A Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM) mostra-se “profundamente desagradada e desiludida” com a acreditação do Mestrado Integrado em Medicina na Faculdade de Ciências da Saúde, da Universidade Fernando Pessoa, no Porto, por parte da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES).
A ANEM afirma que “aumentar o número de estudantes de Medicina em nada resolve os atuais problemas do sistema nacional de Saúde ou do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, uma vez que este crescimento, que assenta essencialmente na atração de estudantes internacionais (80%), “não se vai traduzir num maior número de profissionais de Saúde no SNS”.
Os estudantes de Medicina reivindicam ainda que o Inventário Nacional de Profissionais de Saúde continua por realizar desde 2015 – “apesar do apoio de 300 milhões de euros, contemplado no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), para a sua execução -, comprovando-se que estas decisões são tomadas sem que haja previamente um diagnóstico efetivo da Saúde em Portugal e um planeamento racional, no curto, médio e longo-prazo, dos recursos humanos e financeiros”.
Para Vasco Cremon de Lemos, presidente da ANEM, a decisão contribui para a deterioração da qualidade da formação médica e do atendimento aos doentes. “Ao aumentar o número de estudantes de Medicina, vamos assistir a uma degradação da formação médica dos futuros profissionais de Saúde que vão ter menos oportunidades para a prática clínica, menos contacto com os doentes e realizar um menor número de técnicas e procedimentos durante a sua formação”, afirma em comunicado.
A ANEM alerta ainda que o problema é mais grave na área geográfica do novo curso uma vez que esta alberga já outras três faculdades de Medicina: a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto; o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto e a Escola de Medicina da Universidade do Minho, como indicado pela Comissão de Avaliação Externa da A3ES. As três instituições recebem “mais de 500 novos estudantes por ano e colocam mais de 1700 em ensino clínico nas unidades de Saúde da região”.
Para os futuros médicos, a estratégia política de aumento de vagas em Medicina nas universidades públicas ou privadas, “não encontra fundamento científico, não tem em conta as necessidades futuras do setor e não considera os recursos formativos atualmente existentes, tal como ficou expresso na última revisão internacional do sistema de Saúde efetuada pelo Observatório Europeu de Sistemas e de Políticas de Saúde”, lê-se ainda.
O Presidente da ANEM explica que “não existem motivos racionais para a abertura de novos ciclos de estudo, no público ou no privado, e que os argumentos apresentados constituem um engodo, promovendo ideias erróneas de que se estão a resolver problemas estruturais da Saúde”. “Enquanto membros da sociedade, estudantes do ensino superior e futuros profissionais de Saúde apelamos que se pare de utilizar a desinformação como arma política e que se acabem com as políticas de Saúde e ensino superior baseadas em subjetivismo e conveniência”, conclui Vasco Cremon de Lemos.