
Na Semana Mundial de Consciencialização Sobre o Uso de Antibióticos, promovida pela Organização Mundial da Saúde, Carolina Palmela, médica gastrenterologista do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, alerta que, quando utilizados para tratar uma infeção não gastrointestinal, levam ao desequilíbrio dos microrganismos do intestino e a um potencial aumento de bactérias prejudiciais para a saúde.
“A curto prazo, a diarreia, por alteração da microbiota intestinal, é uma das principais complicações da antibioterapia. Este sintoma afeta cerca de 10-40% das pessoas medicadas com antibióticos, podendo atingir os 62% nas crianças”, refere, num comunicado do Biocodex Microbiota Institute, Carolina Palmela.
O risco de diarreia aumenta com a maior duração do tratamento. De acordo com a médica, os antibióticos vão levar à diminuição e/ou eliminação de grupos de bactérias benéficas, como os lactobacilos e bifidobactérias, o que pode resultar na maior proliferação de bactérias patogénicas, como o Clostridioides difficile.
“Em função do doente, a diarreia pode aparecer precocemente, logo nos primeiros dias, impedindo o cumprimento do tratamento antibiótico, ou mais tarde, a partir do sexto, sétimo dia de terapêutica. Mesmo nos indivíduos que não desenvolvem diarreia com a toma de antibióticos, a maioria desenvolve disbiose (desequilíbrio) intestinal, que poderá levar a consequências importantes a médio-longo prazo”, refere a médica.
Complicações graves a longo prazo
Carolina Palmela alerta que “a alteração a longo prazo da microbiota intestinal normal pode conduzir à transferência horizontal de genes de resistência a antibióticos, a qual pode resultar em reservatórios de bactérias com material genético resistente a múltiplos fármacos”.
A disbiose intestinal a longo prazo poderá também contribuir, segundo a especialista, “para o desenvolvimento de múltiplas patologias no futuro, como a doença inflamatória intestinal, doença de Crohn, síndrome do intestino irritável, obesidade, asma, assim como doenças neurológicas e psiquiátricas”.
Por isso, Carolina Palmela apela à utilização de antibióticos “apenas quando existe indicação – elevada suspeita ou confirmação de uma infeção bacteriana”, sublinhando que a maioria das infeções são virais, sobretudo em idade pediátrica, e, neste caso, não existe indicação para toma de antibióticos.
Por outro lado, lembra que não deve ser excedida a duração recomendada da terapêutica, porque “aumenta o risco de efeitos adversos como a diarreia e a disbiose intestinal, sem existir benefício clínico do prolongamento do tratamento”.
Como prevenir e tratar a disbiose
Carolina Palmela recomenda:
- Quando a toma do antibiótico é necessária, é desejável que seja acompanhada da toma de um probiótico que apoie a estabilização da microbiota intestinal e previna o risco de disbiose. “Diversos ensaios clínicos e meta-análises demonstraram que a utilização de probióticos juntamente com o início do antibiótico ou até 48 horas depois do início do mesmo pode ajudar a prevenir ou tratar as consequências da disbiose associada ao antibiótico como a diarreia”.
- Como nem todos os probióticos são iguais, “é essencial que seja um com evidência científica do seu benefício na prevenção e/ou tratamento da diarreia associada aos antibióticos”. Várias revisões sistemáticas e meta-análises suportam o uso da levedura Saccharomyces boulardii CNCM I-745 e da bactéria Lactobacillus rhamnosus GG no tratamento e/ou prevenção da diarreia associada a antibióticos em adultos e crianças. O Saccharomyces boulardii apresenta ainda a vantagem de, ao ser uma levedura, não ser eliminado diretamente pelo uso de antibióticos, podendo ser administrado em simultâneo com antibióticos para tratamento ou prevenção da disbiose.