A identificação precoce de reações adversas a medicamentos pode evitar efeitos colaterais graves, mas muitos farmacêuticos não notificam, é a conclusão de um estudo divulgado esta terça-feira que foi levado a cabo por uma equipa de investigadores do Porto.
“Esta problemática da subnotificação de suspeitas de reações adversas a medicamentos não é um problema exclusivamente português, europeu ou da classe profissional dos farmacêuticos [mas é certo que] a identificação precoce de reações adversas pode ajudar a minimizar danos e evitar efeitos colaterais graves e até mesmo fatais”, esclarecem os investigadores.
A equipa junta investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS).
De acordo com informação enviada à agência Lusa, “mais de metade dos farmacêuticos comunitários não tem o hábito de notificar reações adversas a medicamentos (RAM) e cerca de metade nunca reportou uma suspeita”.
Esta conclusão parte de um estudo levado a cabo, através de inquérito, junto de cerca de 200 farmacêuticos comunitários do distrito do Porto.
O objetivo foi avaliar a motivação e o nível de conhecimento dos profissionais sobre a notificação espontânea de RAM.
Os dados revelaram que 53% dos inquiridos nunca reportou uma suspeita de RAM.
Só 42% tem o hábito de notificar estes casos com regularidade.
Os resultados indicaram também que mais de metade dos farmacêuticos que já notificaram (64%) revelaram não ter dificuldades no processo.
O estudo, publicado na revista Journal of Community Health, salienta que a notificação de suspeitas de RAM “é de extrema importância para a saúde pública e para a segurança dos pacientes”.
A partir do inquérito realizado, os autores do estudo apresentam um conjunto de propostas sugeridas pelos próprios farmacêuticos portuenses com o intuito de melhorar o Sistema Nacional de Farmacovigilância (SNF).
A simplificação e otimização do processo de notificação, bem como a integração dos formulários de notificação nos sistemas de informação da farmácia comunitária foram as principais medidas enumeradas pelos profissionais.
Entre outras sugestões, destacam-se também a implementação de programas de capacitação do farmacêutico na área da farmacovigilância, a necessidade de ‘feedback’ por parte do SNF para cada caso notificado e sobre o impacto da notificação do ponto de vista regulamentar.
“É desejável inverter esta tendência de subnotificação entre os profissionais de saúde, mesmo que os medicamentos colocados hoje no mercado tenham um perfil de segurança mais robusto do que no passado”, concluem os autores.
Intitulado “Motivação e Conhecimento dos Farmacêuticos Comunitários Portugueses para a Notificação de Suspeitas de Reações Adversas a Medicamentos”, o estudo é da autoria dos investigadores Renato Ferreira da Silva, João Miguel Alves, Carina Vieira, Ana Marta Silva, Joana Marques, Manuela Morato, Jorge Junqueira Polónia e Inês Ribeiro Vaz.