Estudo indica que cerca de 37% das crianças do Grande Porto têm carência de iodo 23 de Agosto de 2016 Cerca de 37% das crianças do Grande Porto apresentam carência de iodo, «um nutriente essencial para o desenvolvimento cognitivo», indica um estudo desenvolvido por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), divulgado ontem. Este resultado foi obtido através de uma avaliação feita a 2018 crianças, com idades compreendidas entre os seis e os 12 anos, de 83 escolas do Grande Porto, do Tâmega e de Entre Douro e Vouga, de acordo com um comunicado desta instituição de ensino superior. O IoGeneration, que teve a duração de um ano, foi liderado por uma equipa do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS) da FMUP, contando com a colaboração da Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário (CESPU) e da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Noruega (NTNU). Em declarações à “Lusa”, a coordenadora do projeto, Conceição Calhau, indicou que as crianças do Grande Porto, comparativamente às das outras duas regiões, correm «50% mais risco de sofrer carência de iodo», não tendo sido identificados os motivos para tal. Em termos, a avaliação aos alunos, feita através de testes de coeficiente de inteligência (QI), da análise da urina e de amostras de sal que levaram para a escola, indica que, no norte do país, 29% dos rapazes e 34% das raparigas apresentam níveis deficitários de iodo. Segundo a investigadora, as escolas ignoraram a indicação da Direção-Geral de Educação que, em 2013, com base em estudos realizados anteriormente, orientava para a utilização de sal iodado na preparação das refeições escolares. Das monitorizadas, «nenhuma estava a usar sal com iodo no momento da avaliação». O IoGeneration revela que 68% dos pais inquiridos «nunca tinha ouvido falar de sal iodado» e, quando questionados sobre o produto utilizado em casa, 35% não sabia se continha iodo, enquanto 8% indicou usar sal enriquecido com esse nutriente. No entanto, após verificação, os investigadores concluíram que «menos de um quinto» (17%) destes últimos usava, de facto, este tipo de sal. Um estudo sobre a falta de iodo na gravidez, igualmente anterior ao IoGeneration, mostrou que as grávidas avaliadas revelavam uma deficiência «muito grande» do nutriente. No sentido de combater essa carência, também a Direção-Geral da Saúde, em 2013, elaborou um documento sobre a necessidade de as grávidas tomarem um suplemento de iodo, da mesma forma que recorrem à suplementação do ácido fólico. Para a investigadora, este método não resultou como o previsto devido ao «ceticismo dos médicos em relação à prescrição da suplementação do iodo», ao facto de as grávidas só irem à primeira consulta quando o feto já tem seis ou mais semanas e, muitas vezes, as que recorrem a esse suplemento são, normalmente, as que menos necessitam. «O objetivo último do IoGeneration é mudar a legislação quanto à utilização do iodo», indicou a coordenadora, acrescentando que o «pouco que se tem feito não tem tido impacto». A Organização Mundial de Saúde (OMS) apela à fortificação do sal com iodo para o consumo humano, medida já implementada em outros países mas que em Portugal sofre «muita resistência» devido à «preocupação do uso excessivo de sal», referiu ainda. O iodo, presente em alimentos como a cavala, o mexilhão, o bacalhau, o salmão, a pescada, o camarão, o leite e os ovos, é um «microelemento essencial à síntese das hormonas da tiroide e ao pleno desenvolvimento neurológico», lê-se no comunicado. |