Especialistas defendem calendário vacinal para adultos no programa de vacinação 191

A inclusão de um calendário vacinal para adultos no Programa Nacional de Vacinação (PNV) é uma das principais recomendações de políticas públicas elaboradas por mais de 20 especialistas que visam reforçar a proteção vacinal na idade adulta em Portugal.

As 21 recomendações, hoje divulgadas num relatório, foram geradas no âmbito do Projeto + Longevidade, um think thank dedicado ao impacto da vacinação no adulto coordenado pelo laboratório de investigação NOVA Center for Global Health da NOVA Information Management School que conta com Francisco George (ex-Diretor-Geral de Saúde) e a participação de dois ex-ministros da saúde (Luís Filipe Pereira e Adalberto Campos Fernandes).

 

Portugal sem estratégia abrangente de vacinação para o adulto

O documento, segundo explicado em comunicado, que foi divulgado, hoje, no Parlamento, refere que Portugal é um dos poucos países da União Europeia (UE) onde ainda não existe uma estratégia abrangente de vacinação especificamente dirigida ao adulto – seja por via de um calendário vacinal isolado ou integrado no programa de vacinação nacional, ou por via da narrativa de comunicação e sensibilização dirigida à população. Um cenário que se reflete não só no facto de este ser o quarto país onde a população idosa tem menos anos de vida saudáveis após os 65 anos, como também se traduz numa despesa que, se forem projetados para Portugal dados de países similares, se poderá exprimir em 245 milhões de euros em custos diretos e indiretos para tratar patologias preveníveis por vacinação como a Doença Pneumocócica, Gripe, HPV, Herpes Zoster (Zona) e Vírus Sincicial Respiratório (VSR).

 

Amplificação do PNV

Em resposta a este cenário, e tendo em consideração a evidência que comprova que a vacinação no adulto traz ganhos em saúde e económicos para o país, o think tank  propõe uma maior aposta e atenção política à prevenção por vacinação, em vésperas da apresentação do Orçamento do Estado para 2025, através de uma amplificação do atual Programa Nacional de Vacinação (PNV), com o propósito de incluir um calendário vacinal dirigido à faixa etária do adulto, bem como de reforçar e destacar a narrativa preventiva ao longo da vida e as indicações vacinais dirigidas à população mais velha e vulnerável.

Ao mesmo tempo, os especialistas deste think tank recomendam que seja otimizada a cobertura vacinal nos adultos através da identificação dos pontos de check-up ou de sensibilização e incentivo à vacinação que possam ser reforçados dentro e fora da rede de cuidados de saúde.

 

Reforço da intervenção das Unidades de Cuidados na Comunidade

Outra das ambições elencadas nas recomendações propostas pelo projeto +Longevidade passa por incentivar uma maior capacitação do sistema de saúde para dar resposta aos desafios vacinais, em especial através do reforço da intervenção das Unidades de Cuidados na Comunidade (UCC) e das Unidades de Saúde Pública (USP) no contexto da rede de cuidados primários, com vista a implementação de recursos e mecanismos orientados para o incentivo à adesão da população adulta à vacinação. A definição de novos modelos de avaliação e financiamento público é também apontada como uma medida fundamental, sendo necessário que estes sejam adaptados à natureza específica das vacinas com indicação para adultos, potencialmente alinhados com indicadores de cobertura, ganhos em saúde e qualidade de vida. Neste âmbito, sugere-se ainda que haja um reforço de cooperação entre o INFARMED e a Direção-Geral da Saúde (DGS) na avaliação de cada vacina.

 

Educar os cidadãos

Por fim, o novo relatório demonstra igualmente a necessidade de se salvaguardar o compromisso da população adulta com a vacinação. São propostas, entre outras medidas, a implementação de campanhas de comunicação e de sensibilização que eduquem os cidadãos para os benefícios alargados e multidimensionais das vacinas em idade adulta, bem como a segmentação populacional das narrativas e linhas de ação, com o objetivo de alinhar a estratégia de atuação com as necessidades de diferentes grupos populacionais.

Os especialistas responsáveis por este projeto apelam à ação por parte dos decisores políticos, profissionais de saúde e da sociedade em geral para a adoção de uma abordagem proativa na vacinação do adulto.

 

DGS está a avaliar a introdução da vacina contra a zona no PNV

Neste contexto, Rita Sá Machado, diretora-geral da Saúde, citada no comunicado, destaca que “a vacinação continua a ser uma prioridade para a DGS” e que “a vacinação nos adultos já é parte do Programa Nacional de Vacinação, mas estamos a fazer pareceres e novas propostas, para a podermos expandir e alargar com base na melhor evidência científica”. A par disto, a representante deste organismo público salienta a inovação na área das vacinas: “Temos de poder contemplar e incluir esta progressão impressionante, para nos juntarmos a parceiros europeus, e fazermos revisões em matéria daquilo que é a inovação que está lá fora.”

Nos últimos tempos, o tópico da vacinação no adulto tem vindo a ganhar destaque na política de saúde. Exemplo disso é a campanha de vacinação contra a Gripe e COVID-19 que arrancou na semana passada, e que este ano conta com o alargamento da vacina de alta dose contra a Gripe em pessoas com idade igual ou superior a 85 anos.

Outra das temáticas em debate, na antevisão da apresentação do Orçamento do Estado para 2025, é a possível introdução da vacina contra o Herpes Zoster (Zona) no PNV. Em julho deste ano, a DGS informou que estaria a avaliar a introdução desta vacina que já faz parte dos programas públicos de diversos países europeus.