Estudo: 55% da população do Norte, Centro e Lisboa tem «dois ou mais» fatores de risco vasculares 06-Fev-2014 Cerca de 55% da população das regiões Norte, Centro e Lisboa tem «dois ou mais» fatores de risco vasculares revela um estudo do Instituto Nacional de Saúde Pública (INSP) que será apresentado sexta-feira, no Porto. «A diferença deste estudo para outros está em ver qual é o número de fatores de risco existentes em cada pessoa. E o número [cerca de 55% em três regiões de Portugal Continental] é alarmante. Pode ser uma pessoa hipertensa que fuma ou uma pessoa obesa com diabetes», descreveu à agência “Lusa” a coordenadora do estudo E-Cor, desenvolvido pelo INSP, Mafalda Bourbon. A especialista vai apresentar os dados do E-Cor no 8.º Congresso do Acidente Vascular Cerebral (AVC) organizado pela Sociedade Portuguesa do AVC que se realiza entre hoje e sábado, no Centro de Congressos do Hotel Porto Palácio, no Porto. Para a especialista, o que é «ainda mais preocupante» é o facto de esta percentagem dizer respeito a fatores de risco como a diabetes, a hipertensão, o colesterol elevado, o tabagismo e o excesso de peso/obesidade, não estando a ser considerados nestes 55% os hábitos de vida como a dieta ou o sedentarismo. Mafalda Bourbon adianta que «não é faixa etária mais nova [18/35 anos] que regista mais fatores de risco», mas considera já que a percentagem nos adultos/jovens é igualmente «preocupante» até por que é, diz a investigadora, este o setor da sociedade que descura mais a prevenção. «As pessoas têm de ter noção de que têm de controlar mais a sua saúde. Na faixa 18/34, ninguém está muito preocupado com a saúde. E 20% dos adultos/jovens já têm dois fatores de risco. E os fatores de risco são acumulativos. Quantos mais se tem, a probabilidade de ter um evento cardio-cerebro-vascular aumenta exponencialmente», descreveu. Segundo a investigadora do INSP, o que distingue o E-Cor de outros estudos é o facto de este conter uma «caraterização bioquímica muito grande», o que permite «determinar a prevalência do número de fatores de risco por pessoa». Os fatores de risco analisados no E-Cor são os biológicos (diabetes, hipertensão e colesterol elevado), os de estilo de vida (obesidade/excesso de peso, consumo excessivo de álcool, sedentarismo, dieta inadequada e tabagismo) e os genéticos (antecedentes familiares de doença cardiovascular prematura). Estes são fatores de risco vasculares idênticos em caso de doença cardiovascular, doença cerebrovascular e doença arterial periférica. O E-Cor, que teve início em 2012, ainda está em curso prevendo-se que termine no final deste ano. Para já foram avaliadas populações de três regiões – o estudo desenvolve-se de acordo com o mapa NUTS II de Portugal Continental – o Norte, o Centro e Lisboa, e entre abril e dezembro serão avaliadas as amostras do Algarve e do Alentejo. Ao todo está projetado envolver 1.700 pessoas: 340 por cada região. Os grupos etários estudados são: 18/34, 35/64 e mais de 65 até 79 anos com «equilíbrio» de sexos. Mafalda Bourbon contou à “Lusa” que a faixa etária mais «difícil de motivar a participar no estudo» foi a dos 18/34 que justificava estar a trabalhar há pouco tempo, pelo que não podia faltar ao emprego ou porque, por não se sentir minimamente doente, «não acha que a saúde seja uma prioridade», o que comprova a tese de que os adultos/jovens não apostam na prevenção. «Infelizmente o orçamento que nos deram não deu para incluir as Ilhas [Açores e Madeira]. Estamos à procura de financiamento que possa completar as sete regiões», concluiu a investigadora. Este é um projeto financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, bem como pelo INSP.
Dados sobre o aumento do consumo de tabaco pelas mulheres são «preocupantes»
Mafalda Bourbon considera «preocupantes» dados sobre o aumento do consumo de tabaco pelas mulheres e alerta para o perigo cardiovascular com base no estudo E-Cor. «Se tivermos em conta que, em 2008, os estudos da Direção-Geral de Saúde [DGS] apontavam que havia 9,5% de mulheres fumadoras, agora estamos a falar de uma percentagem de 17%. O consumo de tabaco tem dados assustadores», disse à agência “Lusa” a coordenadora do estudo. O estudo prevê a análise de uma amostra nacional de 1.700 pessoas, 340 por região, mas, para já, das 1.040 pessoas cujos dados já são conhecidos, 22% são fumadores. O E-Cor revela que as mulheres no Centro fumam menos do que em qualquer uma das outras regiões: 12% no Centro, 20% em Lisboa e 18% no Norte. «Os dados do tabaco são preocupantes porque, por exemplo, o fumar associado ao consumo da pilula, é explosivo e aumenta muito o risco de ter um AVC em idade jovem (…). E um AVC é muito debilitante», referiu. Outro dado «alarmante» para Mafalda Bourbon é a prevalência de excesso de peso/obesidade. «No geral 65% da população tem excesso de peso ou obesidade, o que quer dizer que das cerca de 1.000 pessoas inquiridas, 650 pessoas têm excesso de peso ou obesidade», descreveu a especialista. Com este estudo, Mafalda Bourbon pretende fazer um diagnóstico geral do país em relação aos fatores de risco vasculares, mas também lançar alertas. «O nosso objetivo é produzir dados reais para que depois se possam desenhar políticas de saúde que vão tentar melhorar a realidade. Não é missão do instituto fazer esse caminho porque é a DGS que faz as normativas das várias áreas. Mas é missão do instituto produzir dados que vão depois ao encontro de estratégias de promoção da saúde», disse a investigadora da INSP. Outros dados do E-Cor dão nota de que no Norte há um menor número de pessoas com colesterol elevado. Mas esta é, no entanto, a região que apresenta o menor número de pessoas que cumpre uma regra da Organização Mundial de Saúde sobre o consumo de frutas e legumes. O Centro apresenta a percentagem de dieta mais equilibrada com 37%, face a 32% de Lisboa e a 25% do Norte. O estudo revela, também, que o Centro é mais ativo, uma vez que a percentagem de sedentarismo é de 27,8% face a 34% no Norte e a 41% em Lisboa. Já no consumo excessivo de álcool, o Centro atinge a percentagem maior com 13%, com relevância para a faixa etária dos 65/79, enquanto em Lisboa é de 5% e no Norte de 4%. «Este estudo foi desenhado para determinar os fatores de risco [de AVC] mas é importante que se perceba que esses fatores são modificáveis. As pessoas podem fazer a diferença se quiserem», concluiu Mafalda Bourbon. |