A Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG) alertou esta quarta-feira para a necessidade de um rastreio universal às hepatites e pediu maior celeridade e menos burocracia no acesso aos tratamentos.
Em declarações à agência Lusa na véspera do Dia Mundial das Hepatites, que se assinala na quinta-feira, dia 28 de julho, o presidente da SPG, Guilherme Macedo, sublinhou a importância dos médicos de família. “Por isso, a nossa mensagem tem sido por um lado, para os profissionais de saúde, relembrando da importância e da necessidade de fazerem aos seus doentes, pelo uma vez na vida, os testes das hepatites víricas. (…) Por outro, a população deve compreender a necessidade de pedir a realização deste teste”, explicou.
Guilherme Macedo lembrou que “as hepatites víricas crónicas não dão nenhuma manifestação clínica”, sublinhando a importância de “procurar ativamente” estas doenças, que têm cura se detetadas precocemente. Sobre os tratamentos, lembrou que o processo ainda é muito burocrático e precisa de ser mais facilitador do acesso: “Há uma assimetria muito grande no país (…) que está muito dependente de uma complexidade burocrática que não faz qualquer sentido”.
O presidente da SPG defendeu que, tal como acontece com o VIH, o acesso à medicação devia ser facilitado logo na consulta: “No caso da infeção por VIH, quando a pessoa tem a consulta faz-se o pedido (…) e o doente vai imediatamente à farmácia hospitalar buscar a medicação”. “Isto ainda não acontece para as hepatites, em particular para a hepatite C. É completamente anacrónico, e até um bocadinho ridículo, que ao fim destes anos todos, em que temos os melhores argumentos para tratar, em que temos toda a experiência e toda a capacidade instalada no país para poder tratar estes doentes, (…) isto ainda não se consiga fazer”, insistiu.
O responsável considerou ainda que esta solução “resolveria em parte o problema da acessibilidade do doente para quem é, de facto, custoso ir a uma consulta hospitalar e, depois, ter que voltar lá quatro semanas depois para ir buscar a medicação”. “Há [também] outros indivíduos que nem sequer às consultas hospitalares vão. São as tais populações vulneráveis, que nós temos de identificar e tratar”, acrescentou.
O especialista afirmou que só se conseguirá atingir a meta assumida com a Organização Mundial de Saúde de eliminar as hepatites até 2030 “se se atacar em todas as frentes”, insistindo que a doença “tem cura” e sublinhou que a implicação social, biológica, individual e económica “é tremenda”. “Alguém que não saiba que tem uma hepatite crónica, por exemplo, pelo vírus C, durante muitos anos, essa doença só se vai manifestar numa fase muito avançada, em que muitas vezes só já vamos poder tratar a pessoa cirrótica ou, às vezes, com outras complicações mais graves, como cancro do fígado”.