e a consequente «rutura nos serviços prestados ao nível dos serviços de urgência e internamento, a rutura iminente nos cuidados intensivos e o caos que se verifica no serviço de medicina».

A dirigente sindical apontou, ainda, como motivos para a realização da greve o «incumprimento dos horários legais de trabalho, a exigência de uma rápida admissão de mais profissionais naquela unidade de saúde e o pagamento do trabalho extraordinário».

«Os enfermeiros que foram saindo nunca foram substituídos e os que ficam têm de fazer o trabalho pelos que não estão», vincou Guadalupe Simões.

A dirigente sindical destacou ainda «a escassez, e a redução do número de elementos por turno», uma situação que «dá origem a uma carga excessiva de trabalho».

O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses reivindica a «rápida admissão de mais enfermeiros, horários legais, o pagamento do trabalho extraordinário e, ainda, que aos enfermeiros a Contrato Individual de Trabalho (CIT) seja aplicada a remuneração e direitos dos enfermeiros em Contrato Trabalho da Função Pública».

Enfermeiros alertam para possíveis consequências de exaustão nos cuidados prestados

A Ordem dos Enfermeiros (OE) alertou na sexta-feira para o estado de exaustão em que se encontram estes profissionais e apelou ao ministro da Saúde para que reconheça a importância deste cansaço na segurança e qualidade dos cuidados prestados.

A OE responsabiliza mesmo «os decisores políticos pelas consequências que podem advir para a qualidade e segurança dos cuidados de enfermagem se continuarem a ser ignorados os sinais de exaustão dos profissionais, ou se forem encarados sem a atenção que merecem, como tem acontecido até agora».

Em comunicado, a Ordem afirma que os serviços de saúde portugueses «estão em clara rutura» pela falta de preocupação dos decisores políticos relativamente aos níveis de exaustão e insatisfação dos profissionais, apontou a “Lusa”.

Por isso, a OE apela ao ministro da Saúde «para que reconheça a influência destes fatores na segurança e qualidade dos cuidados a que os cidadãos têm constitucionalmente direito, não os banalizando e confundindo com fatores económicos».

A OE disse que algumas das consequências deste cansaço «não são visíveis a olho nu», porque o sistema de classificação dos hospitais portugueses não diferencia serviços a trabalhar adequadamente de serviços com prestação insegura de cuidados.

A Ordem lembra um estudo publicado recentemente pela Universidade Católica, que identificou um nível de exaustão significativo nos enfermeiros portugueses, bem como uma enorme insatisfação com a progressão na carreira e com o seu nível salarial.

Existem, para além disso, estudos que relacionam os níveis de exaustão dos enfermeiros com resultados adversos para os doentes, identificando maiores riscos de erro, quase-erro ou resultados aquém do esperado.

Os turnos longos (por falta de enfermeiros nas instituições), o elevado número de doentes por enfermeiro, e o trabalho noturno e por turnos estão entre as principais razões apontadas para este estado de exaustão dos enfermeiros.