Ex-Ministra da Saúde da Guiné-Bissau entrevistada pela FMUC: “As pessoas já se esqueceram do sufoco que vivemos de março a julho de 2020” Magda Robalo fala sobre a pandemia de COVID-19, o seu trabalho na luta pela igualdade de género e o estado da Saúde na Guiné-Bissau 156

Médica de Saúde Pública e especialista em doenças infeciosas, Magda Robalo tem tido vários cargos de liderança na área da Saúde, com destaque na atuação na promoção da igualdade de género e do acesso equitativo a cuidados de saúde de qualidade. Em entrevista à newsletter VoiceMED, da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), a presidente e cofundadora do Institute for Global Health and Development (IGHD) elenca as principais iniciativas desta fundação e fala sobre a importância de uma maior aposta na promoção da investigação científica na Guiné-Bissau.

Enquanto ministra da Saúde, Magda Robalo tutelou a preparação da resposta nacional à pandemia de COVID-19 na Guiné-Bissau. De acordo com a ex-ministra, o maior desafio encontrado foi a gestão da desinformação e da bipolarização da sociedade, que levaram a constrangimentos na adesão às medidas de prevenção e na aceitação do confinamento, encerramento de instituições e redução da mobilidade. Para superar o desafio, foram mobilizados todos os líderes de opinião tradicionais e religiosos, associações de jovens e mulheres e vários grupos profissionais.

Foram ainda estabelecidas colaborações com outros países para colmatar as limitações do Sistema de Saúde da Guiné-Bissau. Ministério da Saúde, Embaixada de Portugal na Guiné-Bissau, Instituto Camões, Instituto de Higiene e Medicina Tropical, Instituto Nacional de Saúde, foram algumas das entidades portuguesas que prestaram apoio na formação de técnicos e, em certos casos, no acompanhamento e gestão de doentes à distância.

Enquanto presidente e cofundadora do IGHD, Magda Robalo tem como prioridade a igualdade de género e o acesso a oportunidades. De acordo com a ex-ministra, “as mudanças legislativas nem sempre são seguidas de mudanças comportamentais, mas penso que as mulheres são portadoras da vontade de transformação de comportamento que nos levará a uma sociedade mais justa, na qual mulheres e homens são avaliados pelas suas competências e valorizados de igual forma”.

Outra prioridade do IGHD é o acesso equitativo a cuidados de saúde de qualidade. A médica de saúde pública refere que “o sistema de saúde na Guiné-Bissau está todo por construir. Temos infraestruturas obsoletas, não temos um hospital moderno, não temos centros de saúde adequados, devidamente equipados, temos carência de recursos humanos… está tudo por construir”. Magda Rebelo faz ainda referência ao que acredita ser um dos maiores desafios do país: “as taxas de mortalidade materna e de mortalidade infantil são extremamente elevadas. Muitas mulheres jovens continuam a perder as suas vidas ou a dos seus recém-nascidos durante a gravidez e no parto”.

Com a construção de um centro de pesquisa, cujo trabalho será desenvolvido em estreita cooperação com o Ministério da Saúde da Guiné-Bissau e o Hospital de Cumura, o IGHD pretende tornar a investigação um elemento central das políticas de saúde do país.