Estudos: Tratamento de AVC pouco utilizado reduz 6% das mortes 586

22 de Outubro de 2015

Um tratamento de AVC, que remove o coágulo do cérebro através de um cateterismo, permite reduzir o número de mortes em 6% e, a metade dos doentes, retomar a sua vida normal, segundo estudos científicos publicados este ano.

 

Este tratamento já existe há alguns anos e está disponível em vários hospitais públicos, mas a técnica não era usada de forma rotineira, porque a sua eficácia ainda não estava comprovada, explicou à “Lusa” Joana Graça, organizadora do Congresso Nacional de Neurorradiologia, que decorre de 23 a 25 de outubro, onde este e outros temas relacionados com o AVC (Acidente Vascular Cerebral) vão ser debatidos.

 

Publicados este ano no “The New England Journal of Medicine”, estudos científicos sobre o cateterismo arterial, ou trombectomia mecânica, vieram provar a eficácia deste tratamento e demonstrar que é «possível diminuir significativamente o número de mortes (6%) por AVC e permitir que cerca de 50% das pessoas que sofreram um AVC possam retomar a sua vida normal».

 

«Os estudos começaram a sair no início do ano e a Sociedade Europeia de Neurorradiologia começou a recomendar o tratamento», disse a médica, considerando que é necessário desenvolver a urgência da neurorradiologia nos hospitais, porque esta técnica tem de ser feita o mais rapidamente possível após o início dos sintomas.

 

Este tratamento deve ser realizado idealmente até às seis horas após o início dos sintomas, mas em casos selecionados pode estender-se até às 12 horas após o início do AVC.

Trata-se de uma técnica realizada por médicos neurorradiologistas que consiste no cateterismo cerebral, ou seja, na navegação no interior dos vasos sanguíneos com dispositivos que vão diretamente ao local da oclusão e permitem a remoção do coágulo.

 

Em Portugal, o Hospital de São José foi pioneiro na utilização desta técnica, que atualmente já é praticada também nas unidades hospitalares de Santo António, São João, Braga, Gaia, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, bem como, a sul do país, nos hospitais de Santa Maria, Garcia de Orta e Egas Moniz.

 

Os estudos de análise custo-eficácia revelaram que, apesar do custo inicial desta terapêutica ser elevado para o Estado, a longo prazo é eficaz e sai mais barato – tendo em conta os ganhos em anos de vida com qualidade -, do que tratar as consequências de um AVC que deixe doentes dependentes de onerosos cuidados de saúde, explicou Joana Graça.

 

O XI Congresso Nacional de Neurorradiologia, organizado pela Sociedade Portuguesa de Neurorradiologia (SPNR), que decorrerá no Campus Universitário de Aveiro, vai também atribuir pela primeira vez o Prémio Egas Moniz em Neurorradiologia.

 

Este prémio bienal, criado pela SPNR, vai ser formalmente apresentado no dia 22, altura em que decorrerá a assinatura protocolar da constituição do prémio que assinala o 70º Aniversário do Prémio de Oslo (desenvolvimento da Angiografia Cerebral) e do 25º Aniversário da SPNR. A atribuição do prémio terá lugar durante o congresso.