Estudos apontam que o tratamento com células estaminais está relacionado com melhor esperança e qualidade de vida no período pós-transplante 197

A BebéVida, banco de tecidos e células estaminais, destaca o papel do tratamento com células estaminais para garantir uma melhor esperança e qualidade de vida em doentes pediátricos com leucemia, especialmente no período pós-transplante. Esta mensagem de sensibilização surge no âmbito do Dia Internacional da Criança com Cancro, que se assinala a 15 de fevereiro.

O cancro é, mundialmente, a principal causa de morte nas crianças e adolescentes, com cerca de 300 000 casos diagnosticados por ano em todo o mundo.[1] Em Portugal, os números apontam para uma média de 350 novos casos anuais, com destaque para as leucemias, tumores dos sistemas nervoso e linfomas[2].

“O cancro desenvolve-se em pessoas de todas as idades e pode afetar qualquer parte do corpo. Inicia-se com alterações numa única célula que irá proliferar fora de controlo, podendo resultar numa massa (ou tumor). Contrariamente aos adultos, a grande maioria dos cancros infantis não tem causa conhecida, apesar de dados atuais sugerirem que aproximadamente 10% de todas as crianças com cancro apresentam uma predisposição devido a fatores genéticos. Um dos principais desafios no que respeita o cancro infantil passa assim por uma identificação precoce, para uma gestão do tratamento, numa maior probabilidade de sobrevivência e menor sofrimento.” menciona Andreia Gomes, responsável pela Unidade de I&D da BebéVida.

Entre as diferentes tipologias do cancro infantil, a leucemia é dos que apresenta uma maior incidência, sendo caracterizado como um cancro das células mais primitivas da medula óssea – as células estaminais. E, dentro dos vários tipos de leucemia, os que mais afetam as crianças são as leucemias agudas como a leucemia linfoblástica aguda (tipo mais comum de leucemia em idade pediátrica) e a leucemia mieloide aguda (afeta crianças e adultos).

A BebéVida destaca o papel que as células estaminais do cordão umbilical podem ter no tratamento da leucemia, sendo já consideradas um reforço robusto no tratamento desta patologia em crianças. No estudo publicado na revista científica “Blood Advances”, em 2019, foi possível constatar esta realidade. Os dados relevam que o sangue do cordão umbilical é uma fonte de células importante no tratamento de doentes pediátricos com leucemia mieloide aguda, relacionando-se com melhor esperança e qualidade de vida no período pós-transplante. Referindo que foi ainda avaliada a segurança destes transplantes, em que os resultados demonstraram que as crianças que receberam o transplante de sangue do cordão umbilical apresentaram melhores resultados comparativamente às tratadas com medula óssea de um dador não familiar.[3]

“A leucemia aguda infantil ainda tem um mau prognóstico e o transplante alogénico de células estaminais hematopoéticas é o tratamento indicado. Desta forma, o sangue do cordão umbilical é uma fonte de células atrativa para esta população porque apresenta baixo risco de doença do enxerto contra hospedeiro crónica e disponibilidade imediata.” destaca ainda Andreia Gomes. Adicionalmente, um ensaio clínico com 157 crianças com leucemia linfoblástica aguda e 95 crianças com leucemia mieloide aguda demonstrou que em crianças com mau prognóstico, estas devem ser transplantadas assim que alcancem o estado de remissão completa, uma vez que o transplante nesta fase está associado a um menor risco de reincidência. As crianças que apresentem a primeira reincidência devem ser transplantadas com o sangue do cordão umbilical assim que o segundo estado de remissão completa for alcançado.[4]

Em relação à medula óssea e ao sangue periférico, o sangue do cordão umbilical apresenta uma maior capacidade de proliferação e maior número de células estaminais hematopoiéticas por unidade de volume, menor requisito de compatibilidade (HLA), menor risco de doença do enxerto contra o hospedeiro e infeção. Acresce ainda a vantagem de a colheita deste sangue ser não invasiva, indolor e sem qualquer tipo de risco para o dador (mãe e bebé), pela capacidade de armazenamento por longos períodos e disponibilidade imediata para transplante, englobando algumas das caraterísticas do sangue do cordão umbilical que o definem como uma excelente alternativa de fonte de células estaminais.

A investigadora Andreia Gomes acrescenta ainda que “a associação entre estas vantagens do sangue do cordão umbilical com os variados estudos científicos que avaliam a sua eficácia e segurança, indica e apoia a necessidade de um maior investimento no estudo do sangue do cordão umbilical por todas as suas características diferenciais e benéficas no tratamento de várias patologias, nomeadamente o cancro”.

[1] Steliarova-Foucher, E. et al. International incidence of childhood cancer, 2001-10: a population-based registry study. The Lancet Oncology, 719-731, doi:10.1016/S1470-2045(17)30186-9 (2017).
[2] Portal de Informação Português de Oncologia Pediátrica (www.pipop.info)
[3] Keating, A. K. et al. The influence of stem cell source on transplant outcomes for pediatric patients with acute myeloid leukemia. Blood Advances, 1118-1128, doi:10.1182/bloodadvances.2018025908 (2019).
[4] Ruggeri, A. et al. Unrelated Cord Blood Transplantation for Acute Leukemia Diagnosed in the First Year of Life: Outcomes and Risk Factor Analysis. Biology of blood and marrow transplantation : journal of the American Society for Blood and Marrow Transplantation, 96-102, doi:10.1016/j.bbmt.2016.10.014 (2017).