Foi hoje apresentado um estudo, promovido pela Associação Nacional das Farmácias (ANF) e conduzido pelo Centro de Estudos e Avaliação em Saúde (CEFAR), que avaliou o impacto da participação das farmácias comunitárias na campanha de vacinação sazonal. Os objetivos foram caracterizar a população elegível para a vacinação sazonal gratuita nas farmácias em 2023/24 no âmbito da colaboração com o Serviço Nacional de saúde (SNS), assim como avaliar o impacto da participação das farmácias comunitárias na campanha e gerar conhecimento para a preparação das campanhas de vacinação sazonal futuras.
Os resultados obtidos sugerem que a vacinação nas farmácias reduziu barreiras no acesso à vacinação, melhorou a satisfação das pessoas com o processo, libertou recursos no SNS, gerou poupanças económicas para o utente e poderá ter impactado positivamente a cobertura vacinal da população.
Constatou-se ainda, como referido no estudo, que “a capacidade técnica e científica dos farmacêuticos, associado à sua proximidade das pessoas e distribuição capilar no país, com horários alargados, permitiram potenciar a melhoria do acesso aos serviços de saúde (vacinação e outras atividades fundamentais dos Cuidados de Saúde Primários) e contribuir para a literacia da população, reduzindo barreiras existentes que a literatura refere como afetando a vacinação”.
Contexto
Portugal foi um dos primeiros países na Europa a incluir as farmácias comunitárias nos locais autorizados à administração de vacinas não incluídas no Programa Nacional de Vacinação e administradas por farmacêuticos.
No período pós-pandémico, segundo o referido no estudo, a transição de um modelo de vacinação sazonal excecional, “centrado em grandes centros de vacinação, para o modelo de vacinação focado nas unidades de saúde, exigia um enorme desafio às autoridades. A par da passagem da vacinação contra a COVID-19 para estas unidades e do alargamento da vacinação gratuita contra a gripe à população 60-64 anos, surgia também o risco de redução substantiva da adesão à vacinação, resultante do aumento da hesitação na vacinação, um fenómeno descrito à escala global”.
O Governo decidiu, assim, alargar a campanha de vacinação sazonal às farmácias comunitárias nas mesmas condições de gratuitidade verificadas nas Unidades dos Cuidados de Saúde Primários (CSP)
Números de vacinação e cobertura vacinal
– O número de pessoas a vacinar aumentou para cerca de três milhões, com a inclusão do grupo 60-64 anos (mais cerca de 600 mil pessoas relativamente à época anterior).
– Verificou-se a administração de quase 4,5 milhões de vacinas nos cerca de 3.500 pontos de vacinação – nos cuidados de saúde primários e farmácias comunitárias – distribuídos pelo território nacional.
– A cobertura vacinal nos mais de 65 anos foi de 72,1%, mantendo a cobertura do ano anterior (72,2 em 2022/23).
– Gripe: Quase 2,5 milhões (2.494.957) de pessoas vacinadas. Destas, 70% fizeram-no nas farmácias comunitárias.
– COVID-19: Quase 2 milhões (1.992.260) de pessoas vacinadas. Destas, 69% ocorreu nas farmácias comunitárias.
Proximidade e acessibilidade
– O alargamento da campanha de vacinação sazonal em 2023/2024 às farmácias comunitárias permitiu o aumento da disponibilidade física de locais de vacinação em mais de 400% face a 2022/2023.
– A campanha decorreu em 3.500 pontos de vacinação, dos quais 1.000 unidades são do SNS e 2.488 são farmácias comunitárias (88% do total de farmácias em Portugal continental).
– A distância média a que as pessoas vivem do local mais próximo de vacinação, com a inclusão das farmácias comunitárias, foi de 1,2 km.
– A redução da distância, decorrente da inclusão das farmácias comunitárias na campanha de vacinação sazonal, poderá ter impactado positivamente a cobertura vacinal contra a gripe.
Poupança para o utente e impacto na atividade assistencial do SNS
– A maioria dos participantes (94,8%) mostram-se confiantes com a toma das vacinas contra Gripe e contra a COVID-19 administradas nas farmácias comunitárias.
– Estimou-se uma poupança para os utentes em deslocações (inclui transportes públicos, carro e táxi) na ordem dos 2,4 milhões de euros.
– A nível do potencial impacto na atividade assistencial do SNS, estima-se que os 2.976.842 atos de vacinação realizados nas farmácias tenham libertado cerca de 310.000 horas de trabalho de recursos humanos do SNS que terão ficado disponíveis para outros atos.
Hesitação em 2023/2024 e o futuro vacinal
Tendo em conta a hesitação vacinal, procurou-se, através da aplicação de um questionário, conhecer a intenção vacinal da população elegível para vacinação gratuita nas farmácias comunitárias (≥60 anos).
– Gripe: 72,58% das pessoas, com idade igual a superior a 60 anos, demonstrava aceitação vacinal nesta campanha, 17,43% hesitação e 9,99% recusa vacina.
– COVID-19: 68,15% das pessoas, com 60 ou mais anos, demonstrava aceitação vacinal nesta campanha, 23,34% hesitação e 8,51% recusa.
Em suma, como destacado no estudo, “a efetividade das campanhas de vacinação sazonal enfrenta enormes desafios, tanto em Portugal como globalmente. É, nesse sentido, fundamental que, apesar dos benefícios que os resultados sugerem, decorrente das opções tomadas na época 2023/2024, sejam desenvolvidas novas intervenções e ações que envolvam todos os agentes e a população”.