Estudo revela pela primeira vez como as bactérias evoluem no intestino numa questão de dias 591

Um estudo do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) determinou como as bactérias evoluem no intestino em poucos dias, uma descoberta que os investigadores acreditam que pode contribuir para tratamento de doenças relacionadas com o envelhecimento.

“Em última análise, os resultados poderão contribuir para o desenvolvimento de terapias baseadas no microbioma relevantes para doenças relacionadas com o envelhecimento”, adiantou esta quarta-feira o IGC, citado pela Lusa. As conclusões da investigação, publicada na revista científica Current Biology, revelam a “forma subtil” como as interações entre o sistema imunitário, a microbiota e os antibióticos podem influenciar a evolução de processos bacterianos, tanto em contextos de saúde como de doença.

Perceber de que forma as bactérias se adaptam a este ambiente dinâmico no intestino, onde as condições podem mudar rapidamente, foi o objetivo do estudo dos investigadores do IGC liderados por Isabel Gordo. O grupo tem estudado como as bactérias evoluem em ratinhos mais velhos, que apresentam mais inflamação, um sistema imunitário menos eficiente e uma microbiota desregulada, um fator de `stress´ para as bactérias.

Num estudo anterior revelaram que a Escherichia coli, uma bactéria habitual da microbiota dos mamíferos, adquire mutações específicas para se adaptar ao intestino inflamado destes ratinhos. De acordo com o IGC, um dos resultados mais surpreendentes mostra como o número de bactérias com esta mutação varia de forma abrupta no intestino num curto espaço de tempo.

O passo seguinte foi perceber quais os fatores que estavam a causar estas oscilações, o que levou a equipa de investigação a testar como bactérias com diferentes capacidades de regulação do ferro competiam em ratinhos com competências imunitárias e microbiotas distintas. Os hospedeiros podem gerar uma “proteína imune que impede as bactérias de captar ferro, o que é particularmente importante para prevenir a proliferação de agentes patogénicos”, concluíram os investigadores.

Isabel Gordo salientou que os resultados permitem compreender como a evolução das bactérias pode afetar o metabolismo do ferro em ecossistemas complexos, como o intestino humano, o que é de “extrema relevância dada a importância do ferro nas interações hospedeiro-microrganismo, particularmente quando a sua disponibilidade é limitada, como é o caso das doenças inflamatórias e da anemia”. De acordo com o IGC, compreender os fatores que moldam a evolução da regulação do ferro nas bactérias poderá contribuir para o desenvolvimento de terapias baseadas no microbioma, incluindo o uso de probióticos, por exemplo, para controlar as bactérias que proliferam nestas condições.