Estudo revela potencialidades da nanotecnologia para avaliar risco cardiovascular 678

20 de Maio de 2016

Um estudo de um grupo de investigadores do Instituto de Medicina Molecular, publicado ontem, revela as potencialidades da nanotecnologia para avaliar o risco de problemas cardiovasculares, através da análise de uma pequena amostra de sangue.

Os autores do estudo, publicado na revista “Nature Nanotechnology”, analisaram amostras de sangue de dadores saudáveis e de dadores com insuficiência cardíaca e verificaram que, nestes últimos, o risco de virem a ter complicações cardiovasculares aumenta quando é necessária uma ‘força’ maior para “descolar” uma proteína que se “liga” aos glóbulos vermelhos, e que é também fundamental para a coagulação sanguínea.

A proteína em causa é o fibrinogénio, que, ao ligar-se aos glóbulos vermelhos, «vai tornar o fluxo sanguíneo mais viscoso», constituindo «um fator de risco cardiovascular», assinalou à “Lusa” o investigador Nuno Santos, coordenador da equipa do Instituto de Medicina Molecular (iMM Lisboa).

Os investigadores analisaram amostras de sangue de 30 dadores saudáveis e de 30 doentes com insuficiência cardíaca, que estavam a ser seguidos no Hospital Pulido Valente, em Lisboa, e que o grupo científico acompanhou durante um ano.

Os cientistas isolaram os glóbulos vermelhos e usaram um microscópio de força atómica para medir a “força” de ligação do fibrinogénio a estas células, também conhecidas por eritrócitos.

Verificaram que a “força” exigida para “arrancar” a proteína do glóbulo vermelho é maior nos doentes com insuficiência cardíaca, quando comparada com a de dadores de sangue saudáveis.

Além disso, e mais importante, de acordo com os investigadores, é que os doentes com insuficiência cardíaca que necessitavam, inicialmente, de mais “força” para “descolar” o fibrinogénio dos glóbulos vermelhos, tiveram, ao fim de um ano, um «risco maior de ser hospitalizados devido a complicações cardiovasculares».

Para Nuno Santos, a técnica utilizada, do domínio da nanotecnologia, a microscopia de força atómica, pode servir de auxiliar para um médico, na avaliação do risco de doenças cardiovasculares em pessoas com insuficiência cardíaca.

Falta agora saber de que forma esse risco pode ser reduzido, interferindo na ligação da proteína aos glóbulos vermelhos.

O estudo contou com a participação dos investigadores Ana Filipa Guedes e Filomena Carvalho, do iMM Lisboa, e do cardiologista Luís Sargento.