Estudo: Portugueses têm perceção errada dos valores das taxas moderadoras
07 de março de 2017 Os portugueses têm uma perceção errada dos custos das taxas moderadoras na saúde e estimam valores acima dos reais, mas consideram que apesar de tudo são adequados, indica um estudo que será hoje apresentado. Segundo o trabalho da Nova Information Management School (Nova IMS), da Universidade Nova de Lisboa, que vai ser apresentado em Lisboa, mais de um em cada três (38,1%) portugueses considera adequadas as taxas moderadoras praticadas no Serviço Nacional de Saúde (SNS). O trabalho da Nova IMS tem vindo a ser feito desde 2014 e todos os anos complementa o anterior com indicadores novos. De acordo com o estudo, mais de metade dos inquiridos (50,1%) considera adequados ou muito adequados os valores pagos pelos medicamentos que lhes foram prescritos nos últimos 12 meses, pouco mais do que aqueles que consideram adequada a comparticipação do Estado para a medicação prescrita (49,1%). Mas a perceção que os portugueses têm da realidade dos valores das taxas moderadoras é na maior parte dos casos errada. O estudo indica que há uma diferença entre o que os portugueses julgam que custa (11,92 euros) e o que realmente custa (7,00 euros) a taxa moderadora para uma consulta externa/especialidade num hospital público. Nos episódios de urgência, o valor que os portugueses julgam (16,88 euros) que custa a taxa moderadora também é maior do que o real no caso da urgência básica (14,00 euros) e polivalente (16,00 euros). O valor estimado apenas é inferior ao custo real no caso das urgências médico-cirúrgicas (18,00 euros). «No caso das urgências a perceção está mais alinhada com a realidade, assim como nos cuidados primários. Onde se verifica maior diferença é nas taxas nas consultas externas dos hospitais», explicou Pedro Simões Coelho, investigador da Nova IMS, citado pela “Lusa”. Quanto aos efeitos dos custos reais dos cuidados de saúde no bolso dos portugueses, o estudo diz que 10,7% deixaram de ir às urgências por falta de dinheiro, que 3,9% não fizeram exames de diagnóstico, que 3,4% perderam uma consulta externa/especialidade num hospital público e que 2,4% não foram a uma consulta com o médico de clínica geral ou médico de família num centro de saúde. Quanto aos que deixaram de comprar medicamentos prescritos pelos médico por causa do seu custo, o estudo indica que estes números têm vindo a cair desde 2014, mas ainda assim foram 11,8% os que o confessaram tal realidade (contra 14,2% em 2015). Contudo, Pedro Simões Coelho sublinha que estes valores estão “em queda muito acentuada”. «Este potencial de cuidados de saúde perdidos está em queda muito acentuada. Estimamos que cerca de 11% dos episódios urgência não se realizaram por esta razão [falta de dinheiro], mas eram quase 14,5%. Nas consultas externas são 3%, mas eram 8%.(…) Ainda é elevado, estimamos por exemplo que 12% não compraram medicamentos por causa do preço, mas em 2014 eram 16%. A tendência é para uma evolução positiva», considerou. «Esta evolução positiva resulta de várias coisas em simultâneo: da redução efetiva nas taxas moderadoras, de um alargamento de segmentos de população isenta de taxas moderadora e a verdade é que, para certos segmentos da população utilizadores do SNS, observámos um aumento de rendimento disponível», afirmou o investigador. Com um universo de cidadãos acima dos oito milhões (pessoas com 18 ou mais anos), o estudo abrangeu a realização de 500 entrevistas, em fevereiro, cujos resultados foram «extrapolados para o universo segundo uma pós-estratificação que tem por base as variáveis género e classe etária». O trabalho vai ser hoje apresentado durante a conferência Sustentabilidade na Saúde, organizada pela “TSF” e pela empresa farmacêutica AbbVie. |