Envelhecimento ativo: um conjunto de políticas para todos 919

Segundo as previsões da Organização Mundial de Saúde (OMS), entre 1970 e 2025, a população idosa irá crescer 223%. Em Portugal, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), o índice de envelhecimento foi de 146,5 idosos, por cada 100 jovens em 2015. De acordo com as previsões, em 2080 «o índice de envelhecimento mais do que duplicará, (…) para 317 idosos, por cada 100 jovens».

O fenómeno da acentuada longevidade questiona a sustentabilidade dos sistemas de saúde e de segurança social, pressionando os governos a implementar medidas que ajudem os mais idosos a viver com qualidade, a melhorar a sua saúde e a promover uma vida ativa. Esta alteração demográfica, na perspetiva de um cenário em que se vive mais tempo e de forma mais saudável, conduzirá a uma nova realidade, em que também o tempo de atividade profissional será prolongado, impondo-se uma articulação deste, com a reforma (Ferreira, P. M., 2015).

O envelhecimento ativo, como definido pela OMS, corresponde a um esforço pela otimização da saúde, da segurança e da participação social e profissional, com ênfase num certo nível de qualidade de vida e saúde para os mais idosos, baseado na atividade física e mental e na participação ativa em ambientes sociais, culturais ou espirituais. De acordo com este princípio, pessoas que já não trabalhem ou sofram de algum tipo de incapacidade podem viver de uma forma não sedentária, dinâmica e saudável e com menor risco de doença, o que poderá contrabalançar os custos associados a cuidados de saúde e da segurança social.

Em Portugal, no âmbito do projeto Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações 2012 (1) , desenvolveram-se medidas que procuram contribuir para um envelhecimento ativo e uma melhoria na qualidade de vida das populações idosas, assentes no seu bem-estar e inclusão social, medidas estas, integradas de forma interdisciplinar, entre ministérios e entidades civis. Em setembro de 2017, Portugal irá organizar o terceiro ciclo de revisão destas estratégias, recebendo a conferência internacional da Organização das Nações Unidas (ONU) para discutir o envelhecimento ativo e os desafios que a nossa sociedade enfrenta.

Um caso típico destas medidas são as academias “Universidades Seniores”. O seu papel na promoção do envelhecimento ativo foi reconhecido oficialmente na Resolução do Conselho de Ministros nº. 76/2016, pelo reforço da inserção e participação social e na melhoria da qualidade de vida das pessoas que as frequentam, como também pelo aumento de conhecimentos proporcionados e da manutenção de uma vida saudável.

Estudos existentes denotam o impacto positivo das Universidades Sénior na qualidade de vida, na saúde e integração dos seus alunos, quando as suas necessidades básicas estão satisfeitas, como sejam o estado de saúde, o rendimento e a segurança (Escuder-Mollon, Curto, Ochoa e Bardus, 2013). No entanto, este impacto está a ser medido apenas em indivíduos que já frequentam atividades nas universidades sénior, sem realizar comparações com grupos de pessoas que não as frequentam. Ou seja, observam-se benefícios que são apenas verificados numa população auto-selecionada.

Uma vez que os indivíduos que integram as Universidades Sénior tendem a possuir, previamente, níveis de escolaridade e rendimentos relativamente mais elevados (Biehl-Printes et al., 2014), as Universidades Sénior podem não estar a ter o efeito desejável na promoção do envelhecimento ativo, de toda a população idosa.

Villar, Triadó, Pinazo, Celdrán e Solé (2010) afirmam que entre os maiores impedimentos à entrada nas Universidades Sénior estão problemas de saúde, falta de informação, falta de interesse ou baixa autoconfiança.

Se não forem considerados os fatores que limitam o acesso a estas instituições ou se os seus serviços não forem devidamente divulgados junto de populações menos favorecidas, as Universidades Sénior poderão estar a acentuar as desigualdades no processo de envelhecimento, por via de um mecanismo de auto-seleção, em que apenas os idosos mais instruídos e proactivos usufruem dos serviços destas instituições.

Assim, seria útil começar por investigar melhor os fatores limitadores do ingresso nas Universidades Sénior e os seus determinantes, junto dos idosos que não as frequentam. O conhecimento dessas barreiras permitiria escolher as formas adequadas de organizar atividades de comunicação, de divulgação e de facilitação, para os grupos de idosos com dificuldades no acesso. Refira-se, contudo, a ausência de literatura específica sobre esta temática.

A realização de estudos longitudinais, com uma amostra de idosos, antes e durante a frequência das atividades, bem como a comparação entre grupos homólogos, com e sem a frequência das mesmas, poderia ajudar a perceber melhor o real impacto das Universidades Sénior no envelhecimento ativo.

Parece imperativo que a definição das políticas deva incentivar um envelhecimento saudável e digno para todos. Existindo ainda, barreiras por ultrapassar, requer-se um esforço maior para moldar as políticas às necessidades e características de toda a população idosa, sob pena das atuais serem, medidas por si só, insuficientes. Neste momento, estas medidas promotoras do envelhecimento saudável e ativo parecem estar mais concentradas em certos grupos, a título de exemplo, nos estratos sociais mais elevados, que tendem a ter uma esperança média de vida maior e melhor acesso a cuidados de saúde.
Existe hoje um largo consenso sobre a necessidade de proporcionar uma maior integração dos diferentes grupos de idosos, incentivando políticas de envelhecimento ativo mais abrangentes e adequadas a todos.

(1) Tem o objetivo de sensibilizar a sociedade Europeia para a importância socioeconómica dos idosos na nossa sociedade como também de difundir medidas que instituam oportunidades para que estes permaneçam ativos.

Referências:
Biehl-Printes, C., Texeira, D., Costa, A., Pinheiro, V., Sousa, P., Cruz, J., & Tomas-Carus, P. (2014). A comparative study of the functional fitness and perception of quality of life among elderly participants and non-participants of Universities of third age.
Escuder-Mollon, P., Esteller-Curto, R., Ochoa, L., & Bardus, M. (2014). Impact on senior learners’ quality of life through lifelong learning. Procedia-Social and Behavioral Sciences, 131, 510-516.
Ferreira, P. M. (2015). O Envelhecimento ativo em Portugal: tendências recentes e (alguns) problemas. Kairós Gerontologia. Revista da Faculdade de Ciências Humanas e Saúde. ISSN 2176-901X, 18(19), 07-29.
Governo de Portugal, (2012). Ano Europeu do envelhecimento ativo e da solidariedade entre gerações. Programa de acção.
INE. (2017). Projeções de População residente 2015-2080. Retrieved from https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=277695619&DESTAQUESmodo=2
Presidência do conselho de Ministros (2016). “Resolução do conselho de Ministros n.º 76/2016”.
Villar, F., Triadó, C., Pinazo, S., Celdran, M., & Solé, C. (2010). Reasons for older adult participation in university programs in Spain. Educational Gerontology, 36(3), 244-259.
World Health Organization. (2015). World report on ageing and health. World Health Organization.

Beatriz Macedo

(A coluna Notas da Nova é uma contribuição para a reflexão na área da saúde, pelos membros do centro de investigação Nova Healthcare Initiative – Research. São artigos de opinião da inteira responsabilidade dos autores).