Especialista defende negociação transnacional de medicamento contra hepatite C 19 de junho de 2014 O hepatologista Armando Carvalho, do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), defendeu hoje em Coimbra uma negociação transnacional para diminuir custos de medicamento contra hepatite C, avança a agência “Lusa”.
A Comunidade Europeia «deveria constituir-se como uma força negocial com as farmacêuticas», disse o clínico do CHUC, considerando que, ao ser criado «um parceiro mais alargado», poder-se-ia «negociar preços muito mais baixos» e garantir «que todos os cidadãos tenham o mesmo nível de acesso» aos tratamentos.
A 12 de junho, o INFARMED anunciou estar a negociar com a indústria farmacêutica um preço adequado para o novo medicamento contra a hepatite C que permita a sustentabilidade do sistema de saúde e o acesso generalizado dos doentes.
Um investimento a longo prazo
Face aos elevados custos dos medicamentos contra a hepatite C, Armando Carvalho sublinhou que «o médico deve prescrever o medicamento que seja a melhor opção para o doente, independentemente do custo desse mesmo medicamento», referindo que «quem deve limitar o acesso a recursos não deve ser o médico».
O Governo «tem de assumir o que pode dar e o que não pode dar e não pretender que seja o médico a dizer que não dá porque é caro», sustentou o hepatologista, frisando a necessidade de «se criar um plano nacional, que faça uma estimativa de doentes, que determine o tratamento mais adequado e uma verba atribuída».
O especialista apontou para o caso do plano em torno da SIDA, «que conta com mais de 200 milhões de euros», realçando a necessidade de se criar um plano semelhante para a hepatite C que apenas precisaria «de 30 ou 50 milhões de euros».
Armando Carvalho destacou que os novos tratamentos garantem «que cerca de 90% dos doentes ficam curados». Os doentes que receberiam esse tratamento «nunca mais precisariam de cuidados de saúde motivados pela hepatite C», disse.
«Apesar de um investimento elevado, paga-se no longo prazo», concluiu o médico, que falava à agência “Lusa” à margem do Fórum “Vamos Curar a Hepatite C em 2014”, que decorre durante a tarde de hoje no Hotel Tryp, em Coimbra.
“Genocídio de colarinho branco”
A SOS Hepatites denunciou neste mês que mais de cem doentes graves aguardam pela aprovação da utilização do novo medicamento contra a hepatite C, uma espera que lhes pode valer a vida e que já classificam como um “genocídio de colarinho branco”.
A SOS Hepatites considerou tratar-se de um «legítimo direito de acesso à saúde» que está a ser negado aos doentes, com a justificação do elevado preço deste novo fármaco – Sofosbuvir -, que tem uma taxa de cura superior a 90% e é o único eficaz para todos os genótipos da infeção e que pode ser usado pré e pós transplante.
Segundo o INFARMED, o que está a acontecer em Portugal é que a análise relativa ao valor terapêutico acrescentado e ao custo-efetividade está concluída, faltando para a sua aprovação final que a indústria farmacêutica «proponha um preço adequado que não ponha em risco a sustentabilidade do SNS [Serviço Nacional de Saúde]».
O INFARMED afirma que a primeira proposta de preço do medicamento foi de 48 mil euros por tratamento, pelo que com mais de metade dos doentes a necessitarem do dobro do tempo de terapêutica, tal representaria 96 mil euros por tratamento. |