Estudo abre portas a nova geração de medicamentos para combater vírus e parasitas 768

Uma equipa de várias instituições científicas nacionais, liderada pela Universidade de Coimbra (UC), descobriu e testou uma molécula, que abre caminho para o desenvolvimento de um novo antimicrobiano para a prevenção e tratamento de múltiplos tipos de infeções virais, endémicas e pandémicas, e também doenças parasitárias, como a malária.

A molécula foi designada como BSS730A, e é derivada da penicilina.

Foi descoberta no âmbito do projeto Spiro4MALAIDS, coordenado pela professora Teresa Pinho e Melo, e resulta de vários estudos realizados ao longo dos últimos nove anos pelo Grupo de Química Orgânica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).

Este projeto é composto ainda por Nuno Alves (FCTUC), pelos professores Nuno Taveira (Instituto Universitário Egas Moniz) e Miguel Prudêncio (IMM da Universidade de Lisboa) e pelos investigadores Américo Alves (FCTUC) e Inês Bártolo (Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa).

“Os vários ensaios pré-clínicos realizados com diferentes vírus, entre os quais o HIV e várias estirpes do vírus da gripe (um vírus com potencial pandémico), e em parasitas como o que provoca a malária, são muito promissores”, indica o comunicado divulgado, pela UC.

De acordo com Nuno Alves, aluno de doutoramento da FCTUC e membro da equipa, citado na nota, “a molécula apresentou uma atividade notável contra os diferentes vírus e parasitas testados. Em concentrações muito baixas, a eficácia na inibição das infeções atingiu os 99 por cento”.

Segundo os resultados obtidos, esta nova molécula “tem um comportamento completamente diferente dos medicamentos que se encontram no mercado. Enquanto os antivirais convencionais atuam sobre a maquinaria do próprio vírus, a molécula BSS730A atua ao nível do hospedeiro, promovendo uma resposta do próprio hospedeiro conta o vírus. Um mecanismo deste tipo, para além de ter um perfil farmacoterapêutico inovador, está muito menos sujeito ao desenvolvimento de resistências por parte dos vírus. Verificou-se que a molécula mostrou ser ativa contra estirpes multirresistentes dos mesmos vírus”.

Os investigadores acreditam que existem boas perspetivas para “inativar outros vírus para além dos estudados. É uma molécula que poderá ter atividade para novas ameaças virais que possam emergir no futuro, representando uma nova geração de medicamentos antivirais e antiparasitários de largo espectro, muito mais eficazes do que os atuais”.

Nuno Alves esclarece ainda que apesar desta molécula “ser proveniente da penicilina, usada no tratamento de infeções causadas por bactérias, a BSS730A não tem qualquer atividade antibacteriana, mas sim antiviral e antiparasitária, no caso do parasita da malária”.

A equipa pretende avançar com a realização de ensaios clínicos dentro de três anos, aguardam somente o financiamento para avançar, assim como a conclusão a criação de uma Startup.