Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) mostra que pessoas com doenças autoimunes inflamatórias sob tratamento imunossupressor têm um receio moderado ou elevado das vacinas, sobretudo por causa de eventuais efeitos secundários.
Na base deste receio com a vacinação está, ainda, a interação com medicamentos, a falta de efetividade e o agravamento das suas doenças, disse esta sexta-feira à Lusa a professora da FMUP Cândida Abreu.
Em geral, os doentes têm conhecimento genérico sobre as vacinas, mas falham em aspetos relacionados com as vacinas em pessoas sob terapêutica imunossupressora, acrescentou.
Apesar do desconhecimento ser maior em doentes com mais baixo nível de escolaridade, estes são os que aceitam melhor as vacinas, afirmou Cândida Abreu.
Este estudo mostrou também que os utentes mais novos, nomeadamente abaixo dos 30 anos, são os que demonstram mais preocupações sobre a possibilidade de as vacinas poderem agravar a sua doença imune.
Estes são, igualmente, os menos preocupados com o preço das mesmas, dado que, o fator económico foi tido como “importante” no momento de decidir de dar ou não as vacinas, contou.
“As taxas de vacinação estão dependentes das perspetivas dos doentes sobre o assunto. Por isso, os doentes devem sempre ser tidos em conta quando pensamos numa estratégia para aumentar a toma das vacinas nesses grupos”, referiu a investigadora.
Motivo pelo qual, os investigadores concluíram que os pacientes com doenças inflamatórias e autoimunes devem receber “mais e melhor informação” sobre vacinação porque estão mais sujeitos a infeções.
“Terá de haver um trabalho intensivo, envolvendo diferentes profissionais de saúde e os doentes. Uma melhor comunicação entre estes profissionais nos diferentes níveis de cuidados é determinante para aumentar as taxas de vacinação”, sublinhou Cândida Abreu.
Este trabalho, publicado no European Journal of Gastroenterology & Hepatology, pretendeu avaliar o conhecimento sobre vacinas por parte de adultos com doenças inflamatórias autoimunes e identificar desconhecimentos mais comuns para planear estratégias para aumentar a adesão à vacinação.
Ao todos participaram no estudo, realizado entre janeiro de 2019 e dezembro de 2020, 275 doentes com doenças inflamatórias intestinais e reumáticas, doença de Crohn e colite ulcerosa do Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto.
Para a professora da FMUP, os médicos de doenças infecciosas, com formação e experiência em vacinação, podem ser uma ajuda importante na vacinação dos doentes com doença imunomediada inflamatória.
Acrescentando que a literacia em saúde, em particular em vacinas, é essencial e deve ser estimulada.
Cândida Abreu ressalvou que a discussão em torno da vacinação aumentou com as vacinas da Covid-19.
“Há ainda muito a noção de que as vacinas são para crianças, mas é importante as pessoas terem a informação de que os adultos precisam de vacinas e alguns precisam mais do que outros”, frisou.