Estudo revela como o cérebro consegue antecipar cenários 76

Um estudo, publicado recentemente na Nature, permitiu compreender melhor como o cérebro codifica e memoriza a sequência das experiências vivenciadas, combinando informação sobre ‘o que’ acontece e ‘quando’ acontece, permitindo assim antecipar comportamentos futuros.

O primeiro autor do estudo e investigador do Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional (CIBIT) do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS) da Universidade de Coimbra (UC), Pawel Tacikowski, refere, citado pelo portal da UC, que “a capacidade de reconhecer padrões e antecipar potenciais eventos futuros é uma parte essencial da aprendizagem humana”.

 

Atividade neuronal em tempo real

A equipa de investigação, que estudou o hipocampo e o córtex entorrinal – regiões do cérebro cruciais para a memória e a aprendizagem –, conseguiu registar a atividade neuronal de células individuais em tempo real, permitindo uma nova compreensão dos processos de codificação cerebral.

Para tal, ainda de acordo com a UC, “os participantes no estudo visualizaram uma série de imagens numa sequência específica, sem que lhes tivesse sido dito para memorizarem ou preverem nada. Surpreendentemente, os neurónios do hipocampo e do córtex entorrinal ajustaram gradualmente a sua atividade para refletir o padrão subjacente, mostrando que o cérebro foi capaz de aprender implicitamente a estrutura da sequência e construir um mapa mental de ‘quando’ e ‘o quê’ se seguiria”.

Os investigadores observaram também que os neurónios ativaram o mesmo padrão espontaneamente. Pensa-se que esta atividade de repetição é a forma como o cérebro consolida a aprendizagem.

“Poder compreender como é que o cérebro organiza temporalmente as nossas vivências pode ter aplicações clínicas importantes, com em futuras terapias para melhorar a memória, que poderão centrar-se no aumento da atividade neuronal específica que representa as memórias relevantes”, sublinha Pawel Tacikowski.

Além do investigador da UC, são coautores do estudo os investigadores Güldamla Kalender, Davide Ciliberti, e Itzhak Fried. A investigação decorreu na Universidade da Califórnia, Los Angeles (Departamento de Neurocirurgia), no Instituto Karolinska (Departamento de Neurociências) e na Universidade de Coimbra.

O artigo está disponível aqui