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Estudo: Mais de 15% dos médicos estão em burnout

22 de Junho de 2015

Mais de 15% dos médicos avaliados num estudo exploratório que serviu de base a uma tese de mestrado da Faculdade de Medicina de Lisboa estavam em burnout, síndrome que se caracteriza por elevados níveis de exaustão emocional, despersonalização ou perda de realização pessoal. 

 

Apesar de a mostra não ser representativa (responderam 104 médicos de hospitais localizados na Grande Lisboa), o trabalho realizado por Sara Ferreira permite perceber alguns dos contornos de um fenómeno que ainda é pouco investigado e valorizado em Portugal.

 

O burnout é um estado de desgaste extremo que afeta de forma significativa a relação médico-doente (empatia) e a qualidade dos cuidados de saúde prestados.

 

São os médicos mais novos (os que estão a fazer o internato) que exibem níveis mais elevados de burnout quando comparados com os seus colegas já especialistas, o que se justificará sobretudo com o excesso de trabalho (carga horária), nomeadamente no serviço de urgência. 

 

Outra das conclusões apresentada pelo estudo é que os médicos que não trabalham em exclusividade no Serviço Nacional de Saúde (SNS) apresentam níveis inferiores de burnout e os que têm filhos também.

 

As condições de trabalho, como a maior carga horária semanal, a exigência do trabalho no serviço de urgência e a exclusividade no SNS são algumas das explicações que Sara Ferreira apresenta na sua tese intitulada “Burnout e a empatia médico-doente”.

 

As cargas horárias dos médicos que colaboraram neste trabalho são muito elevadas. No total, apenas um quinto trabalha até 40 horas semanais, a maior parte oscila entre as 40 e as 60 e 13,5% permanece mais de 60 horas por semana no local de trabalho.

 

A percentagem de médicos em burnout encontrada no estudo (15,4%) poderia ainda ser maior se os critérios usados fossem mais latos, como sucede noutros trabalhos, admite a autora. Aliás, quando se olha para as pontuações obtidas em cada uma das  três dimensões deste estado de desgaste extremo, as percentagens são bem mais elevadas: 25% dos médicos apresentava pontuação alta na exaustão emocional, a 26% acontecia o mesmo na despersonalização e 23% exibiam também níveis elevados na perda de realização pessoal.

 

Em todas as dimensões, os médicos internos destacam-se pela negativa, visto que, em início de carreira, os médicos são «frequentemente expostos a um trabalho stressante e a fatores de risco como a falta de participação nas decisões laborais, o trabalho por turnos, a insuficiente compensação económica e a insegurança no emprego», sintetiza Sara Ferreira.

 

A carga horária é determinante. Cerca de 90% dos internos inquiridos tem uma carga horária semanal superior a 40 horas. «Sabe-se que a probabilidade de estar em burnout aumenta 12-15% por cada 5 horas a mais, além das 40 horas semanais estabelecidas», disse ao “Público”, a investigadora. 

 

Outra hipótese de explicação prende-se com a maior frequência com que trabalham no serviço de urgência, onde as condições de trabalho são mais stressantes, porque os médicos têm que lidar com uma  grande afluência de doentes, estão expostos a altos níveis de ruído ambiental, trabalham um  maior número seguido de horas e têm de responder «a constantes solicitações físicas e psicológicas», acrescentou.