Estudo identifica complexo essencial para a reprogramação de células adultas
21-Maio-2014
Um estudo desenvolvido no centro de investigação em células estaminais da Universidade de Cambridge, em colaboração com a Universidade de Coimbra (UC), identificou pela primeira vez o «complexo proteico essencial para a reprogramação de células adultas».
Sustentando que a «importante descoberta» constitui mais um avanço «rumo à medicina personalizada», a UC sublinha que o complexo agora identificado é «extremamente importante para transformar células adultas em células pluripotentes induzidas».
A investigação, desenvolvida no «centro de investigação em células estaminais da Universidade de Cambridge, em colaboração com o Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC)» de Coimbra, identificou, «pela primeira vez», que o complexo NuRD é «extremamente importante para transformar células adultas em células pluripotentes induzidas (iPSCs)», anuncia a UC, numa nota hoje divulgada e citada pela “Lusa”.
O NuRD é o «complexo que regula a forma como o DNA é lido em diferentes células» e as iPSCs são «geradas a partir de células adultas através da adição de genes associados ao estado embrionário».
As iPSCs «adquirem, assim, a capacidade de se transformarem em qualquer tipo de tecido do corpo humano, sem a necessidade de destruir embriões, requisito para a geração de células estaminais embrionárias», sublinha a mesma nota da UC, referindo que esta técnica foi criada em 2006 por Shinya Yamanaka.
O investigador japonês Shinya Yamanaka foi distinguido com o prémio Nobel da Fisiologia e Medicina em 2012, em conjunto com o inglês John Gurdon, precisamente por aquela descoberta.
O estudo agora desenvolvido descobre «como aumentar a eficiência de geração de iPSCs, abrindo novas perspetivas para o futuro da medicina personalizada», salienta o investigador do CNC Rodrigo Luiz dos Santos, explicando que, «atualmente, os transplantes são feitos com células provenientes de um dador, obrigando o paciente a passar o resto da sua vida a tomar medicamentos imunossupressores», para evitar a rejeição.
«Como as iPSCs são criadas a partir de uma biopsia do paciente (por exemplo, uma biopsia de pele), este problema é ultrapassado, já que as células que serão futuramente transplantadas são 100% iguais às do paciente», sublinha o especialista, que é um dos autores do artigo sobre esta investigação publicado na revista “Cell Stem Cell”.
No futuro, as iPSCs poderão ser utilizadas no tratamento de várias doenças, designadamente doenças neurodegenerativas, já que «podem ser diferenciadas (transformadas) em células neuronais e corrigir patologias como Parkinson», acredita Rodrigo Luiz dos Santos, esclarecendo que «estas células facilitam a criação de modelo de doença humana em laboratório, possibilitando igualmente o desenvolvimento de novos e melhores fármacos para diversas patologias».
Através de técnicas de modificação de DNA, os investigadores envolvidos neste estudo verificaram que «sem o complexo NuRD a eficiência da geração de iPSCs é extremamente reduzida» e que, por outro lado, «aumentando artificialmente a atividade do complexo NuRD, a eficiência da geração de células pluripotentes induzidas aumenta de forma muito significativa».
Na investigação, desenvolvida ao longo dos últimos quatro anos, foram usadas células de pele e de cérebro de ratinhos.