Especialista diz que imuno-oncologia já apresenta «benefícios muito comprovados» 08 de Abril de 2016 A oncologista médica Ana Castro, do Centro Hospitalar do Porto (CHP), destacou ontem que a imuno-oncologia já tem “benefícios muito comprovados”, em vários tipos de cancro, e defendeu o acesso precoce dos doentes a estas terapêuticas. «A imuno-oncologia é um conceito um bocadinho diferente do que tínhamos até agora. Antes, tínhamos tratamentos dirigidos ao tumor, mas na inumo-oncologia treinamos o sistema imunitário para responder ao tumor, ou seja, são as nossas células T que vão ser os ‘soldados’ que matam as células tumorais», explicou. Trata-se de «um princípio que, em si só, é muito atrativo», até porque a imuno-oncologia é menos agressiva do que as terapêuticas tradicionais, como as que recorrem aos quimioterápicos, e já tem resultados muito positivos, referiu. «Temos áreas com benefícios muito comprovados», frisou Ana Castro, que falava à agência “Lusa” à margem da 12.ª edição dos Encontros da Primavera, um congresso especializado em oncologia que está a decorrer Évora, desde ontem e até sábado. A imunoterapia, que inclui a inumo-oncologia, foi o tema de um dos cursos pré-congresso realizados ontem, ao longo do dia. Em declarações à “Lusa”, Ana Castro considerou que a oncologia como existe até agora deverá «deixar de fazer sentido no futuro», graças aos avanços na imuno-oncologia, que pode passar a ser «o backbone (espinha dorsal)» da atuação oncológica. A investigadora destacou que, todos os dias, surge inovação nesta área, exemplificando que, na quarta-feira, as autoridades europeias aprovaram a utilização do nivolumab, uma nova terapêutica de imuno-oncologia para o cancro do rim com metástases. «Foi uma das aprovações mais rápidas a que assistimos nos últimos tempos. Isto prende-se com o facto de, nos ensaios clínicos, comparados com a terapêutica que tínhamos disponível, termos conseguido observar um ganho em termos de sobrevivência global mediana de 12 meses», congratulou-se. Em Portugal, revelou, existem doentes com cancro do rim em tratamento com esta terapêutica, por uso compassivo: «Na minha instituição, temos oito doentes em tratamento, mas em Portugal acredito que até haja mais. Os resultados clínicos foram tão bons que, antes da aprovação, o laboratório disponibilizou» a terapêutica, caso «as instituições pedissem». O rápido acesso a estes novos fármacos é importante para que os doentes possam ter ganhos de sobrevivência e de qualidade de vida, disse, defendendo a importância dos Programas de Acesso Precoce (PAP) para estas terapêuticas: «Já vamos tendo vários PAP para a imunoterapia, mas ainda um bocadinho aquém daquilo que gostaríamos». Segundo a médica, «tão importante como a negociação dos preços», por parte das autoridades nacionais, «é garantir que os doentes tenham acesso» a estas terapêuticas inovadoras. «Os recursos são finitos e não sabemos ainda quais são ou serão os preços destas terapêuticas. Seguramente, serão dispendiosas, mas, se calhar, é importante que quem regulamenta esta área pense que é fundamental termos os PAP até a avaliação e as negociações estarem concluídas, porque não é legítimo deixar os doentes por tratar», argumentou. No curso de ontem, também João Paulo Cruz, gestor do medicamento no Hospital de Santa Maria, abordou as mais-valias da imuno-oncologia, referindo que «pode ser interessante» para atuar em vários tipos de cancro, mas «não é a panaceia para todos os cancros». Por outro lado, estes fármacos «vêm com preços quase proibitivos», o que levanta o desafio de «como é que nos hospitais se acomoda esta despesa», disse, frisando: «Acima dos hospitais estão a tutela, os governos e as agências reguladoras, que, muitas vezes, deviam ter um papel mais atuante», mas ao invés disso deixam aos hospitais «quase todo o ónus» de decisão. Nos Encontros da Primavera, que juntam mais de mil profissionais de saúde especializados em oncologia, são analisadas e debatidas as mais recentes inovações científicas nesta área médica. |