Um estudo da APIFARMA revela que medicamentos inovadores, avaliados em entre 60 e 80 mil milhões de euros, evitaram 110 mil mortes em Portugal desde 1990 e adicionaram dois milhões de anos de vida saudável.
O estudo “O valor do medicamento em Portugal”, elaborado pela consultora McKinsey & Company, coligiu e analisou dados referentes à realidade portuguesa, visando «apresentar uma perspetiva holística sobre o valor dos medicamentos em Portugal», analisando o seu valor humano, social e económico.
Para avaliar o impacto dos medicamentos nestas três dimensões, o estudo selecionou oito doenças (cancro do pulmão, cancro colorretal, esquizofrenia, VIH/sida, insuficiência cardíaca, diabetes, artrite reumatoide, doença pulmonar obstrutiva crónica), que representam 15% do peso total de doença em Portugal.
A investigação concluiu que «os medicamentos inovadores acrescentaram valor significativo em Portugal» e trouxeram benefícios superiores à despesa total do país em fármacos.
De acordo com a agência “Lusa”, desde 1990, evitaram mais de 110 mil mortes, «comparáveis à população total do município de Setúbal em 2017», contribuíram para o aumento da esperança de vida até 10 anos e acrescentaram dois milhões de anos de vida saudável, 180 mil em 2016, que representam «mais de três vezes os perdidos em ferimentos resultantes de acidentes rodoviários».
«O valor dos anos de vida saudável ganhos nas oitos doenças representa entre cinco a sete mil milhões de euros anuais, acima do gasto total em medicamentos (3,8 mil milhões de euros)», refere o estudo, que será hoje apresentado em Lisboa no congresso da Apifarma “Compromisso com as Pessoas. Mais e Melhor Vida”. Para chegar a estes números, os investigadores compararam o número efetivo de mortes por estas doenças e os anos de vida não saudável (DALYs) de cada doente com o número projetado.
«Para cada doença, a projeção teve por base uma análise da evolução da prevalência da doença e dos encargos impostos em média a cada paciente entre 1991 e 2016. Assim, em cada doença, procurámos entender que medicamentos inovadores foram introduzidos ou popularizados em cada ano e se isso refletiu-se no número de mortes e DALYs», explicou a consultora numa resposta escrita à agência Lusa.
Por exemplo, para a diabetes o momento de inflexão aparece por volta de 2002 com a introdução dos medicamentos DPP-4, mas a inovação continuou com as categorias GLP-1 e SGLT-2 e regimes de insulina basal ao longo da década seguinte e o impacto destes medicamentos inovadores ainda se faz sentir hoje, adiantou a consultora.
No caso do VIH/sida, as terapias inovadoras transformaram «uma doença fatal numa doença crónica e controlável, salvando até 22.000 vidas, e no cancro colorretal evitaram até 28 mil mortes», sublinha o estudo.
Os medicamentos inovadores também permitiram aos doentes continuarem a ser produtivos, gerando cerca de 280 milhões de euros anuais em rendimento adicional para as famílias nas oito doenças (1.000 euros por mês por família afetada), e contribuíram para reduzir hospitalizações e outros custos diretos com saúde em cerca de 560 milhões de euros anuais.
O estudo indica ainda que a indústria farmacêutica acrescentou mais de 1,5 mil milhões de euros ao PIB português em 2016, face a 2000, «o suficiente para cobrir todo o orçamento para a Ciência, Educação e Tecnologia».
Segundo a investigação, Portugal fica atrás da maioria dos países da União Europeia no acesso a medicamentos inovadores, com o acesso dos doentes a demorar até 38 meses.