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Estudo: Ausência de neurotransmissor provoca perturbações semelhantes às do autismo

12 de Agosto de 2015

Um grupo de cientistas concluiu que a perda de um neurotransmissor, numa determinada classe de neurónios, provoca «perturbações significativas» do desenvolvimento do sistema nervoso, levando a problemas comportamentais semelhantes àqueles registados na esquizofrenia e no autismo.

«Verificámos que a perda do recetor ‘mGluR5’, especificamente nos neurónios parvalbuminérgicos de ratinho, durante o desenvolvimento pós-natal, alterava as funções inibitórias normalmente desempenhadas por esses neurónios na rede neuronal», disse à agência “Lusa” um dos autores do trabalho, o cientista português António Pinto-Duarte.

A consequência é o aparecimento de «defeitos comportamentais semelhantes às verificadas em doenças como a esquizofrenia e o autismo» e que incluem «comportamentos repetitivos e problemas de socialização», explicou, em resposta escrita a partir dos EUA.

Investigador da Universidade da Califórnia, San Diego (UCSD), António Pinto-Duarte faz parte do grupo de cientistas desta instituição que, juntamente com especialistas do Salk Institute, trabalharam neste estudo, hoje publicado na revista “Molecular Psychiatry”, especializada em psiquiatria.

O estudo foi efetuado em ratinhos e centrou-se na identificação do recetor que, faltando num tipo específico de neurónios, leva a alterações semelhantes àquelas observadas em doenças relacionadas com o desenvolvimento anormal do sistema nervoso.

Esta descoberta permitiu, segundo os seus autores, «reforçar a ideia de que a configuração da rede neuronal pode ser afetada no período pós-natal, e não apenas durante a gravidez, confirmando a particular vulnerabilidade e suscetibilidade desse período a fenómenos patofisiológicos».

O resultado do trabalho agora publicado «é relevante, não apenas por identificar um novo alvo terapêutico, mas também por servir de motivação a estudos futuros», que possam permitir compensar esse défice através de estratégias farmacológicas ou por terapia genética, salientou António Pinto-Duarte.

A importância do recetor, denominado mGluR5, tinha já sido demonstrada por outros trabalhos científicos, através das consequências relacionadas com a sua eliminação total no cérebro.

No entanto, explicou o investigador, «até agora, ninguém tinha estudado a sua função específica numa classe de células nervosas inibitórias denominadas “neurónios parvalbuminérgicos”, que se pensa serem cruciais para os mecanismos cognitivos».