19 de Junho de 2015 Um estudo elaborado por uma consultora concluiu que a crise financeira e económica motivou «um ajustamento sem precedentes» na despesa em saúde, especialmente a relacionada com medicamentos.
«A despesa em saúde sofreu reduções significativas durante o recente período de ajustamento económico”, lê-se no documento “Inovação como um Direito dos Portugueses», elaborado pela consultora estratégica Boston Consulting Group (BCG), a qual contou com o apoio de um conselho estratégico.
Deste conselho estratégico fazem parte o presidente do conselho de administração do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, José Laranja Pontes, o diretor do departamento de Oncologia do Hospital Santa Maria, Luís Costa, a presidente da Associação Raríssimas, Paula Brito e Costa, e o deputado social-democrata Ricardo Baptista Leite.
O documento, que foi ontem apresentado numa cerimónia que decorreu no IPO de Lisboa, refere que «a quebra da despesa absoluta per capita em saúde e em medicamentos posicionou o país na cauda da Europa».
«Uma parte significativa desta redução concentrou-se nos medicamentos, onde se registou 37% da redução da despesa entre 2010 e 2012», lê-se no relatório, citado pela “Lusa”.
De acordo com o documento, «Portugal tem hoje a segunda despesa per capita mais baixa em saúde e a mais baixa em medicamentos da União Europeia (UE)».
Os autores referem que, desde 2010, registou-se «um menor acesso à inovação farmacológica, sobretudo sob a forma de atrasos no processo de avaliação da comparticipação de novos medicamentos e/ou novas indicações».
«Portugal é o país da UE com menor acesso a novos medicamentos: até setembro de 2014, apenas 29% dos medicamentos com Autorização de Introdução no Mercado (AIM) entre 2010 e 2012 foram comparticipados (comparando com 78% em Espanha ou 90% na Dinamarca)».
No mesmo período, prossegue o documento, «Portugal foi também o segundo país que mais tempo demorou na aprovação da comparticipação dos medicamentos inovadores».
Os autores indicam que, atualmente, «o cancro representa 14% da carga de doença em Portugal, sendo a segunda causa de morte (24% dos óbitos), mas apenas representando 7% da despesa em medicamentos».
«Os fármacos inovadores oncológicos sofrem, em média, um atraso superior na sua aprovação e consequente comparticipação (quase o dobro quando comparado com fármacos cardiovasculares) e a sua utilização em Portugal é muitas vezes limitada a uma parte das indicações aprovadas internacionalmente».
Os autores recordam que «os fármacos oncológicos são quase exclusivamente hospitalares, o que agrava ainda mais as condições de acesso».
«O acesso tardio e limitado à inovação farmacológica gera o risco de Portugal se distanciar gradualmente da Europa em termos de resultados em saúde», referem.
Segundo as conclusões do relatório, «a evolução dos resultados em oncologia, nos últimos anos, tem sido inferior à média da UE».
«À medida que medicamentos inovadores não disponíveis em Portugal comecem a ser usados noutros países e os standards de tratamento nacionais se distanciem dos internacionais, há o risco de os resultados em oncologia ficarem comprometidos», alertam. |