Estudo: 66% dos transmontanos rejeitam medicação prescrita 26 de Maio de 2015 Um estudo da Universidade de Vila Real revela que 66% dos transmontanos rejeitam a medicação prescrita pelo médico, enquanto 8% não pode comprar medicamentos por falta de recursos económicos. A investigação “Identificação dos fatores que influenciam a adesão à terapêutica: a realidade transmontana” foi desenvolvida no âmbito da dissertação de mestrado de Simone Moura, de Biologia para as Ciências da Saúde, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), sob orientação da professora Paula Oliveira. Este é, segundo anunciou hoje a academia em comunicado, o «primeiro trabalho sobre a adesão à terapêutica na população transmontana alguma vez desenvolvido». Para este estudo foram inquiridas 1.500 pessoas dos distritos de Bragança e Vila Real, 900 mulheres e 600 homens, com uma média de idades de 56 anos, e as conclusões revelam que 66% rejeitam a toma de medicamentos prescritos pelo médico, e destes, 63% são portadores de doenças crónicas. Os dados, citados pela “Lusa”, mostram que 42% dos inquiridos deixam de tomar a medicação devido a efeitos secundários ou reações adversas e que 18% interrompem o tratamento por não sentirem melhorias. Já 8% da população não cumpre a medicação por falta de recursos económicos. «São valores preocupantes. Há doenças que não podem deixar de ser tratadas, sob o risco de porem em causa a segurança dos doentes e de outras pessoas, nomeadamente as doenças cardiovasculares e mentais», afirmou Paula Oliveira, investigadora do Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB). A responsável frisou ainda que, este incumprimento, «implica um maior recurso aos cuidados de saúde e gastos acrescidos no sistema nacional de saúde e para os próprios doentes». «Concluímos que são os baixos rendimentos económicos, a idade avançada e uma baixa literacia os responsáveis por uma fraca adesão à terapêutica», salienta. Ainda segundo a investigação, a toma de vários medicamentos é responsável por 6,1% do incumprimento e 5,2% das falhas na toma resultam da complexidade do tratamento, que dificulta a toma da medicação de acordo com a prescrição médica. O estudo identificou ainda os medicamentos genéricos como mais um fator determinante na influência na adesão à terapêutica. «Para o mesmo princípio ativo existem diferentes embalagens, comercializadas pela mesma farmacêutica, o que pode induzir confusão nos doentes», explicou a investigadora. Dos inquiridos que optaram pelo medicamento genérico, 70% referiram que a embalagem mudou nos seis meses anteriores e que quando tiveram dúvidas sobre se se tratava do mesmo fármaco, 45% suspenderam a medicação. Os dados foram recolhidos em instituições prestadoras de cuidados de saúde, como o Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real, centros de saúde e farmácias. O questionário aplicado, segundo a docente, contemplou «a caracterização sociodemográfica da população, identificação da doença base, atitudes face ao tratamento e ao uso de medicamentos, análise da relação entre doentes/profissionais e serviços de saúde e avaliação da influência dos medicamentos genéricos na adesão à terapêutica». Simone Moura e Paula Oliveira querem que este trabalho «sirva de base para a implementação de boas práticas com o objetivo de reverter esta situação» e adiantaram ainda que foi criado «um folheto sobre a importância que tem para o doente o cumprimento da prescrição médica». O folheto vai ser distribuído pelas farmácias e entidades prestadoras de cuidados de saúde. |