Três estudos recentes da Universidade de Aveiro (UA) sobre a aplicação da terapia fágica na inativação de bactérias associadas a infeções urinárias mostram que esta via terapêutica pode ser eficaz contra estirpes bacterianas resistentes aos antibióticos.
Os estudos, desenvolvidos pelo Departamento de Biologia e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), coincidem com a também recente aprovação pela Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed) da terapia fágica, usando vírus que infetam especificamente bactérias, sublinha um comunicado da UA, a que a Lusa teve acesso.
O tratamento convencional destas infeções consiste no uso de antibióticos, prossegue o comunicado, assinalando que “muitas das bactérias que causam infeções urinárias, adquiridas tanto no ambiente hospitalar como na comunidade, são resistentes a antibióticos, o que dificulta o seu tratamento”.
Neste contexto, assinala a nota, “precisam-se terapias alternativas”, sendo que a “terapia fágica, que utiliza vírus que infetam especificamente bactérias (bacteriófagos, ou simplesmente fagos), tem surgido como uma solução eficaz contra estirpes bacterianas resistentes aos antibióticos, podendo substituir ou complementar a terapia antibiótica convencional”.
Em 2018, a Bélgica tornou-se no primeiro país da Europa Ocidental a aprovar o uso da terapia fágica para tratar infeções causadas por bactérias resistentes a antibióticos e Portugal seguiu recentemente o mesmo caminho, quando o Infarmed aprovou o uso da terapia fágica no país.
Os resultados do primeiro estudo da CESAM revelaram que “os fagos, tanto isoladamente como combinados em cocktail, mostraram elevada eficácia, mesmo em amostras de urina, atingindo uma inativação de 99% após quatro horas de tratamento. Estes resultados motivaram a realização de novos estudos com outras bactérias implicadas em infeções urinárias”, lê-se.
No segundo estudo foi isolado um novo fago e testado contra uma estirpe de Klebsiella pneumoniae produtora de carbapenemases. Os resultados corroboraram os resultados obtidos no primeiro estudo, demonstrando que o fago foi eficaz na inativação da bactéria e manteve a sua atividade em condições de pH baixo, como ocorre na urina, observando-se uma inativação de 99,99% após nove horas de tratamento, continua o comunicado.
No terceiro estudo foram avaliados dois fagos isoladamente e em combinação (cocktail) contra Pseudomonas aeruginosa na sua forma livre (células planctónicas) e em biofilmes em urina.
Adicionalmente, foi analisado o efeito do tratamento combinado de um dos fagos com o antibiótico ciprofloxacina na inativação de biofilmes de ‘P. aeruginosa’ formados em urina. Os resultados deste terceiro estudo mostraram que o tratamento com fagos foi altamente eficaz na inativação de biofilmes de ‘P. aeruginosa’ em urina, alcançando uma redução 10 vezes superior ao estudo anterior, de 99,999%, após quatro horas de tratamento.
Neste estudo, os melhores resultados foram obtidos utilizando apenas fagos, comparativamente aos resultados obtidos usando apenas antibiótico ciprofloxacina ou mesmo o tratamento combinado dos fagos com a ciprofloxacina que não aumentou a inativação de P. aeruginosa, conclui a descrição.
A equipa de investigação do Laboratório de Microbiologia Aplicada do Departamento de Biologia e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da UA abrangeu Adelaide Almeida, líder de equipa e professora do Departamento de Biologia, Carla Pereira, Pedro Costa, Márcia Braz, João Duarte, Carolina Máximo, Ana Brás e Inês Martinho.