Especialistas querem identificar soluções para melhorar acesso à terapia com células CAR-T 56

A gestão e a expansão do acesso à terapia com células CAR-T em Portugal, uma das terapias mais promissoras e inovadoras na luta contra alguns cancros do sangue, vão estar no centro do debate no projeto SHARP. Esta iniciativa do NOVA Center for Global Health, laboratório de investigação da NOVA Information Management School (NOVA IMS), com o apoio da Kite, uma empresa Gilead, vai reunir especialistas das áreas clínica, científica, económica, política e social.

O projeto terá três sessões estratégicas, nas quais vão ser debatidos os principais desafios e identificadas recomendações que permitam ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) aumentar a resposta e integração desta tecnologia inovadora no tratamento destas e de outras potenciais doenças, assegurando um acesso rápido, eficiente e seguro para todos os doentes elegíveis.

As células CAR-T são uma tecnologia que está a trazer alterações estruturais na forma como se abordam algumas doenças oncológicas. No curto/médio prazo, será também alargada a outros problemas oncológicos, a muitas doenças autoimunes e mesmo alguns problemas cardíacos”, explica, em comunicado, Henrique Lopes, diretor do NOVA Center for Global Health.

Dado ser uma tecnologia de vanguarda e com especificidades novas, “o país tem de se capacitar a todos os níveis: estruturas, preparação de profissionais, modelos de financiamento e outros procedimentos de gestão de saúde”, continua Henrique Lopes, acrescentando que “ambicionamos com este projeto SHARP, dar o nosso contributo ao país para a criação e proposta de soluções que permitam o acesso atempado e equitativo a todos os doentes elegíveis a esta terapia”.

 

Custo-efetivo

primeira sessão, centrada nos modelos de financiamento desta terapia, reuniu diversos especialistas do ecossistema da saúde. Entre os participantes estiveram também dois dos membros do Steering Committee, Fernando Leal da Costa, diretor do Departamento de Hematologia do IPO Lisboa e membro da Direção do Colégio de Especialidade de Hematologia Clínica da Ordem dos Médicos, e Xavier Barreto, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares.

Para Fernando Leal da Costa, “a tecnologia CAR é incontornável no tratamento de doenças malignas e vamos assistir à expansão do seu uso. Teremos mais indicações terapêuticas aprovadas, em linhas de tratamento mais precoces e para mais doenças, ao mesmo tempo que irão surgir mais alvos antigénicos, CAR produzidas em poucas horas, associação de CAR com outros tratamentos e até CAR alogénicas disponíveis na “prateleira” e prontas a usar. Os sistemas de saúde ainda não estão preparados para tudo isto”.

Numa perspetiva económica, Xavier Barreto sublinha, citado no comunicado referido, que “estes tratamentos têm custos elevados, têm tendência para aumentar (por aumento das indicações e do número de doentes) e não são adequadamente financiados pelo Estado. Ora, sabendo que são tratamentos potencialmente curativos para patologias graves e partindo do pressuposto que o uso é considerado custo-efetivo, não podemos aceitar que o financiamento se possa constituir como um obstáculo ao uso destas terapêuticas. É urgente rever o financiamento das terapias com células CAR-T, garantindo que a retribuição é justa e que promove a equidade do seu uso no SNS português”.

Nas sessões seguintes, serão abordados temas centrais para o sucesso da implementação da terapia com células CAR-T em Portugal, incluindo a gestão e governança da jornada do doente a partir de uma visão multidisciplinar, bem como questões relacionadas com a evidência científica, o diagnóstico e a referenciação.

 

O SHARP

As perspetivas e recomendações resultantes do projeto SHARP serão consolidadas num relatório público, com previsão de apresentação no primeiro semestre de 2025, onde serão incluídas recomendações estratégicas para melhorar o acesso à terapia com células CAR-T em Portugal e fortalecer a capacidade do sistema de saúde para permitir o acesso a tecnologias inovadoras.