De acordo com um ensaio coordenado pelo Hospital Can Ruti de Badalona, em Barcelona, e publicado pelo “New England Journal of Medicine”, o antiviral Remdesivir mostrou ser eficaz contra a covid-19, caso seja administrado antes de os pacientes necessitarem de ventilação mecânica.
O estudo foi “duplo-cego”, portanto nem os pesquisadores, nem os pacientes sabiam se estavam a tomar Remdesivir ou o placebo.
O medicamento reduziu em 31% o tempo de hospitalização dos pacientes com covid-19. O grupo que recebeu Remdesivir recuperou mais depressa do que o grupo que recebeu placebo, reduzindo em quatro dias (de 15 para 11) a permanência no hospital. A melhoria ocorreu principalmente em pacientes que tinham falta de oxigénio no sangue (insuficiência respiratória), mas que ainda não necessitavam de ventilação mecânica.
O estudo foi apoiado pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infeciosas dos Estados Unidos (IAID), e teve a participação de 68 centros hospitalares, dos quais 47 são dos Estados Unidos e 21 da Europa e Ásia. No total, foram 1.059 os participantes, dos quais 538 receberam Remdesivir e 521 apenas placebo, por um período de 10 dias.
“Os resultados salientam a necessidade de identificar os casos de covid-19 o mais rápido possível, para que o tratamento antiviral possa ser acompanhado e iniciado antes que a doença pulmonar progrida tanto que seja necessária ventilação mecânica invasiva”, explicou Roger Paredes, coordenador do estudo em Espanha.
O artigo clínico indica também que o grupo de pacientes que recebeu o medicamento registou uma redução de 30% nos casos de mortalidade, segundo dados recolhidos 14 dias após o início do estudo. Relativamente aos efeitos adversos, 21,1% das pessoas que receberam o medicamento experimentaram esses efeitos, em comparação com 27% no grupo placebo.
Os autores do estudo sublinham que os resultados do estudo apoiam o uso de Remdesivir em pacientes hospitalizados por covid-19 e que necessitam de oxigénio suplementar, mas que o Remdesivir não é suficiente por si só para curar esta doença.
“A mortalidade ainda é alta, por isso é preciso continuar a trabalhar. Agora, temos um medicamento que funciona, embora tenha efeitos moderados e precisamos procurar outros medicamentos que possamos combinar para obter resultados ainda melhores”, afirmou Roger Paredes, que acrescentou que “é um ponto de partida ter o primeiro medicamento que demonstra eficácia”, o que dará “muitas pistas” para futuros estudos.
Gilead pretende disponibilizar remdesivir globalmente
A Gilead Sciences, biofarmacêutica detentora do medicamento Remdesivir, emitiu no principio de maio um comunicado a indicar que desde que a U.S. Food & Drug Administration emitiu uma Autorização de Utilização de Emergência para este fármaco, estão a trabalhar para disponibiliza-lo a nível global.
O objetivo da Gilead é tornar o Remdesivir disponível e acessível aos governos e doentes em todo o mundo, quando autorizado pelas autoridades regulamentares.
A farmacêutica indicou estar em conversações com algumas das principais empresas farmacêuticas mundiais sobre a sua capacidade de produzir e licenciar o Remdesivir para a Europa, Ásia e países em desenvolvimento até 2022.
Para além disso, a empresa está em negociações “com a UNICEF para utilizar a sua vasta experiência no fornecimento de medicamentos a países de baixo e médio rendimento durante crises de emergência e humanitárias, no sentido de fornecer Remdesivir utilizando redes de distribuição já bem estabelecidas”, explicam na nota divulgada.