Assinala-se hoje o Dia Europeu de Ação na Enxaqueca, uma patologia que afeta cerca de dois milhões de portugueses, sendo a segunda causa mundial de incapacidade.
Esta doença neurológica incapacitante e imprevisível continua a ser incompreendida, quer no seio familiar quer no ambiente laboral. Apesar de em Portugal, tanto no Serviço Nacional de Saúde (SNS) como no sistema privado, existirem centros especializados no tratamento das cefaleias e enxaqueca, estes estão apenas destinados aos 1 a 2% de casos mais complexos.
Escassez de profissionais
No âmbito da efeméride, a associação MiGRA Portugal e a Sociedade Portuguesa de Cefaleias vêm alertar para a elevada escassez de especialistas, que resulta numa oferta limitada de serviços por parte do SNS, face às necessidades dos doentes: apenas 13% dos doentes que necessitam têm acesso às consultas de especialidade, sendo necessários vários anos para que tenham acesso à consulta de Cefaleias. Em média, apenas cerca de 300 doentes são tratados com medicação específica, por ano, em Portugal.
Custo elevado das terapêuticas
“Grande parte dos doentes vê-se obrigada a recorrer a consultas privadas, com elevado esforço financeiro, além do custo das terapêuticas específicas, que chegam a representar mais de metade do salário mínimo em Portugal. Terapêuticas estas que são disponibilizadas nos hospitais públicos com comparticipação a 100%, aos poucos doentes que conseguem ter acesso à consulta”, sublinha Raquel Gil-Gouveia, neurologista especialista em Cefaleias e membro da Sociedade Portuguesa de Cefaleias, em comunicado.
Para a neurologista, “existe, assim, uma discriminação no acesso ao tratamento, (dado que as terapêuticas mais eficazes e com menos efeitos secundários não estão a chegar aos doentes), bem como é manifesta a incapacidade do SNS em disponibilizar consultas em número suficiente, com tempos de espera que chegam a ser superiores a um ano”.
O estigma de ser ‘apenas’ dor de cabeça
Já de acordo com a MiGRA Portugal, “há em Portugal mais casos de enxaqueca do que aqueles que estão identificados e diagnosticados. Muitas pessoas sofrem em silêncio pelo desconhecimento e desvalorização desta doença responsável pela maior perda de anos de vida por incapacidade nas mulheres com menos de 50 anos. Existe uma dificuldade dos próprios doentes, dos profissionais de saúde e da sociedade no geral em aceitar a enxaqueca como uma doença neurológica. O estigma de que é apenas uma dor de cabeça, de que é uma desculpa ou mesmo a culpabilização do próprio doente, levam a que esta doença não seja adequadamente diagnosticada, acompanhada e tratada, impactando a esfera pessoal e laboral dos doentes, e até mesmo a produtividade e economia do País”.
Um inquérito realizado pela MiGRA Portugal revelou estatísticas alarmantes: 60% dos doentes em tratamento para a enxaqueca expressam insatisfação com o seu tratamento, e entre 55 a 70% permanecem alheios às opções de tratamento inovadoras. Adicionalmente, cerca de 40% não têm acompanhamento médico e 70% dos que são acompanhados tiveram de recorrer ao privado.
“Perante estes números, verificamos a urgência em melhorar os cuidados prestados nas Cefaleias, nomeadamente a Enxaqueca”, sublinha, também em comunicado, Madalena Plácido, presidente da Direção da MiGRA Portugal, associação que, em conjunto com a Sociedade Portuguesa de Cefaleias, entende como prioritárias a reorganização do sistema de cuidados de saúde e a mudança nas políticas de Saúde Pública, que tenha em consideração o contexto destas patologias.
Caminhada a 12 de outubro
Para sensibilizar para este tema, a MiGRA Portugal está a organizar a Caminhada pela Enxaqueca, no dia 12 de outubro, às 10h, no Parque das Nações em Lisboa.
A iniciativa conta como mote “Os passos que contam” e quer dar a conhecer os vários passos que uma pessoa com enxaqueca tem de dar ao longo do seu percurso pelos cuidados de saúde.
Pode inscrever-se através deste link.