José Aranda da Silva, antigo presidente do Infarmed e antigo bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, aponta a falta de medicamentos atual como “grave e multifatorial”.
Em entrevista esta quarta-feira ao programa Antena Aberta, da Antena 1, apontou o dedo à reexportação de medicamentos feita por algumas empresas a entidades que lhes pertencem ou estão diretamente ligadas. “O mercado grossista está neste momento na mão de 10/15 grandes companhias, a maior parte internacionais”, referiu, ao lembrar que na sua presidência no Infarmed (entre 1993 e 2000) “havia 200 grossistas” em Portugal.
Outro problema é precisamente o da escassez de alguns medicamentos. “Há sempre alternativas terapêuticas, 80% dos medicamentos que são consumidos são genéricos, que correspondem a 20% da despesa”, explicou. Em Portugal “há 20 fábricas de produção de medicamentos, mas de matérias-primas só há duas”, rezão pela qual o país, bem como a Europa, se encontra dependente de outros mercados.
Uma vez que “a maior parte” dos medicamentos produzidos em Portugal “são para exportação para a Europa”, o Infarmed “devia ter um contacto mais estreito com essas empresas produtoras”, também porque o país exporta “2 mil milhões de euros em medicamentos, muito mais do que o vinho do Porto”. O antigo bastonário dos farmacêuticos defende ainda uma reserva estratégica que garanta que nos armazéns “haja sempre um nível de stock que é baseado no que existe e é produzido todos os dias”.
“Os problemas de fundo existem”
Também Jorge Gonçalves, do departamento de Ciências do Medicamento da Universidade do Porto, classificou como “grave” a falta de medicamentos. “A partir da altura em que nos apercebemos que na farmácia já não há tudo, isto muda-nos o racional, cria-nos insegurança e temos que nos preparar para uma nova realidade, em que poderá não haver tudo”, explicou o responsável.
No entanto, esta não é uma “crise extrema porque existem vários dados científicos que nos permitem, a cada momento, encontrar uma alternativa”. Desta forma, permitem “resolver problemas imediatos, mas os problemas de fundo existem”, pelo que é necessário “incentivar a reindustrialização farmacêutica, o aumento da capacidade da Europa produzir as matérias-primas e a melhoria da literacia” em Saúde.