Estudo inédito sobre ação do VIH2 no intestino apresentado em conferência 637

Estudo inédito sobre ação do VIH2 no intestino apresentado em conferência

07-Abr-2014

Na infeção pelo VIH2 há um melhor controlo da mucosa intestinal, o que impede a libertação de micróbios e consequente inflamação, como acontece com o VIH1, segundo um estudo recente do Instituto de Medicina Molecular, ainda para ser publicado.

Estas conclusões foram apresentadas no sábado pela presidente do Instituto de Medicina Molecular (IMM), Maria do Carmo Fonseca, durante a Conferência “VIH-2: o vírus esquecido”, que decorreu em Lisboa.

Segundo uma das autoras do estudo, Ana E Sousa, o VIH induz uma infeção crónica, que progride para Sida, mas a progressão dessa inflamação é mais lenta nos casos de infeção pelo VIH2.

No caso das infeções por VIH2, o vírus entra nas células e estabelece reservatórios virais (replica-se, à semelhança do que faz o VIH1), no entanto, nestes casos, quase não há carga viral em circulação, o que indica que de alguma forma «o vírus é controlado», explicou a investigadora.

«Falta saber como é controlado, quais os mecanismos dentro da célula que fazem com que ele seja controlado», disse Ana E Sousa, sublinhando que este é um «bom modelo para compreender o VIH1».

O que este novo estudo vem mostrar é a diferença de comportamento da mucosa intestinal das pessoas com VIH1 e VIH2.

«O VIH afeta os linfócitos (as células que fazem as nossas defesas). O VIH infeta estas células e elas diminuem e nós deixamos de ter defesas. Existem linfócitos no sangue, mas particularmente estão no intestino, para defenderem contra os micróbios existentes nas paredes dos intestinos», explicou.

Quando estes linfócitos são afetados, os micróbios vão saindo da parede do intestino e entram em circulação no sangue.

«Ao termos muitos bocadinhos de micróbios a passar para o sangue desenvolvemos inflamação», acrescentou.

Sabe-se que o VIH1 reduz os linfócitos da mucosa intestinal e que também há perda de linfócitos nos doentes de VIH2, mas este novo estudo indica que com o VIH2 há um «melhor controlo da mucosa intestinal para evitar o envio de vírus».

A especialista explica que o VIH2 se transmite menos e ficou sempre ligado a zonas da África Ocidental, sendo que Portugal é o país não africano com maior prevalência.

Isto deve-se à ligação de Portugal com as ex-colónias, em primeiro lugar a Guiné-Bissau e depois Cabo Verde, disse à “Lusa” António Diniz, diretor do Programa Nacional para a Infeção VIH/Sida.

De acordo com o responsável, existem perto de duas mil pessoas infetadas com o VIH2 em Portugal.

António Diniz acrescentou que dos casos notificados até março, os infetados com VIH2 correspondem a cerca de 3,5% do total.

Para o diretor do Programa Nacional para a Infeção VIH/Sida, Portugal é um país de referência para o estudo internacional do VIH2, em primeiro lugar porque participou na descoberta do vírus e em segundo lugar porque «tem pessoas infetadas e os meios para estudar o vírus».

«Outros países têm as pessoas, mas maior dificuldade de meios, enquanto outros países têm os meios, mas não têm pessoas», salientou.

A conferência destinava-se assim a apresentar a história do VIH2, com a ajuda de especialistas estrangeiros que participam no encontro, mas também a chamar mais pessoas a estudar este vírus mais esquecido.

Ministro: Portugal com menos novos 200 casos de sida em 2013

O número de novos casos de sida em Portugal diminuiu em 2013, ano em que foram registadas menos 200 notificações em relação a 2012, anunciou no sábado o ministro da Saúde.

Paulo Macedo falava à margem da Conferência “VIH-2: o vírus esquecido”, que decorreu no Instituto de Medicina Molecular (IMM).

«Uma boa notícia é que o número de novos casos diminuiu em relação ao ano anterior e em relação aos anos anteriores, sendo um dos melhores números já registados no sentido de menos casos novos. Temos cerca de menos 200 casos novos na área da sida», revelou, salientando que «os números finais» serão divulgados até junho.

O ministro sublinhou, contudo, que a área da sida continua «a merecer a atenção» do Governo, porque «a prevalência ainda é elevada, em termos europeus».

«Precisamos de dar mais importância e condições para que os nossos médicos possam fazer mais investigação e não apenas seguir as novidades que os investigadores do resto do mundo introduzem no mundo da prestação de cuidados de saúde», disse, durante a sessão de abertura, Maria do Carmo Fonseca, diretora do IMM.

A responsável afirmou ver com «imenso agrado» a preparação pelo Ministério da Saúde de centros de referenciação.

«Espero muito que nesses centros seja possível proteger carreiras para médicos investigadores, porque essa investigação não pode ser feita nas horas pós laborais dos cuidados normais da carreira dos médicos e é preciso haver uma carreira dedicada», pediu.

Pelo seu lado, o ministro respondeu que o Governo vê «como relevante que os investigadores possam ter um dispositivo legal próprio em termos de enquadramento nos hospitais, no sentido de poderem prosseguir a investigação enquanto trabalham nos hospitais», sem terem de «sair do país ou apenas trabalhar na área privada».

«Nesse sentido estamos a estudar legislação, precisamente porque a investigação faz parte daquilo que se faz nos hospitais», adiantou Paulo Macedo.