Estudo: Infeção pelo vírus da sida pode reduzir risco de esclerose múltipla
06 de agosto de 2014
Cientistas britânicos e australianos apresentaram evidências estatísticas que, a seu ver, sustentam que a infeção pelo vírus da sida pode reduzir o risco de esclerose múltipla.
A equipa concluiu que doentes infetados com o VIH eram matematicamente menos propensos para desenvolver a esclerose múltipla do que a população em geral.
O estudo, baseado em dados hospitalares do Reino Unido, contabilizou os casos de esclerose múltipla entre 21.207 seropositivos, durante sete anos, de 1999 a 2011, e os de 5,3 milhões de pessoas hospitalizadas por outros motivos.
De acordo com a investigação, publicada na revista “The Journal of Neurology, Neurosurgery and Psychiatry”, os seropositivos tiveram entre 62% e 85% menos riscos de sofrer esclerose múltipla, face à população em geral, apontou a “Lusa”.
Apesar das conclusões, a equipa liderada pelo investigador e médico Julian Gold, especialista no diagnóstico e tratamento da sida, reconhece fragilidades no estudo, uma vez que desconhece, por exemplo, se os seropositivos tomaram antirretrovirais para atacar o VIH.
Os cientistas especulam que os casos de esclerose múltipla possam ter diminuído nos seropositivos, porque o sistema imunitário voltou a estar sob controlo, muito embora novos estudos sejam necessários para se perceber se os benefícios inesperados se devem ao vírus ou à medicação para o combater.
No estudo, no grupo das pessoas infetadas com o VIH, apenas sete pessoas desenvolveram esclerose múltipla, longe das 18 que seriam esperadas.
Em 2011, médicos reportaram o caso de um australiano, de 26 anos, que foi diagnosticado com esclerose múltipla, vários meses depois de lhe ter sido confirmado que era seropositivo.
Os sintomas da esclerose múltipla desapareceram depois de o doente ter começado a tomar medicamentos contra o VIH, e o quadro manteve-se inalterado nos 12 anos seguintes, em que o seu estado de saúde foi monitorizado.
Uma investigação conduzida na Dinamarca tentou perceber se os antirretrovirais podiam tratar ou atrasar a progressão da esclerose múltipla, mas a amostra foi demasiado pequena para retirar uma conclusão sólida.
A esclerose múltipla é uma doença crónica, inflamatória e degenerativa que afeta o sistema nervoso central, apresentando como sintomas entorpecimento, fraqueza muscular, espasmos, cãibras, náuseas, depressão e perda de memória.
Segundo o portal da Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla, estima-se que a patologia afete cerca de 2,5 milhões de pessoas em todo o mundo e mais de 5.000 em Portugal.
Julian Gold, professor honorário na universidade Queen Mary, em Londres, lidera um projeto-piloto em que 25 doentes com esclerose múltipla, no Reino Unido, estão a tomar o antirretroviral raltegravir para ver se o medicamento afeta lesões cerebrais.